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ReportagemEsporte

'Contrato psicológico' vai definir se vela terá equipe cheia em Paris

A Confederação Brasileira de Vela (CBVela) deve definir entre hoje e amanhã, e anunciar na quinta-feira (2), a equipe que levará à Olimpíada. São oito barcos classificados pelos critérios internacionais, mas só três dentro do índice técnico exigido pela própria confederação brasileira.

Como antecipou o Olhar Olímpico, esse critério, estabelecido para o ciclo olímpico, não será cumprido. Alguns atletas serão convocados mesmo sem o índice. Quantos? É isso que resta fechar;

"Depende do contrato psicológico que fizer com esses atletas. A gente vai ter escassez de recursos, não tem um pra um. Não tem credencial nem bote para isso. Quem fez o índice vai ter prioridade", explica Marco Aurélio Sá Ribeiro, presidente da CBVela.

A razão está detalhada neste texto. Em resumo: quanto mais atletas o Brasil levar a Marselha, onde serão disputadas as provas de vela, melhor estrutura terá a disposição: mais botes, mais contêineres, mais treinadores. Os beneficiados seriam Martine Grael/Kahena Kunze (49erFX), Bruno Lobo (Fórmula Kite) e Matheus Isaac (IQFoil), os únicos que atingiram o índice, e que usufruiriam prioritariamente desse upgrade.

Os demais precisam topar o "contrato psicológico": ir à Olimpíada sabendo que não serão prioridade, mas com o empenho em dia. "A gente não vai levar quem não esteja comprometido com resultado. A gente teve uma classificação esse fim de semana, do Marco Grael e do Gabriel Simões, eles tê, que apresentar um plano. Qual é o plano? Você sabe que nenhum atleta gosta de perder, de ter mau resultado. A gente está apresentando o apoio que ele vai ter para isso".

Ainda sem certidão de débitos, por causa de dívidas deixadas pela antiga Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), a CBVela não recebe dinheiro do COB e restrigiu bastante o apoio a velejadores neste ciclo olímpico. Só Martine e Kahena tiveram um suporte completo, enquanto os demais receberam ajudas pontuais e tiveram que pagar pela campanha, seja com dinheiro próprio ou de patrocinadores.

Não vai ser muito diferente até a Olimpíada, ainda que a CBVela pague algumas contas — Ribeiro cita que, no Troféu Princesa Sofia, o time brasileiro teve treinadores e três botes pagos pela confederação.

Por que índice?

Não utilizar vagas olímpicas conquistadas internacionalmente é algo incomum no esporte brasileiro. Só a natação tem critérios que permitem isso, porque exige-se a obtenção de índices em uma seletiva. Mesmo assim, para este ciclo olímpico, foi criada uma "salvaguarda" que diminui muito a chance de tal veto acontecer.

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Na vela, Sá Ribeiro argumenta que o critério é estatístico. "Se o atleta está dentro do top16, estatisticamente ele tem uma chance de ganhar uma medalha. Por outro lado, é muito dificil quem não é top16 do mundo da vela ganhar uma medalha olímpica. É impossivel? Não. Mas não é o normal. Como a gente quer focar na medalha, a gente criou esse indicador."

Um critério semelhante já existiu no ciclo passado, e foi flexibilizado para permitir à dupla da 470 Masculina se classificar mesmo sem o "índice". Na época, havia a justificativa de que um evento elegível para obtenção deste resultado havia sido cancelado. Henrique Haddad e Bruno Bethlem foram ao Japão e terminaram em 16º lugar entre 19 barcos, melhor apenas que o Canadá e os cotistas da África e da Oceania.

Naquela Olimpíada, o Brasil tinha cinco chances de pódio: Martine/Kahena (ouro na 49erFX), Jorge Zarif (foi 14º na Finn), Robert Scheidt (oitavo na Laser), Fernanda Oliveira/Ana Barbachan (nono na 470) e Samuel Albrecht/Gabriela Nicolino (décimos na nacra). Patrícia Freitas ainda foi 10ª na RS:X. Todos os proeiros, com exceção de Kahena, estão aposentados da vela olímpica.

Agora, pela estatística, são três chances. Sá Ribeiro diz que o momento é de entresafra e que as coisas vão melhorar para 2028. "Vem aí uma geração muito boa. A gente tem seis sub21 muito fortes no Laser, a gente até considerou levar para a Olimpíada um garoto de 15 anos, 1,85m, biotipo do Robert. O garoto é um foguete. No ILCA tem uma menina de 14 anos (Valentina Guimarães) que quase ganhou da Gabriela Kidd no Brasileiro. Mas a gente não quer queimar. Vamos esperar ganhar um Mundial da Juventude e se credenciar."

Sem os jovens, o Brasil deve ter Bruno Fontes e Gabriela Kidd nos barcos ILCA (antigos Laser), caso eles aceitem as condições. Na Nacra 17, terão a chance João Siemsen e Marina Arndt, e Marco Grael/Gabriel Simões será a dupla convidada a apresentar um plano na 49er. Na 470 há dois barcos concorrendo: Henrique Haddad/Isabel Swam e Juliana Duque/Rafael Martins.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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