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Diogo amadurece longe de casa e assume papel de nova cara da ginástica

Diogo Soares era um garoto tímido, do interior de São Paulo, quando disputou sua primeira Olimpíada, em Tóquio. Três anos depois, ele vai a Paris mais maduro, articulado, dono de si. Deixou a casa dos pais em Piracicaba e a academia onde treinou a vida toda para morar sozinho no Rio e defender o gigante Flamengo.

"Tive que evoluir muito, aprender muito", ele contou ao Olhar Olímpico. "Foi bem complicado, porque mudou minha vida. Eu morava com meus pais, treinava em academia particular, aparelhagem não oficial. Sou muito grato à oportunidade que estou tendo, de estar aprendendo muita coisa, tanto pessoal quanto como atleta, e isso com certeza interferiu na minha ginástica."

Diogo, como noticiou o UOL Esporte em 2021, é fruto da obsessão do técnico Daniel Biscalchin, que montou uma academia de ginástica artística em Piracicaba pensando em escolinha para crianças, jamais em formar um atleta de ponta. Mas Diogo tinha talento indiscutível, e os dois chegaram à seleção mesmo com os treinos naquela estrutura precária.

"A gente tinha aparelhagem não oficial. Mesmo quando a CBG mandou aparelhos, eles não cabiam no espaço. O tablado do solo não cabia, por exemplo", lembra Diogo. A estrutura precária não o impediu de chegar aos Jogos de Tóquio como caçula do time brasileiro, mas colocava um limite até onde ele poderia chegar.

Foi aí que veio o convite do Flamengo e a possibilidade de mudar de vida. Morar sozinho, distante dos pais, em uma cidade muito maior que Piracicaba, em um ginásio com ótima aparelhagem, defendendo uma das camisas mais pesadas do esporte brasileiro.

"Eu sinto falta da minha cidade como um todo. Muita saudade da minha vida, como era de ter meus pais e meus amigos por perto. O mais difícil é conviver com essa sensação de saudade, não é sempre que dá para ir visitar, principalmente em ano olímpico, ano pré-olímpico. Mas vir para cá fez com que eu melhorasse, tivesse um local de treinamento mais adequado para competição de alto nível", diz.

Daniel seguiu seu treinador, e a equipe de treinamento segue pequena. Se na feminina o Flamengo é a base da seleção, no masculino o Rubro-Negro tem só Diogo competindo em alto nível, mas já o suficiente para ter 50% da equipe olímpica.

É que, desfalcada de Caio Souza e Arthur Zanetti no Mundial Pré-Olímpico, o Brasil foi 13º e não conseguiu a vaga por equipes. Classificou somente dois ginastas a Paris: Diogo, pelo resultado do individual geral naquele Mundial, e mais um, a escolha da comissão técnica.

Diogo tem a certeza de que vai à França. E a maturidade de reconhecer que seu espaço nesta edição dos Jogos Olímpicos não é no pódio. E está tudo bem. Aos 22 anos, ele teve um ciclo de evolução, mas não chegou à disputa por medalhas na prova que define o ginasta mais completo do mundo.

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Imagem: Alexandre Loureiro/COB

"Na cabeça do atleta se passa muita coisa, quando ele está sozinho passa uma coisa, quando dá entrevista, passa outra, quando falam com ele passa outra. A gente sonha com medalha olímpica, todos os dias em que a gente treina a gente está enxergando a medalha olímpica. Mas a gente nunca pode pensar na colheita se a gente não plantar. Eu tento pensar na plantação, que a colheita vai vir. A gente tem o sonho de medalhas olímpicas, mas tem que pensar em outras coisas antes disso", explica.

Décimo do Mundial do ano passado, com 81,832 pontos, Diogo teve seu grande teste nesta temporada no Campeonato Pan-Americano, em Santa Marta (Colômbia). Errou em dois aparelhos e foi quinto. O ouro foi para Caio, que Diogo continua considerando o ginasta mais completo do país — a entrevista aconteceu antes de Caio lesionar o ombro e ficar fora do Troféu Brasil e, consequentemente, das Olimpíadas.

Em um futuro breve, a coroa de melhor do país será passada. Caio tem 30 anos, Arthur Nory também, e Arthur Zanetti já está com 34. A tendência é que logo Diogo se torne o mais velho da seleção.

"Uma hora vai chegar de eu ser o mais velho, e cumprir o mesmo papel que outros tiveram, desde o Diego [Hypolito] entre os que eu conheci. Depois o Arthur, o Chico, o Caio, Nory. Todos tiveram esse papel de incentivar e mostrar pros mais novos como é estar ali, passar a experiência, o que aprendeu. Me sinto feliz de também poder compartilhar minha carreira com os jovens."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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