Tricampeã sul-americana na ginástica agora quer ir à Olimpíada no breaking
Um atleta de breaking pode levar anos para aprender a fazer o movimento que Manu Aparecida faz na foto que ilustra esta reportagem. Ela, porém, já sabia fazê-lo antes mesmo do primeiro treino. Tricampeã sul-americana de ginástica aeróbica, a menina carioca de 18 anos largou o antigo esporte depois de ganhar o pan-americano júnior e já faz sucesso na nova modalidade.
"Coloco movimentos de mortal da ginástica, coloco mortal, porque eu sei que isso que me faz diferente. Acho que é o natural, não tem como negar, fingir que eu sou outra coisa. Eu estava no workshop de um b-boy da França, ele pediu para fazer um footwork (trabalho de pé) que mostrasse quem você é, eu fiz, e ele: 'Você é da ginástica, não é?'. Eu não sou mais, mas minha história transparece na dança", ela admite.
Breaking e ginástica aeróbica têm mais semelhanças do que uma primeira impressão pode sugerir. Os dois tem a mesma lógica: movimentos do corpo ritmados ao som de uma música, desenvolvendo flexibilidade, equilíbrio, força e agilidade. Diversos movimentos são parecidos, especialmente os de chão.
Daí a adaptação tão rápida de Manu, que pratica a ginástica desde os 4 anos. Começou em um projeto social de Georgette Vidor, na artística, chegou a ser convidada para treinar em Três Rios (RJ), onde Flávia Saraiva foi lapidada, mas sua mãe não gostou da ideia e ela acabou migrando para a aeróbica. Destaque na base, foi prata em uma Copa do Mundo, venceu quatro Campeonatos Brasileiros, e foi a única representante do Brasil no Mundial do ano passado.
O breaking surgiu há dois anos. "Eu já tinha assistido batalhas na internet, tinha gostado, e comentei em uma reunião de família. Um amigo nosso falou que conhecia um cara que dançava há muito tempo, a gente entrou em contato, ele chamou para ir para o treino, e deu super certo. Eu já sabia a maioria dos saltos, então era muito mais fácil de aprender. Já tinha os elementos de força. Eu precisava treinar mais a dança, que é o que me faltava mais", lembra.
O amigo é o coreógrafo Alex Pitt, que abriu as portas do breaking para Manu, até que ela ficasse apaixonada, a ponto de desistir do esporte ao qual tinha dedicado sua vida toda até ali. "Eu estava treinando os dois e comecei a perceber o que eu sentia quando estava treinando cada um deles. Eu gostava muito mais de treinar o breaking. Ia toda feliz para o treino, e na ginástica ficava meio 'ah, tenho que ir'. Eu não gosto de ser assim, estava sentindo que o que estava me instigando mesmo era o breaking."
Quando pôs fim à vitoriosa carreira na ginástica aeróbica, um esporte que não é olímpico, ainda que seja admistrado pela CBG, já participava de competições de breaking no Brasil. Foi 26ª no ranking brasileiro do ano passado, abriu a temporada em 13º na primeira etapa de 2023, e terminou em quinto a etapa mais recente, derrotada somente pela experiente Nathana.
As duas são bolsistas do mesmo projeto, o Breaking Social, que oferece aulas gratuitas e núcleos de capacitação e treinamento de breaking para jovens na Glória, bairro central do Rio de Janeiro. Para ir até lá três vezes na semana, Manu, que mora em Itaboraí (RJ), passa três horas no transporte público só na ida. Contando os três treinos com Pitty, são 21 horas de treinamento por semana, além de toda preparação física e dos estudos.
O sonho é chegar aos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028. "Eu foco no processo, acho que o resultado é uma consequência. Com certeza o objetivo de muitas pessoas que tão fazendo breiaking hoje em dia é a Olimpíada, mas meu maior foco hoje é na minha evolução no brekaing. Quero ir para a Olimpíada, mas quer que isso seja uma consequêcia."
Com mais de 500 mil seguidores no TikTok, onde usa a @manoellaaparecida, a b-girl tem seu próximo compromisso na primeira edição do Breaking Battle Brasil. O torneio, ligado ao projeto social do qual faz parte, tem premiação em dinheiro (R$ 5 mil para a primeira colocada) e será disputado no Centro de Movimento Deborah Colker, na Glória.
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