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Esporte extinto há 12 anos no Brasil impacta quadro de medalhas do Pan

Logo na entrada do Centro Deportivo de las Raquetas de Santiago há uma placa: canchas de squash para a esquerda; de raquetebol, para a direita. Só assim para um leigo como eu saber diferenciá-las. À primeira vista, elas são tão distintas quanto uma quadra de vôlei de praia e uma de beach tênis.

Vim aqui para entender o que é o raquetebol, um esporte extinto no Brasil. As únicas duas quadras que existiam no país, ambas dentro da Hebraica, um clube da comunidade judaica em São Paulo, foram transformadas em uma escola e quadras de squash há 12 anos. Se já não havia confederação, campeonatos ou jogadores, agora não há nem quem jogue o esporte de fim de semana.

"Eu lembro de um brasileiro e uma brasileira que disputaram um campeonato", me conta o argentino Fernando Kurzbard. "Foi um torneio na Venezuela... em 2005", ele detalha, denunciando seus 38 anos, todos dedicados ao raquetebol. A mãe foi jogadora de tênis e migrou de raquete, representando a Argentina no Pan de Mar del Plata-1995, quando o raquetebol estreou no programa.

Desde então, o Pan vale tanto, ou até mais, do que o Campeonato Mundial, cuja única diferença é ter atletas alguns países europeus e asiáticos perdendo nas primeiras rodadas. Absolutamente todas as medalhas distribuídas em 21 anos de Mundiais foram entregues a atletas e equipes das Américas.

Olhando atentamente as quadras surgem as primeiras diferenças entre squash e raquetebol. Nos dois jogos, os atletas se posicionam de frente a uma parede, batem na bolinha com uma raquete, e pontuam quando ela bate duas vezes no chão antes que o adversário rebata. Em ambos, as paredes laterais e do fundo são parte do jogo. No raquetebol, o teto vale. No squash, não.

Além disso, a bolinha no raquetebol quica muito mais. Para compensar, a raquete é um pouco diferente (menor e em formato de lágrima) e os ataques não precisam ser acima de uma linha que serve como se fosse uma rede de tênis. A parede toda é liberada. Por fim, no raquetebol, o atleta não pode trocar a raquete de mão.

Mas as exigências estruturais são as mesmas, o que faz com que o raquetebol, como o squash, seja um esporte de ricos. "No México, temos muitas quadras, mas é um esporte muito caro. Então essas quadras ficam principalmente nos clubes sociais, frequentados pela classe média e média alta", conta Rodrigo Montoya, medalhista de ouro em duplas.

Seu companheiro na conquista, Javier Mar, lamenta que, apesar do sucesso esportivo, eles não tenham grande apoio do governo. Recebem uma bolsa de cerca de US$ 500 (R$ 2.500), assim como atletas de destaque de modalidades olímpicas, mas não passa disso. "Temos que pagar para jogar", afirma.

Além do México, o raquetebol também é muito popular na Bolívia, que conquistou duas medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze nesta modalidade no Pan. A final da chave masculina de simples foi vencida por Conrrado Moscoso, que já era uma celebridade no país, campeão mundial no ano passado.

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"Temos cerca de 125 quadras só na minha cidade, Sucre", conta. "O raquetebol é muito popular na Bolívia, só não é tão popular quanto o futebol. E isso me permite ser um jogador profissional. Hoje eu me sustento graças aos meus patrocinadores, e posso me dedicar a somente jogar raquetebol", diz o atleta, que também foi campeão por equipes e bronze na dupla mista.

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