Joia do vôlei, Helena vira estrela no Pan um mês após cirurgia no coração
Segunda-feira de manhã, dia de trabalho em Santiago (Chile), e a Arena Movistar está ocupada especialmente por turmas escolares. O Brasil acabou de vencer Porto Rico no vôlei do Pan e, apesar de ter marcado apenas cinco pontos, é o nome de Helena que é gritado por todos os lados. Os jovens parecem querer, desde já, uma recordação daquela que pode vir a ser uma virada de chave no vôlei brasileiro.
Quem a vê ao lado de Luzia pensa que as duas são as novas centrais da seleção. Elas têm, cada uma, 1,99m. Não há, no vôlei brasileiro, não só na equipe, ninguém do tamanho delas. Thaisa, por exemplo, é um centímetro mais baixa. Só que Helena, de 18 anos, não joga pelo meio de rede. Ela é ponteira. Ponteira passadora.
"Eu não gostava de jogar de central, mas todo mundo falava 'Não, você é alta, você é teimosa'. E junto com o meu técnico, o Geraldo, que foi tipo a minha base lá em Joinville, ele foi um dos que mais acreditaram em mim. Ele falou: 'Não, se você quer, você tem que bater o pé'. Eu vou ter que treinar sempre muito mais do que as outras pessoas, mas eu treinei, me dediquei e eu bati o pé", conta.
Aqui, vale uma explicação para quem não é do vôlei. Desde a instituição das líberos, as centrais, as mais altas do time, saem de quadra quando chegam na linha de defesa e só voltam quando chegam à rede na rotação. As opostas normalmente não têm a função de passar e saem da linha de passe no saque adversário. Já a ponteira passadora, como o nome já diz, fica lá de peito aberto esperando a bola nela.
Altíssima, mesmo para os padrões do vôlei, Helena bateu o pé. "Não, eu não quero ser central, eu posso ser oposta, mas o que eu quero ser é ponta", dizia. Foi como oposta que ela saiu de Joinville, onde foi revelada, e seguiu para a base do Flamengo. E como oposta foi incorporada ao Sesc/Flamengo, time adulto. Até que foi testada como ponteira, em um Sul-Americano de base, no ano passado.
"O Wagão deu a oportunidade de jogar de ponta e ganhei dois títulos, um de melhor ponteira e outro de melhor jogadora do campeonato como ponta. É porque eu fui teimosa mesmo", diz, em referência ao treinador que é o braço direito de Zé Roberto Guimarães.
A teimosia, porém, paga seu preço. Passar até que não é tão difícil, afirma Helena, mas movimentar seu corpo de 1,97m para defender demanda muito treino.
"A defesa é mais leitura de bloco, leitura de ataque da menina, reação. Depois do treino, quando eu acho que o meu treino não está bom de passe, eu treino mais, eu peço para fazer específico, para cada vez melhorar. Eu treino muito, eu sempre tento fazer mais do que as outras. Mas o meu passe vai melhorando cada vez mais com o treino."
Bons conselhos não faltarão. "Eu tenho o Bernadinho como técnico, tive o Wagão na seleção, agora estou com o Paulinho [Coco, técnico da seleção no Pan e treinador do Praia Clube]. Cada um tem algo a mais para acrescentar. Algo que o Paulinho me falou muito na defesa esse tempo que a gente treinou lá em Saquarema foi entrar mais e ir mais pra frente, que é mais fácil do que ficar mais pra trás e ter que me abaixar muito." Em outras palavras: quando está defendendo, ela fica mais perto da rede do que o usual.
Era para ser
Helena imaginou que assistiria ao Pan pela TV, proibida de jogar vôlei. Ela sabia, desde 2021, que tinha um probleminha no coração, nada muito grave, mas desta vez os exames de rotina indicaram a necessidade de uma cirurgia. Segundo o médico, ela só precisaria ficar dois meses sem levar boladas no peito. Então, a garota preferiu adiar a operação para depois do Mundial Sub21, para poder jogar o torneio.
A ideia era ser operada no fim de setembro e voltar às quadras em novembro, já com a Superliga andando. "Eu ia fazer a cirurgia no dia 20 e, um dia antes, fui no médico. E ele disse que eu só precisava ficar parada 15 dias. Depois poderia fazer tudo normal", conta. Assim, ela ficou à disposição da comissão técnica da seleção adulta, que aproveitou a chance para observá-la nos treinamentos que começaram assim que o repouso acabou.
"É um prazer, uma motivação. Ela é uma menina muito centrada, muito disposta a crescer, escuta bastante. Ela é muito bem fundamentada. Se a gente conseguir firmar ela como ponteira, com essa altura, vai ser importante para o futuro dela e da seleção brasileira. É uma posição que é mais difícil de ter jogadora nesse nível em nível mundial", avalia Paulo Coco.
O Brasil, já classificado à semifinal por ter sido primeiro colocado do seu grupo, com três vitórias, aguarda seu adversário que vai sair dos duelos de quartas de final, hoje. A semi será amanhã, e a decisão, na quinta. Brasil e República Dominicana não perderam sets até aqui e tendem a disputar o ouro.
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