Sem nível técnico, Brasil deve devolver vagas olímpicas recém-conquistadas
A Confederação Brasileira de Vela (CBVela) não irá utilizar as vagas olímpicas conquistadas por Bruno Fontes e por Gabriela Kidd nas classes ILCA 6 e ILCA 7, respectivamente. A comissão técnica entende que nenhum atleta demonstrou ter nível técnico para disputar os Jogos de Paris com estes barcos, equivalentes aos antigos "Laser". Na Nacra 17, a vaga também está em risco.
O critério foi estabelecido ainda em 2020, e mantido em três atualizações anuais desde então. Para fazer jus a ser convocado para as Olimpíadas, um atleta ou dupla deveria terminar os Mundiais de 2022 ou 2023 entre os 16 primeiros colocados, ou entre os oito países mais bem classificados. No ano passado, esse leque foi ampliado com a inclusão de um evento por classe em 2024.
Na ILCA, foram apontados os Mundiais, realizados em janeiro. Gabriela Kidd foi 35ª colocada no feminino (antigo Laser Radial) em Mar del Plata, na Argentina, e conquistou para o Brasil a quinta de sete vagas que estavam em jogo. Bruno Fontes terminou em 74º o masculino (antigo Laser), na Austrália, mas se beneficiou do fato de Chile e Guatemala terem se classificado pelo Mundial e aberto as vagas conquistadas pelo Pan aos próximos da classificação de Santiago-2023, incluindo o Brasil.
Ambos, porém, encerraram a série de três chances sem terem atingido os critérios estabelecidos pela CBVela para convocar alguém às Olimpíadas. Gabriela havia sido 55ª em 2023, e 58º em 2022. Bruno Fontes, que tem 19 Mundiais no currículo, vinha de um 36º e um 38º lugares.
Procurada, a CBVela confirmou a decisão. "Desde 2020 os atletas estavam cientes dos critérios que seriam utilizados para definir a equipe que irá representar o país em Paris-2024. Hoje temos duas classes (ILCA 6 e ILCA 7) que não atingiram o índice nos três eventos selecionados para tal e que, segundo a Nota Oficial, não terão outra oportunidade para fazê-lo. Por parte do estafe técnico da CBVela a decisão é a de seguirmos os critérios estabelecidos na Nota Oficial", disse, em nota, o coordenador técnico Klaus Biekarck.
Ele afirmou não entender que deixar de levar atletas brasileiros às Olimpíadas, mesmo tendo este direito, possa causar algum prejuízo à vela brasileira no médio e longo prazo. "Acreditamos que o critério estabelecido não irá afetar significativamente a modalidade, uma vez que boa parte dos atuais atletas em campanha já têm certa idade e é bem provável que não seguirão em campanha visando à participação em Los Angeles-2028", comentou.
Quem está garantido, quem corre risco e quem ainda sonha
O Brasil está classificado às Olimpíadas nas classes IQFoil masculina (antiga RS:X, de prancha à vela), Fórmula Kite (kitesurfe masculina), 49erFX (feminina) e Nacra17 (mista). Nas três primeiras, Matheus Isaac, Bruno Lobo e Martine Grael/Kahena Kunze foram os únicos a atingir o índice técnico e estão garantidos em Paris — as provas serão em Marselha.
Na Nacra17, mista, o Brasil tem duas duplas com bons resultados, mas sem índice técnico. Samuel Albrecht/Gabriela Nicolino foi 17ª colocada no Mundial de 2022, e João Siemsen/Marina Arndt terminou em 20º. Em 2023, eles foram 29º e 31º, respectivamente. A vaga veio pelo bronze de Samuca e Gabriela no Pan.
Agora, essas duas duplas terão o Troféu Princesa Sofia, na Espanha, como terceira e última chance de atingir o índice técnico. Se ambas conseguirem, a vaga será de quem chegar na frente. Nas demais classes, o Brasil até segue tendo chances de classificação, mas os velejadores precisam ser top 16 do último evento elegível: o Princesa Sofia no kite feminino, e o Mundial na 49er (masculina) e na 470 mista. Todos os eventos serão na Espanha. Esses dois últimos, terminando em 3 de março.
Na IQFoil feminina, o Brasil já não tem mais chance de classificação. Ainda existem vagas em jogo, mas nem Giovanna Prada nem Bruna Martineli atingiram o índice técnico pelos Mundiais, o último deles encerrado na semana passada.
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