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Sensação do Pan, seleção de beisebol tem chapeiro, soldador e dentista

Estar nos Jogos Pan-Americanos, entrar em campo contra alguns dos melhores profissionais do continente e ganhar três jogos seguidos é algo muito longe da realidade diária de boa parte da seleção brasileira masculina de beisebol. Sensação do Pan depois de derrotar as tradicionais Venezuela e Cuba, o time tem alguns profissionais que atuam nos EUA, no Japão e na Europa, e diversos amadores.

Raphael Barbosa, o Marrom, é soldador de fábricas de ração. Naoki Takano trabalha na cozinha de um restaurante japonês voltado à cultura do beisebol, onde hoje é sócio. Salomon Koba é dentista na Avenida Paulista, em São Paulo, enquanto Osvaldo Carvalho é servente de pedreiro em uma concessionária de estradas.

"Eu bato concreto todo dia, de segunda a sexta, na rodovia em Marília (SP). É bastante desgastante, fazer isso de dia para treinar a noite. Tem que focar nos dois, mas é difícil", diz Osvaldo, um dos poucos negros da equipe brasileira. Aos 22 anos, ele está em seu segundo torneio com a seleção adulta.

Marrom, outro não oriental, também joga por Marília, mas é de Bastos, uma cidade próxima, conhecida pela produção de ovos. Galinha demanda ração, e as fábricas por lá são erguidas graças ao trabalho braçal do jogador de beisebol, que também é soldador. "Jogo desde pequeno. Tinha uns familiares meus, uns primos, que começaram a jogar, e minha vó me levou. E desde então estou jogando", diz ele, que tem 30 anos e, para estar no Pan, abriu mão de serviços.

Como os demais jogadores que jogam no beisebol brasileiro, não está acostumado com a visibilidade e com a imprensa. Por isso, fala pouco, e sonha muito que o Pan o ajude a jogar no exterior. "Ah, pode dar muita visibilidade, né? Pode abrir muitas portas, ainda que a idade esteja um pouco avançada. Mas ainda a gente sonha com alguma coisa, né?"

É também o caso de Naoki, que pode ser encontrado na cozinha de um dos dois restaurantes voltados à cultura do beisebol em São Paulo, o Dozo, que fica na Liberdade, na região central. Hoje em dia ele é sócio do estabelecimento e espera que a visibilidade dada pelo Pan atraia um público maior ao local.

"A gente ama muito esse esporte, e a gente quer divulgar e quer que ele chegue mais em outras pessoas por meio da comida também. Como são os Jogos Pan-Americanos, o Brasil inteiro acompanha. Então a gente se destacando aqui já começa a atingir um publico maior", projeta.

Não muito longe do restaurante dele, na avenida Paulista, fica o consultório de Salomon, jogador natural da capital paulista. Ele chegou a jogar profissionalmente no Japão, mas voltou ao Brasil para estudar. O dentista trabalha de segunda a sexta, até tarde, e só consegue treinar aos finais de semana. Uma dedicação que vale a pena, segundo ele.

"Eu digo que a minha terapia é estar com os meninos durante o fim de semana. Eu trabalho normal de segunda a sexta-feira, das nove às oito. No fim de semana, é o único tempinho que a gente tem para praticar esse esporte", conta. Ele não tem expectativas de voltar ao exterior, a não ser que surja um convite irrecusável. "A ideia é mais a experiência de representar o país. Como o próprio nome diz, é um esporte amador no Brasil. A gente faz porque ama".

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Amadorismo

Brasil venceu a Colômbia no beisebol do Pan 2023
Brasil venceu a Colômbia no beisebol do Pan 2023 Imagem: BRUNO RUAS/ESTADÃO CONTEÚDO

Elencos de beisebol são muito grandes, os times são poucos, e não há mercado para uma liga profissional no Brasil. Assim, ninguém que joga no país ganha dinheiro como atleta. Eles até têm direito à Bolsa Atleta, por lei, mas o Governo Federal não abre chamamento para as modalidades não olímpicas desde 2017, quando o presidente era Michel Temer (MDB).

"Seria uma ajuda muito preciosa, para poder estar custeando algumas despesas, porque o beisebol tem despesas. Assim, desde pequeno sempre saiu do nosso próprio bolso, né? Então seria uma grande ajuda", diz Naoki.

Para Marrom, que trabalha como soldador, a Bolsa também faria enorme diferença. "Ajudaria muito, hein? Porque, querendo ou não, como a gente é amador, a gente ainda acaba tirando dinheiro do nosso bolso, né? Eu pago para jogar, para treinar, para viajar, pago tudo. A gente tenta assimilar o serviço com o beisebol e a gente vem mesmo porque gosta, né? Por amor ao esporte."

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que foi informado, Salomon Koba nasceu em São Paulo, e não em Maringá (PR). O erro foi corrigido.

Reportagem

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