Termômetro olímpico, Pan 2023 classifica e mede o clima para Paris
Medalhista de bronze nas Olimpíadas de Tóquio, Laura Pigossi tem dois caminhos para chegar a Paris. Um, mais longo, que é subir no ranking de simples da WTA, pulando do 120º lugar para dentro do top 100. O outro é mais curto: chegar à final do Pan de Santiago, que começa oficialmente na sexta (20).
O tênis, que distribui vagas aos finalistas de simples, é só uma das 21 modalidades em que os Jogos Pan-Americanos valem como Pré-Olímpico. Em vários casos, o torneio não é só o caminho mais curto até Paris, mas o único possível de ser percorrido.
É o caso do hipismo CCE, que já tem 14 equipes classificadas para Paris. Faltam duas, da cota das Américas, que sairão do Pan. "Desde que o Brasil começou a ter uma equipe de CCE, a gente conseguiu vaga para todas as Olimpíadas. Desde Atlanta, sempre conseguimos classificar, e o Pan é o principal caminho para isso", explica Ricky Candi, atleta de CCE, e que será comentarista do Pan na Cazé TV.
Apesar dessa presença constante nos Jogos Olímpicos, o CCE tem pouca visibilidade no Brasil. E o Pan é uma rara oportunidade de aparecer para fora da bolha equestre. "As provas de cross são locais onde é mais difícil você conseguir atrair público, atrair câmeras de televisão. Nos saltos [outra modalidade do hipismo], você coloca duas câmeras na arena e filma a competição inteira. O cross do Pan deve ter ao menos oito minutos. Quantas câmeras precisa para o percurso todo? É muita coisa", argumenta.
O Pan classificará duas equipes de CCE, mas os EUA, que são potência regional, não entram na conta porque já estão classificados. No adestramento, a situação é a mesma. Nos saltos são três vagas, mas o Brasil já se garantiu em Paris.
Salto até Paris
Já os saltos ornamentais, que tem nome parecido, mas prática muito diferente, classifica os campeões de cada prova individual às Olimpíadas. Se o medalhista de ouro já estiver classificado, nada muda. É o caso de Ingrid Oliveira e Isaac Souza, que conquistaram a vaga ao chegaram às finais da plataforma no Mundial de Fukuoka.
"Só uma vez o Brasil chegou ao fim do ano pré-olímpico com um atleta classificado: em 2007, o Cesar [Castro]. Agora temos dois, então está ótimo", diz Ricardo Moreira, técnico da seleção. Com EUA, Canadá e México levando suas equipes principais ao Pan, a chance de um ouro (e vaga olímpica) que não com Ingrid e Isaac é baixa.
Isso não faz o torneio menos importante no ciclo até Paris, contudo. "Por ser uma competição tão forte, é uma excelente referência. Estar aqui no Pan, competir uma final, ficar entre os seis é grande resultado para a gente. Mas a gente vem buscando medalhas, tem chance de medalha, e esperamos sair com pelo menos duas", continua Moreira.
Se classificar para uma final de Mundial é difícil, o Pan é uma oportunidade de competir por uma medalha tendo como rivais alguns dos melhores do mundo. "Isso é muito importante porque dá para avaliar bem como está nosso posicionamento, nosso desenvolvimento de forma geral", afirma.
Chance de se medir
Essa é uma situação comum em modalidades que contam nos dedos os Top 10 em Mundiais e Olimpíadas. Para elas, o Pan é uma oportunidade importante de medir a própria evolução.
É o caso da esgrima: "Reconhecemos EUA como maior potência, isolado na frente, e brigamos na frente com Canadá e Venezuela. Antes tinha a Argentina, que já não briga conosco. Estamos disputando segundo ou terceiro posto. É uma evolução. Estávamos em quarto, quinto. Claro que em termos mundiais a realidade é outra", afirma Ricardo Machado, presidente da Confederação Brasileira de Esgrima.
A modalidade espera conquistar até seis medalhas no Pan, o que seria um recorde, mas muito dificilmente terá o mesmo número de vagas em Paris.
Tudo ou nada
O Pan é classificatório às Olimpíadas em três modalidades coletivas, e o Brasil vai a Santiago na base do tudo ou nada nelas — ou quase isso. No polo aquático, a vaga é muito difícil no masculino, e praticamente impossível no feminino. As equipes brasileiras nem foram ao Mundial, para guardar recursos visando a uma melhor preparação para o Pan, sonhando especialmente com a classificação das mulheres.
Mas o Mundial reservou uma surpresa: os EUA, maior potência do polo feminino, caíram nas quartas de final e não conquistaram a vaga olímpica. Agora, concorrem pela classificação no Pan, o que torna a disputa um tanto quanto desequilibrada. No masculino a distância é menor, mas ganhar de EUA e Canadá também é tarefa muito difícil.
No hóquei sobre a grama, o Brasil só disputa no masculino. Também precisa do ouro, jogando contra a Argentina, campeã olímpica de 2016. Será só a terceira vez da seleção brasileira no Pan, repetindo o Rio-2007, quando só perdeu, e Toronto-215, quando conquistou um histórico quarto lugar.
Já o handebol há anos usa o Pan como caminho até as Olimpíadas. No feminino, é o atual hexacampeão e favorito ao hepta, ainda que não possa contar com alguns destaques como a goleira Babi, que não foi liberada pelo seu clube em meio à Champions League. No masculino, venceu em 2003, 2007 e 2015, mas vem de um frustrante bronze em Lima-2019. Só foi a Tóquio, depois, porque teve a chance de se vingar do Chile no Pré-Olímpico Mundial.
Onde tem vaga em jogo?
Sem uma federação internacional para organizar a competição de boxe das Olimpíadas e, consequentemente, os Pré-Olímpicos, o Pan serve como único classificatório regional do boxe. Serão 14 vagas masculinas e 16 femininas em jogo, classificando finalistas em todas as categorias e semifinalistas em duas das subdivisões femininas.
O Brasil tem esperança que Silvana Lima fique com a vaga em disputa no surfe feminino — Tati Weston-Webb já está classificada — e deve brigar pelas vagas dadas aos finalistas de duplas mistas no tênis de mesa. Breaking, escalada e nado artístico classificam campeões, mas aí as chances são menores.
Na ginástica rítmica o Brasil já tem o máximo de vagas possíveis em Paris, assim como na ginástica artística feminina. Na masculina, o melhor do individual geral, exceto Diogo Soares, canadenses e americanos, já classificados, também carimbam passaporte. Arthur Nory vai tentar essa vaga.
O maior número de vagas, porém, deve vir da vela. Martine Grael e Kahena Kunze ainda não estão classificadas e só precisam ser o melhor barco das Américas do Sul e Central.
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