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Governo no comando e adeus a cubanos: o segredo do sucesso do México no Pan

Israel Benitez, um homem de meia-idade, cabelo penteado a gel e uma jaqueta pink, abre um desses celulares que dobram ao meio e me mostra um aplicativo exclusivo que lhe diz o desempenho esportivo de cada atleta mexicano em cada prova, e que aponta uma projeção de entre 40 e 50 medalhas para o país no Pan.

Ele tem total controle, não só em Santiago, sobre o desempenho da delegação que já ganhou 84 medalhas no Pan e vem disputando, ouro a ouro, o segundo lugar do quadro de medalhas com o Canadá. Aqui, Israel é chefe de missão. Na Cidade do México, é vice-ministro do Esporte, a pessoa que dá as ordens em tudo que acontece no esporte olímpico do país.

"Nós cuidamos de 100% da preparação dos atletas. Cerca de 90% dos atletas convocados para o Pan treinam em instalações públicas. Somente 5% do dinheiro investido nos atletas é privado, entre 92 e 93% é do governo do México. Trabalhamos em coordenação com as confederações, mas quem faz a estratégia para o quadro de medalhas é governo do México", explica.

É um modelo diferente do nosso. No Brasil, o poder público financia o movimento olímpico a partir da transferência de recursos das Loterias para o COB, que por sua vez compartilha parte desse valor com as confederações. As missões, como o Pan e as Olimpíadas, são pagas pelo COB, com recursos das Loterias e privados. O ministério paga Bolsa Atleta, faz alguns aportes muito pontuais em modalidades, mas não planeja.

No México, o dinheiro do governo vai para as confederações, pulando o comitê olímpico. No últimos anos, também a confederação deixou de ser intermediária.

Não dou dinheiro por dar. Tem que me demonstrar quem são os atletas. Criamos um programa analítico do esporte. Não de estatística, mas analítico. Eu sento com a confederação de atletismo, exponho a projeção, e a confederação me expõe o resultado. Fazemos um intercâmbio técnico-esportivo. O que o ministério faz é estudar realmente em que lugar estão de ranking, quem são os rivais, quem são os competidores, quem vão enfrentar na América ou nos Jogos Olímpicos. Estudamos os rivais, fazemos em tempo real, e fazemos isso todos os dias. Analisamos o ranking mundial, o ranking pan-americano, e isso nos dá certeza a quem destinar os recursos.

Mais México, menos Cuba

Conversei com Israel longamente durante as finais do boxe, na sexta-feira (27). Do lado de dentro do ginásio, Keno Marley fazia uma luta parelha contra Julio Cesar La Cruz, 34 anos, bicampeão olímpico, pentacampeão mundial, e símbolo de um esporte cubano que já foi potência, e hoje não é mais.

O México identificou isso. Antes dependente de quase 200 técnicos cubanos trabalhando no país, agradeceu aos vizinhos pelos anos de serviços prestados, por todos os ensinamentos, e decidiu seguir com as próprias pernas. "Capacitamos os treinadores mexicanos. Por um momento, os cubanos nos ajudaram, mas percebemos uma queda. Decidimos agradecer e começar com treinadores mexicanos. Hoje temos 80% de treinadores mexicanos e temos bons resultados", diz.

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O que não quer dizer que o México se fechou, pelo contrário. Como o esporte olímpico é controlado pelo ministério, o governo mexicano firmou convênios com nações amigas para intercâmbio. A equipe de saltos ornamentais, que deu 8 ouros ao México no Pan, vira e mexe vai treinar na China. A de taekwondo faz campings com os sul-coreanos, que foram ao México aprender sobre marcha atlética. O melhor mexicano do lançamento do martelo foi aceito para treinar com os melhores do mundo na Polônia.

"Te dou um exemplo. O softbol nunca se classificou aos Jogos Olímpicos, éramos o pior da nossa região, e nos classificamos a Tóquio-2020 dando um treinamento, levamos eles para treinar nos EUA, e uma equipe multidisciplinar completa. Canalizamos os recursos, mas também a estratégia técnico desportiva. Cuidamos da forma do atleta, das competições, que eles viajem bem, que estejam confortáveis, tenham equipamento adequado. Tudo isso com pouco dinheiro", continua Benítez.

Ele diz que o orçamento do ministério é o menor em anos, de cerca de 1 bilhão de pesos, o que dá algo em torno de US$ 55 milhões. O valor é metade da despesa anual do COB, que tinha projeção de gastar US$ 100 milhões este ano. Só o Bolsa Atleta custa mais R$ 140 milhões (US$ 28 milhões) ao governo brasileiro.

Em Jogos Olímpicos, o México ainda não conseguiu refletir esse investimento. Em Tóquio, ganhou só quatro medalhas, e lamentou ter ficado com oito quarto lugares. Para Paris, a meta é não só igualar a melhor campanha da história, de oito medalhas, mas chegar a um recorde de 12.

Reportagem

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