Lesões tiram Fratus de Paris: 'Não tem mais lágrimas para chorar'
Bruno Fratus procura, mas não encontra mais lágrimas. Já chorou tudo que o corpo aguentava. Levou dias para admitir para si mesmo o que anunciou nesta terça-feira (30): não está em condições de buscar o índice olímpico na seletiva brasileira de natação, na semana que vem. Em outras palavras: não vai à Olimpíada de Paris. "Não tem mais lágrimas para chorar", disse.
O anúncio veio menos de meia hora antes de a CBDA divulgar a start-list da competição, com a presença dele com o 19º melhor tempo dos 50m livre, um 22s82 feito no único torneio que disputou de agosto de 2022 para cá: o Troféu José Finkel do ano passado, quando nadou para constar.
Fratus foi inscrito pelo Pinheiros antes de assumir para si mesmo que não dava. Depois de quatro cirurgias quase consecutivas e um enorme desgaste mental, não teria como "honrar seu legado" e competir no nível em que sempre esteve acostumado.
"Do mesmo jeito que muita gente foi beneficiada pelo ciclo para Tóquio, que foi mais longo, dessa vez acabou ficando apertado em três anos. Para mim não faz sentido ir até lá [Paris] sem estar competitivo. Depois de três Olimpíadas, uma medalha, já tive toda experiência olímpica, não faz sentido ir até lá só para estar presente. Só iria se fosse para retribuir a expectativa colocada em cima do meu resultado, do meu legado, do meu nome", disse ele ao Olhar Olímpico.
Ainda em negação, ele chegou a cogitar um plano B. O Troféu Sette Colli, em Roma, em junho, é aceito pela World Aquatics como tomada de tempo para a Olimpíada. Ele tentaria nadar essa competição, ganhando mais algumas semanas de preparação, e se fizesse o índice lá, poderia entrar na equipe. Foi o que ele propôs à CBDA, que não topou.
Fratus ainda pode ir a Roma, buscar o índice, e colocar pressão na CBDA, caso as duas vagas no 50m não sejam ocupadas na seletiva. Mas ele já admite que Paris não será para ele. "Não é do meu interesse fazer toda a classificação da seleção gire em torno de mim. Uma lesão atrás da outra faz com que a seletiva tanto agora quanto no Sette Colli seja irrelevante, seja indiferente."
E agora?
Aos 34 anos, fora da próxima Olimpíada, o natural seria Bruno Fratus se aposentar. Mas não é este o plano. A ideia é voltar à piscina daqui a uns meses, depois de merecidas férias. Casado há 12 anos com a ex-nadadora e agora técnica dele Michelle Lenhardt, até hoje não teve uma lua de mel, por exemplo.
"Preciso de um hiato fora da ágiua para deixar o corpo respirar. Sempre me gabei do fato de que não tirava férias por muito tempo, não tirava mais que cinco dias. Então talvez eu esteja precisando tirar alguns meses fora da água e deixar o corpo respirar, e a cabeça também. Cada treino que vou só para sentir dor, só para não conseguir nadar, vai diminuindo a vontade de voltar para a piscina."
Mas essa volta à natação será, como cada início de ciclo olímpico, pensando em Los Angeles, ou será um ano por vez? Na resposta, Fratus usa uma palavra que aprendeu a gostar assistindo ao BBB: "coerência".
"Se eu estabeleço agora que vou até Los Angeles eu não estou respeitando essa necessidade de descanso, que está sendo urgente agora. Se estabeleço que não vou, eu não respeito o amor que tenho ao esporte, minha vontade, o legado que construí. É broxante aposentar por uma lesão. Eu estou preferindo não pensar nisso. Se eu começar a pensar nisso agora, não vai ser condizente com meu discurso, não vai ser coerente."
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