Brasileiros aproveitam bem o Pan como trampolim até Paris
Toda vez que um atleta se classifica às Olimpíadas de Paris a partir dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, a equipe do Olympic Channel entrega a ele um cartão dourado de embarque à França e um óculos com os cinco aros olímpicos. Até aqui, a bagagem do Time Brasil está mais cheia do que a de qualquer outro com esses assessórios.
Ontem, 14 desses óculos foram distribuídos à seleção feminina de handebol, que confirmou o favoritismo para vencer o torneio em Viña Del Mar e faturar o heptacampeonato. A vaga para a equipe veio com vitória por 30 a 18 sobre a cada vez mais freguesa Argentina, e o heptacampeonato.
A partir de hoje (3), é a seleção masculina que busca percorrer o mesmo caminho, que não deve ser fácil. Entre os homens, os campeonatos regionais costumam ter finais parelhas contra a Argentina, e desta vez não deverá ser diferente. O Chile, que surpreendeu ao vencer o Brasil na semifinal em 2019, corre por fora. Se a vaga não vier agora, é bem difícil vir pelo Pré-Olímpico.
Outra vaga que pode vir ainda hoje é em duplas mistas no tênis de mesa. Bruna Takahashi e Vitor Ishiy têm que vencer uma boa dupla do Canadá para chegar à final da chave e dar ao Brasil sua última vaga em Paris. As equipes masculina e feminina já estão classificadas e, no individual, o país já tem o limite de dois homens e duas mulheres.
No boxe, ninguém classificou mais atletas a Paris do que o Brasil. Foram nove, em 13 possíveis. Ao fim de uma primeira etapa do processo de classificação olímpica, com os torneios regionais de todos os continentes, ninguém no mundo tem tantos classificados quanto o Brasil. Já ter vaga agora significa poder usar o primeiro semestre de 2024 para entrar em forma, fazer campings, estudar rivais, tudo sem pensar em Pré-Olímpico.
No hipismo, o Brasil pegou todas as vagas possíveis. Já tinha equipe de saltos classificada e, pelo Pan, qualificou a de adestramento, e garantiu a de CCE, ambas por terem subido ao pódio, com prata e bronze, respectivamente. No conjunto completo de equitação (CCE) a vaga é certa, porque três conjuntos brasileiros têm o índice internacional para ir à Olimpíada, e outros poderão buscar até o meio do ano que vem. Mas, no adestramento, só dois têm, e um terceiro precisa fazer até o fim do ano. Se não, o Brasil perde a chance de levar equipe.
No tênis, a situação é oposta. Uma das vagas não veio, mas pode vir. Se Laura Pigossi se garantiu em Paris ao vencer a chave de simples feminina, no masculino Thiago Monteiro pode ficar com uma das duas vagas do Pan se quatro argentinos se classificarem pelo ranking. Se isso acontecer, Facundo Acosta, campeão do torneio, perde o direito de ir a Paris (cada país só pode ter quatro representantes em simples), e a vaga roda para o medalhista de bronze: Monteiro.
Em modalidades nas quais o Brasil tem menos tradição, só uma vaga foi conquistada até aqui. Foi no pentatlo moderno, com Isabella Abreu, que foi nona colocada na prova feminina, mas ficou com uma das duas classificações destinadas à América do Sul. Na escalada, a chance sempre foi ínfima.
Das vagas tidas como prioritárias, só duas escaparam. A primeira, na ginástica artística masculina. Arthur Nory falhou nas barras paralelas na final da ginástica artística, despencou na classificação, e viu o passaporte terminar na mão de um dominicano. A segunda, no tiro esportivo. Felipe Wu foi terceiro na pistola de ar 10m, ganhou o bronze, mas viu a única vaga em jogo ir para o Canadá, que ganhou o ouro. Ambos ainda terão outras oportunidades.
Uma das duas grandes decepções do Time Brasil até aqui (a outra é o taekwondo), o tiro esportivo só ganhou uma medalha em Santiago, e não faturou nenhuma das 18 vagas olímpicas em jogo. No surfe, o Brasil já atingiu a cota máxima no masculino, e tem Tati Weston-Webb classificada no feminino. O Pan poderia garantir Silvana Lima, mas a veterana de 39 anos foi eliminada cedo da competição. A CBSurfe perdeu a chance de trazer alguém mais jovem e em melhor forma ao Chile.
Nos saltos ornamentais, o Brasil já veio ao Pan com duas vagas, de Ingrid Oliveira e Isaac Souza, ambos na plataforma. Na história, só uma vez um atleta se classificou ainda no ano pré-olímpico. Assim, a chance de um brasileiro vencer uma prova individual do Pan e se classificar sempre foi irrisória.
Até o fim do Pan, o Brasil ainda briga por vagas no breaking, no nado artístico, no polo aquático, vela e tiro com arco. A ginástica rítmica também classifica, mas o Brasil já atingiu sua cota.
Pensando em Paris, o Pan também vale muito para o atletismo. Menos pela possibilidade de índices, uma vez que todo mundo está ou em fim de temporada, ou no começo dela, nunca no auge, e mais por que o Pan dá possibilidade de marcar muitos pontos no ranking mundial que deve distribuir cerca de metade das vagas para a Olimpíada. Bons desempenhos em Santiago vão permitir a mais brasileiros se aproximarem de Paris.
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