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Núbia deixa dois anos de dores crônicas para trás e sonha com Paris

Os resultados ainda estão (muito) aquém do esperado, mas Núbia Soares está de volta. Recordista brasileira do salto triplo e participante das últimas duas Olimpíadas, a mineira de 27 passou os últimos dois anos e meio com dores crônicas no pé direito, 24h por dia, sete dias por semana. Recuperada, quer mostrar que ainda pode brigar por coisas grandes no atletismo.

"Eu tenho neuropatia crônica. Então, era dor no tendão de Aquiles o tempo todo. Acordava com dor e dormia com dor. O problema é que o salto triplo não admite dor. Demorou dois anos e meio para passar, dois anos e meio doendo o dia inteiro, mas passou. Com o trabalho dos médicos, do doutor André Guerreiro, da CBAt, e de médicos da Espanha também, a gente conseguiu segurar a dor, trabalhar bem, fortalecer bem", conta Núbia.

Ela tem, na carreira, resultados muito acima da curva para o atletismo brasileiro. É Núbia quem, no ranking mundial da década de 2020, tem melhor resultado entre as mulheres do país: aparece em 14º no triplo. Ampliando o recorte para os últimos 10 anos, só ela e Fabiana Murer estão no top 20 de suas provas.

Um potencial de medalhista olímpica, que, para chegar lá, dependia de uma boa estrutura de treino. Em busca disso, depois da morte do treinador e da equipe que defendia no Brasil fechar, Núbia mudou-se para Guadalajara, na Espanha, e juntou-se à equipe de treinamento do técnico cubano Ivan Pedroso, que tem a venezuelana Yulimar Rojas (agora tetracampeã mundial), a espanhola Ana Peteleiro (bronze em Tóquio), e o português Nelson Evora (campeão olímpico em 2008 e seis vezes medalhista mundial), entre outros.

Foi treinando entre os melhores do mundo que Núbia estabeleceu recorde brasileiro em 2018 (14,69 m) e ficou a um centímetro dele novamente em 2021, para conseguir vaga em Tóquio-2020, já em meio às dores crônicas. "O Ivan nunca deixou de acreditar em mim. Ele dizia: 'Você saltou 14,68 m porque você é boa. Não foi sorte, não é milagre. Se ele acredita, então eu também tenho que acreditar", afirma Núbia, que perdeu quatro Mundiais por causa de problemas físicos.

As dores no tendão não permitiram que Núbia competisse nem em 2022, nem em 2023. "Esse ano eu não saltei porque eu precisava treinar. Vinha de dois anos quase sem treinar, treinando picado. Não conseguia fazer salto, sentia muita dor. Eu percebi que não tinha caixa, e a solução era treinar. A gente tirou o ano para fortalecer o corpo, para chegar bem em janeiro do ano que vem e aguentar o ano", explica.

Só que agora seu técnico não é mais Pedroso. Sem resultados, ela perdeu patrocínio, notadamente do Barcelona, e não teve mais grana para pagar o alto salário do melhor treinador do mundo. "Por mais que ele dissesse para eu ficar, não é a mesma coisa. Eu não estava me sentindo muito à vontade com a situação. Não tinha saída. Então e gente sentou, e ele disse que o que eu precisasse ele estaria ali do lado."

Núbia, que este ano se casou com um espanhol, segue morando e treinando em Guadalajara, mas agora treinada pelo cubano naturalizado espanhol Luis Felipe Meniz, atleta olímpico em 2000, 2004 e 2008. "É um cara muito bom, que tem um grupo menor. E realmente foi uma boa escolha, eu estou feliz, não mudou nada. Eles têm a mesma linha de trabalho, e está dando certo", avalia.

Aos 27 anos, bancando a carreira com parte do pé de meia que fez na Espanha e com o soldo da Marinha, Núbia entende que ainda tem muito a realizar. "Eu gosto de competir. A sensação que eu tenho na pista é maravilhosa, e acho que eu tenho muito para dar para o atletismo. Eu ainda estou com 27 anos, pretendo fazer as Olimpíadas que vem e a seguinte. É um processo, e eu tenho que ter a cabeça no lugar e seguir em frente, porque eu sei que eu posso saltar."

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