Quem são as brasileiras que fizeram o país ser campeão do boxe do Pan
Tatiana Chagas era uma menina gordinha de 18 anos, que havia acabado de sair do Ensino Médio e sofria com problemas de baixa autoestima quando viu Adriana Araújo, também baiana, ganhar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-2012. Era a estreia do boxe feminino nas Olimpíadas e, até então, eram pouquíssimas as meninas que lutavam no Brasil e no mundo.
Onze anos depois, Tatiana é uma das seis brasileiras a subir ao pódio nos Jogos Pan-Americanos de Santiago. A medalha dela foi de prata, mas outras quatro boxeadoras da equipe ganharam o ouro. Só o time feminino do Brasil superou todas as outras delegações, compostas de homens e mulheres, a maioria delas com o limite de 13 componentes.
Desde 2012, o boxe tem aumentado gradativamente a proporção entre categorias masculinas e femininas. Era 10/3 em Londres e no Rio, foi 8/5 em Tóquio e será 7/6 em Paris. Como o Pan é um Pré-Olímpico, também em Santiago foram distribuídas sete medalhas de ouro para os homens, e seis para as mulheres. Quatro delas terminaram no peito de boxeadoras brasileiras.
Para Bia Ferreira, foi o bicampeonato. Filha do ex-boxeador Sergipe, ela luta boxe desde pequena, mas não tinha adversárias e, por isso, demorou a estrear em campeonatos. Quando o fez, a CBBoxe recebeu uma denúncia de que ela já havia lutado profissionalmente no Muai Thay, o que ela sempre negou — seria um duelo amistoso. Ainda assim, a confederação a abraçou, a levou ao Rio-2016 como sparring, e o resto é história.
Dois ouros e uma prata em Mundiais, agora dois títulos Pan-Americanos, prata em Tóquio-2020, e um cartel de cerca de 150 lutas e só oito derrotas. Com a mudança nas regras do boxe, ela já tem feito lutas profissionais, mas a prioridade ainda é Paris-2024. Depois das Olimpíadas, estará com 33 anos e vai passar a buscar todos os cinturões possíveis no boxe profissional.
As conquistas de Bia deram confiança às outras integrantes da seleção. "Se ela chegou lá, com o mesmo treino que eu, por que eu não posso?", divagava Jucielen Romeu, a Juci. Paulista de Rio Claro, ela vem batendo na trave em grandes competições. Foi duas vezes quinta colocada em Mundiais, prata em Lima, mas agora conquistou o maior título da carreira, aos 27 anos.
Caroline Almeida, a Naka, ouro na categoria até 50kg, é um pouco mais velha. Tem 31 anos, e demorou a entrar no boxe. Ela chegou a ser lutadora de MMA, participar de grandes competições, mas tinha o sonho de disputar os Jogos Olímpicos. Por sugestão do ex-técnico e ex-marido, se arriscou no boxe, e levou um tempo até chegar à seleção. Em pouco tempo, a pernambucana de Recife mostrou serviço. Foi bronze no Mundial de 2022, prata nos Jogos Sul-Americanos do ano passado, e agora ouro no Pan.
A quinta medalha veio com Bárbara Santos, que todos conhecem por Bynha. Também baiana, ela está com 32 anos e só chegou à seleção brasileira recentemente. Também entrou rápido na galeria das medalhistas, com o ouro nos Jogos Sul-Americanos do ano passado, e o bronze no Mundial deste ano. Logo em seu primeiro Pan, conquistou a medalha de ouro.
A campanha feminina, de quatro ouros, uma prata e um bronze, sozinha já era suficiente para colocar o Brasil no topo do quadro de medalhas no boxe. Mas os homens também ajudaram bastante. Não tanto quanto queriam. Abner Teixeira (+92kg) e Michael Douglas (54kg) ficaram descontentes de serem poupados das finais, contra um norte-americano e um dominicano, respectivamente. Ficaram com a medalha de prata por decisão da comissão técnica, para não agravar lesões.
No ringue, nas outras duas finais, os brasileiros pararam diante de cubanos de primeira linha. Keno Marley (92kg) fez uma luta paralela contra o pentacampeão mundial e bicampeão olímpico Julio Cesar La Cruz, mostrou que poderia vencê-lo, mas acabou com a derrota em decisão divida dos árbitros. Para Wanderley Pereira (80kg) o confronto contra Arlen Lopez, também bicampeão olímpico, foi mais duro, e a prata fez justiça à luta.
Dos outros três brasileiros no Pan, dois conquistaram bronze: Luiz Gabriel (Bolinha), da categoria até 57kg, e Yuri Falcão, da 63,5kg, depois de perderem nas semifinais. Questão de sorteio: os dois boxeadores que os venceram, de Cuba e do Canadá, ficaram com o ouro.
Só Wanderson Oliveira (71kg) ficou sem medalha. Ele perdeu logo na estreia para um equatoriano que viria a ser vice-campeão. Ele, que é conhecido como Shuga, Bolinha, Yuri e Viviane Pereira terão agora dois Pré-Olímpicos Mundiais para buscar a vaga em Paris.
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