No 4º lugar do Pan, Brasil tem mais a celebrar do que lamentar
Arthur Nory fez o que podia para ganhar o ouro no salto do Pan. Tirou da cartola um salto que só havia executado uma vez em competições, em 2018, e que ele nunca treina. Recebeu 14.466, nota de finalista mundial, e assumiu o primeiro lugar. Mas, depois, um dominicano acertou seu salto do tudo ou nada, tirou a mesma nota, e ganhou o ouro pelo critério de desempate.
Ao olhar o quadro de medalhas, esse ouro pode fazer falta. Hoje atrás 12 ouros do México, 14 do Canadá, o Brasil pode prescindir do título não conquistado por Nory. Deixar de ser segundo ou deixar de ser terceiro da classificação geral do Pan. E isso significará alguma coisa? Acho que não.
Entendo a importância que é dada ao quadro, ao confronto entre delegações, uma vez que as competições polidesportivas partem dessa lógica, mas acho que o Pan deve ser usado principalmente para análises mais segmentadas. Na ginástica artística, por exemplo, o desempenho foi ótimo. Nos saltos ornamentais (onde o México se destaca), muito ruim. Na natação, positivo.
"Ah, mas em 2019 o Brasil ganhou mais medalhas e mais ouros na natação". É verdade. Mas não havia uma forte equipe do Canadá nadando ao lado. Ainda assim, o time feminino ganhou nove medalhas individuais, um recorde — em casa, no Rio-2007, haviam sido seis. Nenhuma delas, importante frisar, com potencial para ser medalhista olímpica ainda.
O masculino, sem Bruno Fratus, não mostrou a força coletiva de outrora, mas confirmou que tem duas balas para Paris, os Guilhermes Costa e Caribé, recuperou moralmente Vini Lanza e Brandonn Almeida, dois talentos que não vinham em boa fase, e ganhou os dois revezamentos em que tem chances de fazer algo bom em Paris. Mas é preciso fazer alguma coisa para voltar a ter resultados em costas e peito.
Na ginástica artística feminina, não poderia ser melhor. Mesmo exausta, vindo do Mundial, a equipe apresentou evolução. Flávia ganhou cinco medalhas, Rebeca fez os melhores saltos da vida, Julia fez a melhor série de solo da vida, e Jade a melhor competição desta fase de sua longa vida na ginástica. Após o Pan, as expectativas para Paris são ainda mais altas.
No masculino também. A equipe competiu desfalcada de dois potenciais medalhistas de ouro (Caio e Zanetti), e saiu com boas expectativas para Paris. Mesmo sem vaga olímpica, Nory mostrou que compete entre os melhores do mundo em três aparelhos. Diogo foi muito bem na prata do individual geral e Bernardo ganhou sua primeira medalha em Pans, na barra fixa. Uma renovação que não se via desde 2011. Nas últimas três edições, só o quarteto Caio/Nory/Zanetti/Chico havia ido ao pódio.
O skate poderia ter ganhado quatro medalhas de ouro, viu duas delas virarem prata, mas isso não é um problema. Raicca não ganhou, mas está entre as cinco melhores do mundo, e Japinha só não foi ao lugar mais alto do pódio por um detalhe — a rodinha que prendeu na última manobra da última volta, ou a decisão de não tentar mais uma manobra nos segundos finais da linha que valeu.
O badminton viu cair de cinco para três o número de medalhas, é verdade, mas perdeu duas quando Jaqueline Lima precisou passar por uma cirurgia às vésperas do Pan. O ponto negativo é que Ygor Coelho, que caiu diante de um mexicano, perdeu a hegemonia conquistada na edição passada em simples.
No taekwondo, a campanha foi bem ruim. Em 2019, fez quatro finais. Agora, só uma, ganhando uma prata e um bronze, além de outras duas medalhas na prova por equipes, que não é olímpica. Mesmo considerando que Sandy subiu de categoria (e, como tinha vaga só na abaixo, não lutou) e que Carol 'Juma' se lesionou na estreia, é pouco. Netinho, Paulinho e Maicon tinham que entregar mais.
Na mesma pegada, o saltos ornamentais teve um Pan ruim. Ganhou medalha com a dupla Ingrid/Giovanna é verdade, em uma prova com quatro países, mas esperava-se mais, bem mais, de uma modalidade que vinha tendo bons resultados internacionais. Rafael Fogaça foi finalista mundial em 2022 e último do Pan em 2023. Luanna Lira foi 14ª no Mundial do ano passado e 15ª em Santiago. Talento existe, mas os resultados não podem ficar restritos da Ingrid Oliveira, quarta colocada em uma prova forte.
O ciclismo, até aqui, faz uma campanha regular. Foi aos dois pódios do MTB, mesmo depois da aposentadoria do seu maior ídolo, Henrique Avancini, mas não chegou às medalhas no BMX Racing. Esperava-se mais de Paôla Reis, que não fez uma boa final. No masculino, não ter ninguém largando na final é preocupante.
O remo ganhou um ouro com Lucas Verthein e uma prata com Beatriz Cardoso. É o primeiro ouro desde 1987. Mas não há muito o que comemorar como modalidade. Mérito de Lucas pelo título, de Bia pelo vice, mas coletivamente o remo brasileiro é cada vez mais fraco. O país continua sendo incapaz de escolher os melhores de cada clube, misturar em um barco, e conquistar um resultado relevante sequer no continente.
O pentatlo também caminha para trás. No Pan, mostrou que não consegue competir no continente, ainda que o nono lugar de Isabella Abreu tenha valido vaga olímpica pela América do Sul. No masculino, o melhor brasileiro foi só o quinto melhor sul-americano. É pouco.
Das modalidades já encerradas, a que mais evoluiu, na contramão, é o adestramento. Duas provas, e duas medalhas de prata, por equipes e no individual, com João Victor Oliva, mesmo com cavalo reserva.
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