Você tem irmão? Então talvez vocês possam ir ao Pan no badminton
Você tem irmãos? Então, estatisticamente, a sua chance de um dia fazer parte da seleção brasileira de badminton, conquistar grandes títulos, chegar aos Jogos Pan-Americanos, depende de ele (ou ela) também chegar lá. Todos os oito convocados pelo Brasil para o Pan 2023 têm irmãos que fazem, ou fizeram, parte da seleção.
Se os nomes de vocês combinarem, a chance é ainda maior. Sania e Samia Lima formam duplas femininas em Santiago, mas cada uma com uma parceira. No masculino, Fabrício Farias foi bronze em Lima-2019 jogando ao lado do irmão, Francielton, mas agora forma dupla com Davi, cujo irmão gêmeo, Deivid, também faz parte da seleção.
Tem sido assim desde 2015, quando Lohaynny e Luana Vicente, duas irmãs gêmeas, deram ao Brasil sua primeira medalha no badminton feminino na história do Pan. Tratadas na imprensa como "irmãs Williams brasileiras", pela cor negra da pele, e pelo sucesso comum no esporte, elas ajudaram a colocar o badminton em evidência, com uma história no esporte que foi se replicando.
"Tem um projeto social ali na Chacrinha, a Miratus, e não tinha muita coisa pra fazer. Esse projeto surgiu e o pessoal foi praticando. E se você pratica você chama seu irmão. Meu irmão veio por causa de mim, ou eu fui por causa do irmão", explica Jonathan Mathias, que, como as irmãs Vicente, foi formado no projeto social da comunidade carioca.
Quando o critério é "irmãos que jogam badminton", Jonathan é campeão. Ele tem quatro, e todos jogam. Gabriel, de 15, está prestes a jogar seu primeiro campeonato nacionas. Luis, 12, e Ester, 9, são campeões sul-americanos. Mas Maria, 7, já quer destronar a irmã e venceu no Estadual do Rio.
"Foi uma guerra dentro de casa. Vejo que meus irmãos estão gostando, falando que minha era já passou. Chego em casa e ao invés de me dar um abraço, querem jogar, falam que querem me ganhar", conta Jonathan, com um indisfarsável sorriso.
A irmandade na comunidade
"O badminton é um esporte familiar. Um irmão entra, outro vai atrás, e normalmente é de projeto social, onde os irmãos estão inseridos. São vários irmãos de projetos. São inseridos no esporte e, neste caso, no badminton", avalia o português Marco Vasconcelos, técnico da seleção brasileira.
A Miratus é o mais conhecido desses projetos. Iniciativa pessoal de Sebastião Dias de Oliveira, revelou as irmãs Vicente, os gêmeos Davi e Deivid, dois grandalhões de 2,02m, e também os dois filhos do treinador: Ygor Coelho, ouro em simples no Pan-2019, primeiro da história do país, e Donnians Oliveira, que está de volta ao badminton — e isso não é uma boa notícia.
Segundo melhor brasileiro no Campeonato Pan-Americano do ano passado, e prata nos Jogos Sul-Americanos, ele havia abandonado as quadras para trabalhar como coordenador da Miratus. Mas o patrocinador saiu, a grana acabou, e ele voltou a ser jogador. "Como o Donnians ficou um ano sem jogar, ele caiu no ranking, e aí não conseguiu vaga", explica Ygor.
O atual campeão do Pan vai além no conceito de irmãos. "Todos eles são como irmãos pra mim. A gente cresceu junto, tem idade parecida. O Davi, o Deived, Jonathan... Badminton é família"
Sangue piauiense
A 2,5 mil quilômetros dali, um enredo muito parecido levou as duplas de irmãos Francielton e Fabrício, Samia e Sania, Juliana e Julia, Jaqueline e Maria Clara à seleção. Os oito são crias da Fundaçåo Nossa Senhora da Paz, um projeto social que ensina badminton e outras modalidades às crianças e adolescentes da Vila da Paz, uma comunidade de Teresina (PI)
"Eu comecei porque meu primo começou brincando na quadra de esportes da escola. Comecei nas aulas da educação física, e depois tomei gosto. Depois minha irmã veio também. Um foi levando o outro. A quadra de badminton era poliesportiva, tinha todos os esportes, e quando a gente começou, a minha rua era na frente da quadra. Era nossa diversão", lembra Samia.
Ela e a irmã até já formaram dupla, mas o jogo delas não encaixa. "A gente se dá bem, até se dá bem dentro de quadra, mas não é aquela coisa, sabe?", continua Samia, que, de qualquer forma, não vai jogar o Pan nas duplas femininas. Jaqueline Lima (cuja irmã Maria Clara é da seleção júnior), sua parceira, teve que ser submetida a uma cirurgia abdominal antes da viagem ao Pan, e foi cortada.
Como não era possível mais alterar as duplas, já que o sorteio havia sido realizado previamente, a melhor dupla do país não entrará em quadra. Sania e Juliana jogam juntas e estreiam hoje contra duas chilenas. A principal esperança de um bom resultado, porém, vem da dupla mistas, que tem o grandalhão Davi e a baixinha Sania.
Em simples, Ygor e Jonathan venceram seus jogos hoje e estão nas quartas de final. Samia, que não gosta de jogar simples, perdeu da favorita Beiwen Zhang, dos EUA. Juliana também foi eliminada. Em duplas masculinas, Davi/Fabrício avançou às quartas.
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