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Como Star Wars ajudou advogada a se classificar para as Olimpíadas

Mariana Pistoia é a grande novidade na delegação da esgrima brasileira que vai aos Jogos de Paris. Aos 25 anos, ela é a única estreante de um trio que também tem Nathalie Moellhausen e Guilherme Toldo, ambos com três Olimpíadas no currículo.

Gaúcha, ela é companheira de treino, de clube e de arma (florete) de Toldo no Grêmio Náutico União (GNU). "A gente tem a troca de experiência. Ele me apoia bastante e é muito legal ter alguém que te inspira muito todos os dias. Ter alguém para treinar, alguém com os mesmos objetivos", ela me disse durante os Jogos Pan-Americanos do ano passado.

O começo dela na esgrima foi curioso: o irmão e um primo quebravam a casa brincando de espada, imitando os sabres de luz de Star Wars. A tia achou que seria uma boa ideia colocar todo mundo na esgrima, inclusive Mariana, que tinha 10 anos.

Aos 15, já rodava o mundo em competições no florete. Daí até começar a brigar por coisas grandes no adulto, não foi um pulo, longe disso. E, no meio do caminho, ainda teve uma graduação em Direito, pela Fundação Escola Superior do Ministério Público, de Porto Alegre.

Inscrita na OAB, ela ainda atua pouco como advogada. "Minha rotina é quase 100% dedicada à esgrima, mas nossa carreira de atleta é limitada. A partir de certa idade fica difícil conseguir resultados, então é importante ter outras opções."

Ainda assim ela encontra tempo para uma pós-graduação. Estuda Direito Civil, também na FMP, mas de forma remota. "Eles me dão bolsa integral, consegui um programa de bolsas EAD, consigo assistir viajando. A gente faz estágio de treinamento fora, às vezes passo meses fora, não tem como", ela explicou. No futuro, quer prestar concurso público, provavelmente na magistratura estadual.

Na esgrima, o plano A era conseguir a classificação a Paris através do ranking olímpico. EUA e Canadá se classificaram por equipes no florete, e por isso não concorriam pela vaga regional no individual. Mas Mariana perdeu por pouco a corrida para a chilena Arantza Inostroza.

Aí foi necessário o plano B, para o qual ela já estava se preparando. Para ter direito a ser convocada ao Pré-Olímpico, abriu mão de ficar morando no exterior no ano passado para disputar cinco torneios no Brasil, já que o critério de escolha era o ranking nacional. Deu certo.

Em San José, na Costa Rica, foi só oitava da poule (fase em que as atletas são ranqueadas para o mata-mata) e estreou nas oitavas vencendo a porto-riquenha Gabriela Padua. Nas quartas, eliminou a jamaicana Yasmin Campbell, de quem havia perdido de 5 a 0 nas poules. Depois, na semi, reencontrou Tatiana Prieto, da Colômbia.

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Imagem: MIriam Jeske/COB

As duas já haviam jogado no Pan de Santiago, no ano passado, quando a brasileira foi bronze. Naquele dia, me disse que a competição valia principalmente pela experiência de enfrentar potenciais rivais pela vaga olímpica. Dito e feito. No novo encontro, 15 a 8 para Mariana.

Já a final, valendo vaga olímpica, foi duríssima. A venezuelana Isis Giménez não havia jogado o Pan e era uma desconhecida para a brasileira, que sofreu muito com câimbras, a ponto de precisar de atendimento. O confronto terminou empatado, e só foi decidido no ponto de ouro, com vitória de Mariana.

"A final foi sem dúvidas o jogo mais duro de toda a competição. Primeiro porque eu sabia que eu tinha que ganhar e segundo porque eu acabei tendo várias câimbras por causa da adrenalina e do calor que estava lá. Eu já tinha tido câimbra na mão na semifinal e na final tive na panturrilha esquerda. Depois tive nas duas pernas e nos pés. Por isso eu acho que a palavra para definir este jogo foi 'superação'. Se eu tivesse em condições físicas melhores, talvez eu tivesse entregado um jogo melhor. Mas estou muito feliz que em nenhum momento eu desisti, lutei até o final e consegui esta classificação", disse Mariana após o confronto.

Agora é se preparar para a estreia olímpica, em Paris, maior palco da esgrima mundial. "É um sonho que se torna realidade. A gente treina a vida inteira e desde que eu entrei na esgrima eu tinha este sonho. Mas acima de tudo, eu tive um ano super intenso. Desde abril de 2023 eu venho jogando uma série de competições e todas elas valiam algo relacionado a esta classificação. Por isso eu tinha que dar sempre o meu máximo. Até esta última, que eu tive que dar meus 100% e estar muito focada mentalmente."

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • O texto informava incorretamente que Mariana Pistoia atua como advogada em processos nos quais ela, na verdade, é parte autora. O texto foi corrigido.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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