Tratado como lenda, Vanderlei ganha espaço de honra na memória da maratona
Entre as dezenas de museus que guardam um pouco da história da humanidade em Atenas e nos arredores, um deles não se destaca pelas peças de antiguidade e esculturas. No Museu da Corrida de Maratona, as luzes estão sobre tênis, medalhas, troféus e fotos que contam a história da prova mais tradicional do esporte.
Ali, a 40 e poucos quilômetros do centro de Atenas, um brasileiro tem espaço especial. Vanderlei Cordeiro de Lima já tinha um display todo dedicado a ele, agora em espaço de honra dentro do museu, que fica exatamente em Maratona, cidade grega, e tem corrida (run) no nome para se diferenciar do museu sobre a cidade em si.
"Em nome do governo da Grécia, quero dizer que você pode se sentir um cidadão grego. Considere a Grécia como a sua segunda casa. É uma grande honra tê-lo aqui conosco", disse o prefeito Georges Kaminis, durante evento no domingo (12), em que abriu as portas do museu para receber Vanderlei, o técnico Ricardo D'Angelo e uma comitiva de brasileiros, incluindo este colunista.
A cerimônia marcou a entrega, por parte de Vanderlei, do tênis de corrida, um Olympikus Corre 3, que ele usou durante a Maratona de Atenas, prova que o brasileiro completou poucas horas antes, em 2h54min25s. A corrida foi seu retorno às maratonas após quase 15 anos, e no retorno à capital grega 19 anos após a prova que marcou a vida dele, nos Jogos Olímpicos de Atenas.
"Você era o líder, estava a 20 minutos da linha de chegada, a torcida gritava seu nome, e inesperadamente um cara sai do nada e traz esse sentimento todo. Queremos nos desculpar por isso. Mas aquele momento não mudou não só sua vida, mas a vida também de milhões de pessoas, que sentiram sua paixão, e a sua coragem de continuar até a linha de chegada", afirmou Kaminis.
O político grego aproveitou para presentear Vanderlei com uma réplica da medalha de ouro conquistada pelo grego Spyros Louis na primeira edição das Olimpíadas da era moderna, em 1896, também em Atenas, e mais conhecida peça da coleção do museu.
Quando aquela corrida foi disputada, a maratona era só mais uma prova pensada pelo Barão de Coubertin para colocar homens do mundo todo para competir entre si. Todos sairiam correndo por 40 km, a distância entre Maratona e Atenas, percorrendo o trajeto feito quase 2,5 mil anos antes por um mensageiro grego que levou aos atenienses a notícia da vitória deles sobre os persas na Batalha de Maratona.
Nos 127 anos que se passaram desde o ouro de Louis, a maratona colecionou momentos históricos, muito deles expostos no museu em Maratona. "Esse aqui sou eu, do meu lado o falecido Luiz Antônio (dos Santos), o Rolando Vera, que participou de várias edições da São Silvestre, o Josia Thugwane, que ganhou a prova...", me conta Vanderlei, enquanto nomeia, um por um, os cerca de 20 integrantes do pelotão fotografado em Atlanta-1996, na estreia olímpica dele.
O resultado naquela prova foi bem aquém do esperado para o quarto do ranking mundial. Usando um modelo novo de tênis, com o qual o pé do brasileiro não estava ainda acostumado, Vanderlei sofreu com bolhas e terminou em uma modesta 41ª colocação. "Não foi o resultado que eu esperava, nem para o qual eu tinha treinado. Mas eu terminei, e aquilo foi importante para mim", lembra.
Outros calçados trazem lembranças melhores, como o tênis que a japonesa Mizuki Noguchi usou na vitória na maratona olímpica de 2004, ou o que o britânico Ron Hill calçava quando levou a Maratona de Boston de 1970. São dezenas de tênis expostos no museu, que ajudam a mostrar também a evolução do calçado, fundamental para vitórias e, em muitas vezes, também em derrotas.
Agora a coleção tem também o Corre 3 que Vanderlei usou na Maratona de Atenas deste ano, parte da estratégia de marketing da Olympikus, que levou o brasileiro à Grécia e prepara um documentário sobre ele. O calçado foi desenvolvido para alta performance na corrida de rua e co-criado por especialistas, corredores, atletas e testado pelo laboratório de biomecânica da USP.
Com o tênis, Vanderlei foi o quinto colocado da categoria 50-55 anos da Maratona de Atenas, com o tempo corrigido de 2h54min25s. Entre os nascidos na década de 1960, ficou em segundo. O brasileiro fez a primeira metade da prova em um ritmo para abaixo de 2h50min, mas sentiu desgaste físico no fim e diminuiu a velocidade.
No museu, também estão expostos, além do tênis e de três fotos autografadas entregues pelo próprio Vanderlei no domingo, uma réplica do uniforme usado em Atenas-2004, fotos daquele dia, e uma camisa do clube BM&F/Bovespa, que defendeu a maior parte da carreira.
*O colunista viajou a Atenas a convite da Olympikus
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