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Futsal repete basquete, e CBFS cria Brasileirão para concorrer com a Liga

Duas novelas idênticas correm paralelamente no esporte brasileiro. Como no basquete, a confederação de futsal lançou um Campeonato Brasileiro "oficial", em parceria com uma agência, para tirar times de uma bem-sucedida liga de clubes usando como argumento que o torneio dela é o único caminho para as competições internacionais.

"Para mim, a Liga [Futsal] não existe. Em termos de trabalho que eu faço, não existe. Não estamos preocupados com liga. Ela tem a vida dela e nós temos a entidade oficial. Nós estamos fazendo campeonato não para fazer concorrência, mas para pôr em prática uma ideia que eu tinha desde que cheguei aqui, em 2015", diz Marcos Madeira, presidente da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS).

A entidade é uma anomalia no sistema da Fifa. Cada país só pode ter uma federação nacional filiada, que abarque todas as versões do futebol (de campo, futsal, de areia, etc), mas, no Brasil, a CBF por décadas repassou à CBFS a responsabilidade sobre o futsal.

Tal acordo foi rompido no fim de 2021, com a CBF assumindo as seleções adultas, o registro de jogadores e o quadro de arbitragem, e chancelando a Liga Futsal como campeonato brasileiro masculino. A CBF, porém, voltou atrás quando passou a ser arrolada no polo passivo das enormes dívidas da CBFS, e ficou só com as seleções.

Quem cuida do que?

A Liga Futsal foi criada em 1996 pela CBFS e, desde 2015, é administrada por uma liga independente de clubes, a LNF, inicialmente com anuência da CBFS. Mas, após a breve intervenção da CBF, as responsabilidades sobre a modalidade foram divididas.

A CBF seguiu com a representação internacional das seleções, a Liga Futsal assumiu o registro de atletas e o quadro de arbitragem de sua competição, e a CBFS continuou cuidando da base e de torneios menores, como a Taça Brasil, a Copa do Brasil, e a Supercopa do Brasil.

Liga e CBFS, porém, entraram em conflito sobre quadro de arbitragem e a confederação ameaçou tirar o selo Fifa dos melhores árbitros do país se eles continuassem trabalhando na Liga Futsal. Assim como a disputa entre dois STJDs minou as relações entre LNB e CBB no basquete, a falta de entendimento sobre os árbitros foi o estopim para o rompimento entre LNF e CBFS.

Dois campeonatos brasileiros

A reação da CBFS foi anunciar a criação de um novo "Campeonato Brasileiro", em parceria com a agência Sports Hub, que se apresenta como a responsável por trazer o VAR ao Brasil. Cabe à empresa buscar patrocinadores e parceiros de mídia. "Fizemos um convênio com uma empresa fortíssima. Não vou entrar no escuro. Eles [os antigos presidentes da CBFS] erraram tudo que poderiam errar, eu não posso errar mais", diz Madeira.

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Ele afirma que não pode dar detalhes sobre o campeonato, mas cita que "a procura é tanta que vai faltar vaga", que os clubes "vão ganhar alguma coisa", inclusive uma "premiação razoável" e que o torneio terá um "padrão CBFS", com jogos apenas em quadras de tamanho oficial.

Corrigindo todas as vezes que este repórter usou a palavra "torneio" para se referir ao Brasileiro, Madeira bate na tecla que o seu "campeonato oficial" não será "elitizado" e restrito ao Sul e ao Sudeste, uma crítica ao fato de a Liga Futsal contar somente com clubes dos três estados do Sul, de São Paulo e Minas Gerais.

Ele confirmou informação publicada antes pela Máquina do Esporte, que a CBFS busca os chamados "time de camisa", hoje praticamente ausentes da Liga Futsal, com exceção do Corinthians, atual campeão. Seria uma forma de entrar no Nordeste, pelo mesmo caminho percorrido no basquete, que tem Fortaleza no NBB e Sampaio Corrêa na Liga Feminina.

Se a Liga Futsal teve Vasco da Gama e Atlético-MG como potências em seus primórdios, um título do Santos em 2011 e participação importantes de São Paulo e Internacional ao longo de sua história, com o tempo esses times foram sendo substituídos por equipes de cidades ricas do interior, como Sorocaba, Joinville, Uberlândia, São José dos Campos e Cascavel. Só Corinthians e Minas jogam em capitais.

Liga Futsal reage

"A gente acha que a Liga tem o tamanho suficiente para viver de voo solo igual ela tem vivido. Ano que vem, a gente completa 10 anos como liga independente. A gente está querendo ampliar a base de associados, com a liga de acesso. Também vamos fazer um campeonato de base de longa duração, para fazer confrontos entre todos os estados", diz Norberto Mello, CEO da Liga Futsal.

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Se a CBFS avança sobre a seara da Liga, esta responde se oferecendo para assumir duas responsabilidades que deveriam ser da CBFS. Ainda que o país tenha dezenas de equipes profissionais, com duas divisões em diversos estados, só as 24 equipes da Liga Futsal jogam um torneio nacional de calendário anual. Daí a proposta de uma liga de acesso. Além disso, uma competição nacional de base é demanda antiga dos clubes, que perdem centenas de jovens atletas todos os anos para o exterior porque eles não têm o que jogar por aqui.

Do outro lado, a CBFS diz que só o campeonato dela vai classificar à Libertadores, o que seria um atrativo para os principais clubes, como o Corinthians, que pode ser o fiel da balança. A Liga, porém, acredita que vai sair vencedora nessa queda de braço.

"Temos que mostrar que o nosso produto é muito bom. Tem patrocinadores, as melhores equipes do país de maior invesitmento. São essas equipes que levam o nome do futsal pelo país todo. Isso é o mais importante para a modalidade. Eu acredito que se os franqueados mostrarem força, que essa é a competição que vale a pena partiicpar, não haverá espaço para ter outras competições. Mesma coisa que ter a CBF fazendo o Brasileirão e a liga fazer outro Brasileirão. Não existe calendário, nem recurso financeiro para isso", avalia Mello.

Reportagem

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