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Vôlei amplia campings e intercâmbio na base em busca de retomar hegemonia

Houve um tempo, não muito tempo atrás, que o Brasil dominava as categorias de base do vôlei mundial. Na primeira década deste século, foram 11 títulos e 17 pódios em 20 participações em Mundiais Sub-19 e Sub-21, masculino e feminino. Nos últimos 10 anos, a conta caiu para quatro medalhas em 20 possíveis.

Aquela antiga hegemonia nunca mais nenhum outro país terá. Mas a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) acredita que é possível — e necessário — voltar a investir pesado nas categorias de base, um dos eixos do novo planejamento esportivo do vôlei, que está sendo lançado agora.

Os detalhes foram apresentados ao Olhar Olímpico por Jorge Bichara, diretor de Esportes da CBV, durante evento no departamento de Moselle, na França, com o qual a confederação assinou um convênio para utilizar até 2028 um centro de treinamento próximo a Metz. Todas as seleções de base devem passar por lá anualmente, facilitando o intercâmbio.

No passado, parte do sucesso do vôlei brasileiro na base se explicava por esse intercâmbio. As seleções de base passavam toda a temporada internacional reunidas e viajavam o mundo jogando contra europeus, asiáticos e norte-americanos. Mas, nos últimos anos, com a desvalorização do real e o fim da pujança financeira da confederação, esse intercâmbio praticamente acabou.

Agora, a retomada passa por Moselle, onde a seleção sub-19 masculina passou duas semanas e fez nove amistosos. A "seleção de novos" masculina, que poderia também ser chamada de "seleção de aspirantes" (já que nem todos são jovens) passará por lá no começo de julho, depois de uma série de seis amistosos em Santa Catarina, contra Chile e Argentina. Na Europa, enfrentará a França. Depois, enfrentará Japão, Coreia do Sul e Austrália, na Coreia.

De acordo com Bichara, a seleção de novos passará a ser convocada anualmente, com calendário complementar à da equipe principal, de forma a dar rodagem internacional também para aqueles que estão mais próximos de chegar à "seleção". Como a renovação tem sido mais difícil no masculino, entre os homens o time de novos já trabalha este ano. No feminino, começa no ano que vem.

No feminino, um grupo de 20 atletas de idade sub-21 está treinando em Saquarema por 10 dias, no CT recentemente renomeado Centro de Desenvolvimento do Voleibol Enel de Saquarema. Enquanto Helena e Luzia jogam a VNL com a equipe principal, jovens ainda sem tanto destaque são avaliadas, entre elas a líbero Antônia, filha do ex-jogador Alex, ídolo de Cruzeiro, Palmeiras e Coritiba.

Para a CBV, o projeto da seleção de novos tem como objetivo não só performance (entregar resultados nas competições) como renovação de atletas para o vôlei brasileiro e para a seleção. Cada equipe ficará concentrada por quatro meses do ano, com comissão técnica indicada pelos profissionais do time principal.

Funciona assim para toda a cadeia: Zé Roberto escolhe quem será o técnico do time de novas, do sub-21, do sub-19 e sub-17, enquanto o médico da feminina escolhe o médico dessas mesmas equipes, o preparador escolhe o preparador, e por aí vai. A ideia é que o trabalho seja semelhante ao desenvolvido na principal, tanto no feminino quanto no masculino.

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Outra novidade é a ampliação de um programa de desenvolvimento de base que inclui clínicas de aperfeiçoamento por posição (no mínimo seis em 2024), campings como este da sub-21 feminina (ao menos quatro no ano) e laboratórios de avaliação e treinamento de atletas (outros quatro). Além disso, olheiros têm acompanhado competições de base pelo país. A meta é encontrar talentos para a seleção que não necessariamente estão nos grandes clubes e a caminho da profissionalização.

Isso passa também por um aumento no número de torneios. Com a criação dos Campeonatos Brasileiros Interclubes, ligados ao Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), o país tem tanto o brasileiro de seleções (sub-16 e sub-19, em três divisões) quanto os brasileiros interclubes (sub-16, sub-17, sub-19 e sub-21).

A confederação também traça como meta, no adulto, ter mais equipes profissionais, e em todas as cinco regiões do país. Na próxima temporada, a Superliga B terá 14 times, não mais 12, e a ideia é que os clubes desse segundo escalão se estabeleçam para conseguirem fôlego para uma temporada mais ampla do que os atuais cinco meses. Quanto mais longa a temporada, mais meses de salário na conta dos jogadores.

Na praia

O planejamento também inclui, naturalmente, o vôlei de praia. Ali, parte do trabalho já está sendo realizada, incluindo a contratação de uma comissão técnica "neutra" para auxiliar as duplas, encabeçada pelo treinador Leandro Brachola. Um fisioterapeuta também rodou todo o Circuito Mundial, desde 2022, para atender as duplas brasileiras.

Os resultados têm aparecido, ainda que inconstantes. Ainda assim, três duplas vão a Paris como cabeças de chave, e todas as quatro classificadas estão no top 10 do mundo.

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A modalidade também carece de renovação, e a CBV também tem esse diagnóstico. A entidade reorganizou o calendário nacional e, depois de receber duras críticas e fazer adaptações, entende que o sistema de pirâmide agora funciona bem.

Os campeonatos estaduais agora fazem parte do calendário e distribuem premiação paga pela CBV, mas exclusiva a duplas sub-23 — antes, só um jogador precisava ser jovem. A ideia é incentivar o vôlei de praia nos estados e descobrir talentos, que chegam aos regionais, depois ao circuito Challenger e por fim ao Aberto/Top 16.

* O colunista viajou a Metz a convite do departamento de Moselle

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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