EUA disputam Campeonato Europeu para não precisar ir à Venezuela
Os Estados Unidos pediram, e receberam, autorização para disputar o Campeonato Europeu de Levantamento de Peso. A exceção foi concedida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) após os norte-americanos alegarem que se auto impõem restrições de viagem à Venezuela, onde o Campeonato Pan-Americano está acontecendo.
Em carta ao COI e à Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF), o Comitê Olímpico dos EUA (USOPC) disse que o pedido era baseado em "preocupações com a segurança da delegação dos EUA e nas restrições de viagens e desafios associados a ela".
Foi o próprio governo dos Estados Unidos que, em 2019, determinou a suspensão de voos diretos com a Venezuela. Além disso, o governo norte-americano proíbe empresas privadas de realizarem tal trajeto. "Obter um visto nos Estados Unidos também não é uma opção, porque as relações diplomáticas foram rompidas", explicou o comitê dos EUA. Quando não há voos diretos, os atletas costumam fazer escalas.
Além disso, os norte-americanos alegaram que o Departamento de Estado dos EUA classifica como "não recomendável" a viagem de cidadãos do país à Venezuela. O pedido foi atendido pela IWF e pelo COI, ainda que nenhum comunicado tenha sido emitido, até a história ser vazada por um jornalista britânico.
O caso chama atenção porque o esporte olímpico convive com diversas situações em que atletas de um país têm dificuldades para entrar em outro por causa de conflitos diplomáticos e políticos entre essas nações, mas nunca uma exceção do tipo havia sido aberta.
A novidade beneficia os EUA, que têm vetado a presença de atletas em todo tipo de competição que recebe. No ano passado, cinco titulares de um time de futebol do Haiti foram proibidos de entrar nos EUA para um jogo da Champions League da Concacaf. Em setembro, atletas de Cuba e do Quênia não receberam visto para disputar a Diamond League em Eugene. Quando isso acontece, o prejudicado simplesmente fica sem competir.
No caso do levantamento de peso, alguns dos norte-americanos precisavam participar do campeonato regional para cumprir critério de elegibilidade para as Olimpíadas. Se não fossem à Venezuela, também não poderiam ir a Paris.
Daí o pedido para entrarem em outro continental, sem disputar medalha, mas contando para cumprir a regra de elegibilidade e para o ranking olímpico. Com a autorização, os norte-americanos competiram em Sofia (Bulgária), no meio de fevereiro, e lá fizeram marcas que valeriam ao menos três ouros no Campeonato Pan-Americano. Os atletas, porém, não ganharam medalha em nenhuma das duas competições.
O levantamento de peso tem dos critérios mais complexos de classificação às Olimpíadas. As vagas, 10 por categoria, são definidas através de um ranking de resultados, mas cada país só pode levar um máximo de três homens e três mulheres a Paris.
Essa regra afeta diretamente a China, que tem as líderes do ranking mundial em todas as cinco categorias femininas, mas só pode levar três delas às Olimpíadas. Os EUA também têm atletas na zona de classificação em todas as categorias, e terá que deixar duas de fora de Paris.
Essas escolhas devem definir a participação do Brasil em Paris. Amanda Schott, que se machucou durante o Pan, é a 11ª no ranking da categoria até 71 kg, mas a China tende a não abrir mão dessa vaga, já que isso poderia abrir caminho para um ouro dos EUA. Laura Amaro, bronze no Pan, é 10ª na até 81 kg, logo atrás de uma norte-americana que, pela distância para as melhores do mundo, pode ser escolhida para ser cortada. Resta apenas uma Copa do Mundo na Tailândia, em abril, para ser disputada, valendo para o ranking.
Os demais brasileiros já não cumpriram critérios de elegibilidade.
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