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ReportagemEsporte

Brasil terá defasagem de técnicos em Paris, e parte da culpa é do futebol

Equipes brasileiras classificadas aos Jogos Olímpicos de Paris terão uma redução no número de pessoas em suas comissões técnicas multidisciplinares na comparação com edições anteriores.

Isso está gerando insatisfação dentro do Time Brasil, já que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) é quem faz a distribuição dessas credenciais 'Ao' (de oficial) entre as confederações, por critérios que não são públicos. A diretoria do COB só informa às confederações os números relativos àquela modalidade.

As credenciais são distribuídas pelo Comitê Organizador ao comitê olímpico nacional (no caso, o COB), em uma proporção próxima a 40% do total de atletas. O Brasil terá entre 260 e 270 esportistas em Paris, a não ser que se classifique no basquete masculino, ante 302 nos Jogos Olímpicos de Tóquio, uma redução de mais de 10%, explicada principalmente pela não classificação das seleções masculina de futebol e handebol, que estiveram no Japão e não vão à França.

Com algumas exceções, como veterinário, tratador e proprietário no hipismo, essas credenciais são idênticas para todas as modalidades, e para todas as funções. Cabe ao COB decidir se vai levar um técnico a mais no atletismo, um fisioterapeuta exclusivo para uma modalidade chave, ou um funcionário de operações, por exemplo.

Os esportes coletivos ajudam nessa conta porque, em um time de futebol ou handebol, o número de membros da comissão técnica credenciados é menor do que 40% do total de atletas. Na outra ponta da balança, o pentatlo moderno precisa, em tese, de quatro técnicos (esgrima, natação, hipismo e tiro/corrida) para uma única atleta classificada. Na esgrima o Brasil classificou três atletas em três armas, e os técnicos são diferentes.

Em Paris, na comparação com Tóquio, o Brasil estará presente em mais modalidades, mas com menos atletas. Precisa de mais treinadores, mas tem direito a menos credenciais. E os cortes têm atingido inclusive modalidades que não têm culpa nessa diminuição.

O surfe é um exemplo. Em Tóquio, o time brasileiro teve direito a quatro credenciais de "oficiais", e a decisão da Confederação Brasileira de Surfe (CBSurfe) foi permitir que cada um dos quatro atletas indicasse um nome. Agora, com seis classificados, serão só três credenciais ofertadas à confederação, que optou por simplesmente não levar um treinador ao Taiti.

Ninguém reclama publicamente, porque teme que, ao fazer isso, reduza as chances de convencer o COB a flexibilizar. Mas a reportagem conversou com pessoas de 12 modalidades, e dez falaram em redução, citando casos em que até chefes de equipe estão sem credencial. Só em uma houve aumento no número.

Os portadores dessas credenciais de oficiais têm direito a frequentar (e dormir) na Vila Olímpica e de ingressar nos locais de competição e nos centros de treinamentos oficiais dos Jogos. Cerca de 50% delas podem "rodar" uma vez, o que significa que ela é usada inicialmente por uma pessoa, que a repassa a uma segunda quando vai embora de Paris. Essa estratégia é usada especialmente com confederações que têm mais de uma modalidade, não concomitantes.

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Treinadores pessoais

O COB também tem direito a outro tipo de credencial, de nível "P", que só dá acesso às áreas oficiais de treinamento. Algumas confederações citaram à coluna que conseguiram essas credenciais junto ao COB, mas terão que pagar os custos desses profissionais, incluindo hospedagem fora da Vila Olímpica. São em alguns casos treinadores pessoais, mas também preparadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos, etc.

A Confederação Brasileira de Skate (CBSk), por outro lado, vem reclamando que nunca recebeu resposta de pedido semelhante feito ao COB. A ideia é credenciar os técnicos individuais dos atletas, para que eles possam acompanhar os treinamentos nas pistas, todas inéditas — logo, desconhecidas dos atletas.

Nesta terça-feira, Duda Musa, presidente da CBSk, fez uma queixa pública, citando, entre várias outras coisas, que o COB reduziu em 40% o número de credenciais da CBSk e que e que o comitê "negocia diretamente com os skatistas as credenciais P".

Ele não citou diretamente, mas fazia referência a Rayssa Leal, cujo irmão e treinador já foi credenciado pelo COB para ter uma dessas credenciais P, como treinador pessoal. O comitê alega que preferiu ouvir diretamente de Rayssa quem ela queria ter ao seu lado como técnico em Paris, e que fará o mesmo com outros alguns skatistas quando estes se classificarem aos Jogos — a adolescente é a única 100% antes do início do último Pré-Olímpico, neste fim de semana.

Os portadores de credenciais "P" até podem entrar na Vila Olímpica, mas com um "day pass" (o COB tem uma cota deles por dia), sem dormir lá. É comum que esses credenciados entrem nas competições como torcedores, com ingressos, muitas vezes os destinados às famílias dos atletas, e passem orientações da arquibancada mesmo.

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Já os presidentes de confederação não serão credenciados e irão a Paris como espectadores, com transporte, hospedagem, diária e ingressos bancados pelo comitê brasileiro.

O Olhar Olímpico questionou o COB sobre o número de credenciais já prometidas a cada confederação, A comitê respondeu que "nenhum número em relação à distribuição das credenciais de oficiais para as modalidades é definitivo até que todas as classificações estejam encerradas e a quantidade de credenciais esteja efetivamente definida".

A coluna também questionou, para efeito de comparação, como foi a divisão em Tóquio, mas não teve resposta. O COB não respondeu ainda quantas credenciais já estão garantidas, qual a expectativa de credenciais no total, e quantas teve nos Jogos Olímpicos de 2020.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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