COB paga 6x mais por resultados do Pan e transforma torneio em prioridade
Ganhar uma medalha nos Jogos Pan-Americanos há anos é uma oportunidade de visibilidade para atletas brasileiros. Mas, a partir desta edição, é também uma chance de fazer com que as confederações tenham direito a uma fatia muito maior dos recursos das Loterias descentralizados pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
O Pan ganhou tanta importância nos critérios de distribuição desse dinheiro que uma boa companha no torneio já vale mais do que o sucesso no Mundial adulto. Pode valer mais, inclusive, do que uma boa gestão desses recursos. Entre 2019 e 2023, o peso do Pan aumentou 5,8 vezes.
Como funciona?
O COB tem direito a uma porcentagem do arrecadado pela Caixa com as Loterias. Para 2023, a projeção era receber R$ 395 milhões. Uma parte desse dinheiro a entidade utiliza para pagar suas despesas administrativas, outra investe em missões como do próprio Pan, e uma fatia expressiva (R$ 201 milhões este ano) o comitê repassa às confederações. Metade como piso, igual para todas, e metade por mérito.
A divisão desse segundo montante é feita a partir de critérios previamente estabelecidos, que levam em conta resultados nos Jogos Olímpicos, em Mundiais adultos, Mundiais Sub-21 e Jogos Pan-Americanos, a qualidade das prestações de contas, e um parâmetro administrativo conhecido como GET (Gestão, Ética e Transparência).
Em 2021, uma revisão desses critérios, proposta por um grupo de estudos, alterou o peso de cada um desses fatores. O Pan, que valia só 3,91%, passou a valer cada vez mais, até chegar a 22,83% em 2024, quando começarão a ser levados em consideração os resultados de Santiago. Na contramão, o peso das outras competições caiu, especialmente dos Mundiais de base.
Como isso impacta o desempenho?
Para entender a distribuição, é mais fácil pensar esse números como pontos, não porcentagens. Se todas as confederações, juntas, somaram 400 pontos ao fim do ano, e uma em específico somou 20, então ela tem direito a 5% dos R$ 100 milhões a serem distribuídos por mérito.
Em 2019, por exemplo, só vôlei, ginástica e judô somaram mais de 30. Agora, podem ir muito além apenas com Pan. Ginástica e judô devem se aproximar de 20 pontos só em Santiago, aumentando expressivamente a fatia do bolo a que têm direito. As duas modalidades estão levando ao Chile força máxima.
Apenas o critério "Aproveitamento de conquista de medalhas na última edição do Pan" vale até 11,4. O fator é multiplicado pela porcentagem de provas olímpicas em que determinada modalidade medalhou. Se o vôlei ganhar nas quatro (quadra e praia, masculino e feminino), soma os 11,4 máximos. Se deixar de medalhar em uma, 3/4 disso.
O outro critério leva em consideração só medalhas de ouro. Confederações que ganharem cinco ou mais somam 11,4. As que levarem entre três e quatro, metade disso (5,7). E, uma ou duas, 30% disso (3,6). Judô e ginástica estão entre as que devem alcançar a pontuação máxima neste critério, e ao menos 8 pontos no outro. Desportos aquáticos e atletismo também estão nessa briga.
Se o critério for mantido para o próximo ciclo, o que é uma tendência, os resultados de agora vão valer para a distribuição de recursos em 2024, 2025, 2026 e 2027.
Dirigentes elogiam medida e dizem que não impacta convocação
O Olhar Olímpico conversou com três presidentes de confederação sobre os critérios. Eles elogiaram a medida, que valoriza o Pan, e disseram que o incentivo dado às entidades não impacta na convocação nem chega até os atletas.
"A gente já tem um critério há muitos anos. A gente usa o ranking mundial para definir a convocação de dois e a terceira vaga é indicação técnica. Eu entendo que o Pan é importante para o atleta, porque é o momento de ele retribuir o que o país dá a ele", diz Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.
"Com relação à pressão me parece uma pressão positiva. Os Jogos Pan são, depois dos Olímpicos, o evento mais importante do ciclo. Mas o atleta não sofre a mesma pressão. Isso sem duvida é mais voltado para a entidade, é ela que luta pela busca de maior orçamento para atender seus interesses. O atleta sente a pressão de um campeonato importante, mas não é relação direta de orçamento que faz com que ele se sinta pressionado", afirma Ricardo Machado, da Confederação Brasileira de Esgrima.
"Nós fizemos como sempre fazemos. Convocamos os melhores do ranking, e eles podem aceitar ou declinar. A Luisa [Stefani] aceitou porque ela gosta de jogar esses torneios representando o Brasil. Para nós, que dependemos desses aceites para definir a delegação, o critério não ajuda. Mas entendemos que não há um critério que atenda todo mundo igualmente, e este é justo com a maioria, valoriza uma competição que é importante para o movimento olímpico", diz Rafael Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis.
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