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ReportagemEsporte

Mag realiza o sonho da vida inteira: formar um atleta olímpico no Amazonas

Desde sempre, ou quase isso, o atletismo brasileiro acontece no eixo Rio-SP. A pelo menos 4 mil quilômetros de distância, Margareth Bahia sonhou por quase um quarto de século quebrar esse paradigma e formar um atleta olímpico, de ponta, no Amazonas.

Em Paris-2024, esse sonho será realizado.

Margareth é a técnica de Pedro Nunes, 24, recordista sul-americano do lançamento do dardo. Ele ainda não tem o fortíssimo índice olímpico, atingido só por nove atletas, mas aparece muito bem no ranking olímpico, já que é o atual campeão brasileiro, sul-americano e ibero-americano. No Pan, foi prata.

"Eu acredito que o Pedro veio evoluindo de uma maneira muito saudável. Ele não tem nenhuma lesão grave, e eu sempre tive muito cuidado com isso. A gente tem relação de muita troca. Eu não avanço demais se eu perceber que ele pode vir a se lesionar. Montamos uma equipe em Manaus com fisioterapeuta, nutricionista, preparador. Na nossa dificuldade, tentamos montar uma condição para ele treinar em alto nível em Manaus", conta ela, conhecida por Mag.

Atleta na juventude, ela passou a orientar treinamentos quando a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), na gestão do amazonense Roberto Gesta, levou treinadores cubanos, como Julian Mejias, para trabalhar em um centro de treinamento em Manaus. Os caribenhos foram embora em 2002, mas os ensinamentos deixados por eles, e por outros estrangeiros que passaram por lá e ministraram clínicas, ficou.

Ao longo de duas décadas, Margareth revelou bons nomes em Manaus, como Alexon Maximiano, bronze no Pan do Rio-2007. Mas foi outro ex-atleta dela, Jander Cardoso Nunes, 12º do ranking nacional de todos os tempos, que lhe trouxe um diamante bruto.

"O Jander foi passar férias em Parintins e, quando voltou, chegou pra mim e falou: tenho um sobrinho muito forte, conversei com ele, ele tem talento, se a senhora quiser, ele vem para Manaus." Marg já conhecia a fama de Pedro, que havia vencido a versão estadual dos Jogos Escolares com uma marca muito boa, e claro que quis.

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Imagem: Reprodução

Parintinense e Garantido, como a treinadora, Pedro chegou a Manaus antes de fazer 15 anos e foi morar na VIla Olímpica. E, de cara, impressionou. "Quando eu vi ele aplicar a velocidade numa pelota, vi que ele tinha um braço melhor que do Alexon. A dificuldade é o tamanho dele, mas pensei: 'Posso ir adaptando a técnica, para uma que ele se adeque a ele. Eu falei pro Jander: 'Se der tudo certo, acho que vamos chegar em grandes competições com ele."

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Dito e feito. Em dez anos, Pedro foi medalhista em Sul-Americanos e Pan-Americanos, na base e no adulto, e quinto no Mundial Sub20 de 2018. Em Budapeste, no ano passado, Pedro estreou em Mundiais adultos, levando consigo Mag, a primeira técnica amazonense a ser convocada para um competição do tipo.

O feito é especial porque o mais comum é que atletas São Paulo e Rio atraiam os talentos descobertos em outros centros. Mas Pedro ficou em Manaus, com apoio do governo do estado, e segue treinando na Vila Olímpica, que cumpre seu papel de CT, mas não está nas melhores condições.

"A manutenção de uma pista sintética é muito cara. Nossa pista está desgastada, tem um tapete, mas não é o ideal. A gente tem conversado com governo, com a secretaria de Estado, para fazer uma reforma. Mas a gente tem os melhores dardos do mundo, tem uma saleta de musculação onde ele pode trabalhar o LPO. A sala de musculação que a gente tinha teve que ser liberada para um projeto de recuperação de pessoas com covid, depois do que aconteceu em Manaus na pandemia", explica a treinadora.

Naquele período de restrições, Mag buscava Pedro na casa de uma tia dele e o levava para a Vila Olímpica, treinar. Quando o espaço estava fechado, os treinos eram no quintal da casa dos pais da treinadora, que tem um muro alto, onde é possível arremessar os implementos usados no treino. Afinal, não é qualquer parede que aguenta uma medicine ball tacada por um atleta olímpico de lançamento.

"Nosso sonho é ter um espaço coberto igual tem em Bragança Paulista (SP), no CT da confederação, com paredões. Em Manaus chove muito, e isso atrapalha nossos treinos", lamenta Mag.

Ela trocou a estratégia de preparação física de Pedro nos últimos dois anos, para um trabalho de levantamento de peso com um treinador da modalidade que já foi atleta dela, Tiago Bindá. E os resultados apareceram: ele não para de evoluir. Foi de 74,41m em 2021, para 81,00m em 2022 e 85,11 este ano. Até então, no país, só Julio Cesar Miranda de Oliveira havia lançado acima de 80 metros.

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"Todo o trabalho de preparação e avaliação dele é para que possa lançar acima de 85m, e isso ele demonstrou que é capaz no Ibero-americano. Com essa marca é muito difícil ficar de fora de uma final olímpica. Nosso primeiro objetivo é estar na Olimpíada e o segundo é estar entre os oito melhores", adianta ela.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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