Basquete feminino merecia ir a Paris, mas não mereceu se classificar
"Peraí, Demétrio, esse título tá contraditório", pode dizer o leitor. Não está, e vou explicar.
Pelo que demonstrou durante todo o ciclo olímpico, a seleção brasileira feminina tinha basquete e resultados para estar nos Jogos Olímpicos. Venceu a AmeriCup e o Pan, encontrou um time, revelou duas ótimas pivôs, e evoluiu muito na comparação com quatro anos atrás. Chegou ao Pré-Olímpico com um time titular ótimo, melhor em quase duas décadas
Mas, de novo, foi prejudicada pelo péssimo trabalho da Fiba com o basquete feminino e, na hora H, não fez por merecer a vaga. E a culpa é tanto da comissão técnica (muito) como do time.
O processo de eliminação
Já escrevi algumas vezes sobre o descaso da Fiba com as mulheres. Enquanto no basquete masculino o calendário de seleções é cada vez mais amplo, com Eliminatórias longas e um Mundial com 32 times, no feminino as equipes jogam muito pouco, e o Mundial tem 12 equipes.
Daí surgiu a bizarrice: Pré-Olímpicos (e Pré-Mundiais) que não servem para classificar, mas para eliminar. Dezesseis times jogam esses 'Pré', para quatro serem eliminadas. Em 2022, por causa da pandemia, o Pré-Mundial teve 17 equipes, e só uma não foi ao Mundial — justamente o Brasil.
Na corrida olímpica, os EUA já estavam classificados como campeões mundiais, e o Brasil venceu a Copa América (superando inclusive um time alternativo dos EUA na final). Deveria, por isso, ir às Olimpíadas, como em qualquer modalidae. Mas a regra não era essa.
Os semifinalistas da Copa América ainda puderam jogar uma repescagem continental para chegar ao Pré-Olímpico, onde pegaram um grupo mais fácil do que do Brasil, que se classificou diretamente. Porto Rico só precisou ganhar da Nova Zelândia para ir a Paris, enquanto o Canadá bateu a Hungria.
Faltou bola em casa
À seleção brasileira (que, vale frisar, estava no pote 2 do sorteio) coube enfrentar Austrália, Alemanha e Sérvia, jogando em casa, em Belém. Rivais fortes, mas vencíveis, especialmente a Alemanha, que nunca jogou Olimpíada. E é aí que entra o "não mereceu se classificar". Porque, ao fim de três rodadas, não há o que de se dizer de um resultado injusto.
Contra a Austrália, muito por conta da comissão técnica, composta por oito pessoas, e que não percebeu que a Austrália jogou os últimos cinco minutos com um ponto a mais do que marcou, por um erro da mesa, escalada pela própria Confederação Brasileira de Basquete — e a CBB impôs como regra, pelo que soube o blog, que os profissionais não poderiam ser os que trabalham no NBB.
Diante da Sérvia, perdeu por falhas coletivas. Bolas queimando com arremessos de três desequilibrados, poucas infiltrações, banco ajudando pouco. Mas nada se compara ao erro absurdo, amador, inadmissível, da comissão técnica, que não instruiu o time em quadra contra a Sérvia a segurar a derrota por quatro pontos.
Era uma desvantagem que permitia ao Brasil jogar por uma vitória simples contra a Alemanha. Faltando poucos segundos no cronômetro, a seleção forçou uma falta das sérvias e acabou perdendo de sete. Como consequência, foi à última rodada precisando ganhar de oito.
Se já era difícil vencer por qualquer placar, imagine por oito. O Brasil chegou a ter quatro pontos na frente, mas, pressionado a buscar mais quatro, o time errou demais. A ótima Kamilla (talento geracional) caiu na pilha das alemãs, agrediu uma rival, e sofreu falta técnica. Tainá estragou um ataque chutando (com o pé mesmo) duas vezes a bola. Débora tomou um toco vexatório.
E, de novo, a comissão não ajudou na estratégia. Sem chance de ganhar de oito no final do tempo regulamentar, o time deveria buscar o empate, ir à prorrogação, e ganhar cinco minutos para chegar à margem necessária. Acabou perdendo de dois (e tentando um arremesso de três no estouro do cronômetro) e sendo eliminado.
Já são 12 anos (doze anos!!!) sem ganhar de rivais europeias. Tudo bem que são poucos jogos, mas é um número absurdo. Dez anos sem se classificar a nenhum torneio de nível mundial, tendo jogado a Rio-2016 como dona da casa. E, fora de Paris, perde a chance de combinar a geração de Damiris/Ramona/Débora/Tainá no auge com a dupla Stephanie/Kamilla. Em Los Angeles, as mais experientes já estarão mais perto dos 40 do que dos 30.
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