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Vivi relembra drama por vaga olímpica: dois dias de angústia e duas festas

Sabe aquela sensação de gol confirmado pelo VAR? Você comemora a bola na rede, passa uns minutos angustiado pela checagem, e festeja de novo quando o árbitro aponta o centro do campo de forma definitiva. Viviane Junglbut viveu a mesma adrenalina, mas por mais de dois dias, até poder comemorar a vaga olímpica.

Não que tenha sido necessária a checagem de vídeo, que até existe nas maratonas aquáticas, para confirmar o 14º lugar dela no Mundial de Doha (Qatar). A dúvida da World Aquatics, que escreveu os critérios de classificação para as Olimpíadas, era se o resultado classificaria ela ou a britânica Leah Phoebe Crisp, 17ª colocada.

Foram mais de 48 horas de espera até a confirmação do que, antes da prova, parecia óbvio para Vivi e a equipe dela. "A gente tinha lido o regulamento antes de competir, só que claro que a gente não esperava contar com o regulamento, queria terminar entre as 13. Quando cheguei em 14º, fomos olhar a classificação e vimos que tinha duas francesas. Como a França já tinha uma vaga por ser da casa, então a vaga era minha", conta.

Vivi só festejou discretamente e pediu para o técnico Kiko checar com a organização. Tudo certo, a vaga era mesmo dela. Quando a dupla já estava no hotel, à noite, veio a ressalva, também da World Aquatics. Pelo regulamento, talvez a vaga fosse para o próximo país que ainda não tinha uma atleta classificada, e o Brasil já tinha Ana Marcela Cunha.

"No dia seguinte, depois da prova masculina teve uma reunião com o pessoal da World Aquatics e a gente levantou a questão que a gente queria que o regulamento fosse cumprido. Estavam querendo inverter a ordem que estava descrita no regulamento. Só na outra noite, dois dias e meio depois da prova, é que veio o comunicado, extraoficial, de que estava tudo certo, que eu estava classificada", continua.

Durante as mais de 50 horas até poder gritar seu "gol", Vivi tentou, sem muito sucesso, segurar a ansiedade. "Eu sabia que tinha dado meu máximo e era isso que eu tentava pensar. 'Agora já foi, já nadei, fiz tudo que eu podia dentro d'água'. Foi muito tempo treinando para essa prova, para pegar essa vaga, e fico nessa de será que vai, será que não vai. Não foi fácil."

Foco nas águas abertas

Classificada a Paris nas águas abertas, Vivi não vai tentar a vaga olímpica também na natação. Medalhista das últimas duas edições dos Jogos Pan-Americanos nas duas modalidades, ela sabe que, nos Jogos Olímpicos, o sarrafo nas piscinas é bem mais alto.

"Eu gosto muito de nadar as provas de piscina, não foi fácil tomar essa decisão, mas foi bem necessário por dois motivos. Um porque a seletiva olímpica de piscina é no inicio de maio, e para eu fazer o índice não é uma coisa simples. Teria de nadar para o meu melhor tempo da vida, e para isso teria que fazer treino específico. Perderia dois meses e meio de preparação para a maratona. Além disso, as provas de piscina são antes da maratona em Paris, e a gente vê um caminho muito mais trilhado na maratona que na piscina."

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Atleta do Grêmio Náutico União (GNU), a gaúcha até deve participar da seletiva olímpica de natação, no Rio, mas para somar pontos para o clube, não para buscar o índice, que é de 16min09s09 nos 1.500m. O melhor da vida dela é 16min09s27. É algo que daria para chegar, mas que demandaria uma energia que agora ela pretende dedicar à maratona.

"Eu acredito que eu não tenho a menor chance de brigar por uma medalha na piscina", reconhece. "Treinar nas provas de piscina ia me desgastar para eu seguir buscando um top 10, top 5, brigar por medalha na maratona. Essa foi nossa decisão. Acho que foi a melhor decisão que a gente poderia tomar", avalia.

Caminho até Paris

A cerca de cinco meses das Olimpíadas, Vivi já tem um planejamento traçado até Paris. Deve fazer um camping de treinamento no Rio, aproveitando a viagem para a Seletiva Olímpica, e participará de três etapas de Copa do Mundo.

"Acho que estar nadando em alto nível sempre tem algo a acrescentar. Na maratona, quanto mais provas fizer, mais experiência e bagagem a gente vai ter. E por uma delas ser na Europa, na Itália, acredito que vá ter mais gente nadando. Como a gente só treina em piscina, é uma oportunidade de fazer tiro de 10 km no mar", explica.

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Ainda que a prova olímpica esteja planejada para o Rio Sena (mas pode ser que mude, por causa da poluição), ela não tem no calendário nenhum treinamento específico em condições semelhantes ao do Sena. Também não irá fazer camping na altitude, algo comum para atletas de provas de resistência.

"Eu particularmente tenho dificuldade de ficar muito tempo fora de casa, principalmente alimentação. Se eu fosse, iria só eu e meu técnico. Então a gente achou melhor eu ficar treinando com o apoio e a estrutura que tenho no meu clube, na minha casa."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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