Com condenação anulada, Nuzman circula no vôlei, mas adia retorno político
Quase dez anos depois dos Jogos Olímpicos do Rio, a mera presença de Carlos Arthur Nuzman dentro de um ginásio gera surpresa. Foram quase seis anos completamente afastado, física e politicamente, do esporte brasileiro.
Agora sem qualquer condenação na Justiça, o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e da Rio-2016 voltou a frequentar o meio em que ainda é muito querido, o vôlei. O retorno à política esportiva, porém, segue na pauta, para quando conseguir provar sua inocência de forma "cabal".
Nuzman renunciou à presidência do COB em outubro de 2017, quando estava preso preventivamente, acusado de ter agido em conluio com o então governador do Rio, Sergio Cabral, entre outros, para subornar eleitores do Comitê Olímpico Internacional (COI) para trazer as Olimpíadas ao Rio, e se aproveitar das obras olímpicas para enriquecer. A prova de que ele se aproveitou do suposto esquema seriam barras de ouro que mantinha na Suíça.
Foram 15 dias preso, até um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) colocá-lo em liberdade com a condição, entre outras, de não voltar a frequentar a sede do COB. Depois disso, passou a viver longe dos olhares da imprensa.
Só reapareceu publicamente na inauguração da nova sede da CBV, há um ano, convidado como presidente de honra da confederação, posto que nunca cassaram. No mês passado, foi duas vezes ao Maracanãzinho para homenagens da confederação a ex-atletas olímpicos e circulou normalmente entre eles.
"O Nuzman é é uma figura que é do voleibol, ele nunca se afastou. Ele talvez tenha ficado um pouco mais distante em função de ter ido para o COB. Ele foi eleito por todas as 27 federações como presidente de honra da CBV alguns anos atrás e a gente tem é que reconhecer que foi um prêmio mais do que merecido. Todos nós que começamos no voleibol lá atrás sabemos que ele colocou o vôlei brasileiro e o esporte brasileiro em outro patamar", diz Radamés Lattari, presidente da CBV.
Situação jurídica
Nuzman foi condenado pelo então juiz Marcelo Bretas, em novembro de 2021, a 30 anos e 11 meses de prisão, por crimes de corrupção passiva, pertinência à organização criminosa, lavagem de ativos, evasão de divisas e concurso material. Essa sentença, porém, foi anulada em março, pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
O TRF-2 entendeu que Bretas, agora afastado do cargo pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), agiu para atrair para si processos que envolviam Cabral. Bretas depois se declarou "incompetente" para julgar diversos desses processos, mas o que envolvia Nuzman, especificamente, já estava nas mãos do TRF-2.
Em uma primeira decisão do tribunal de segunda instância, a condenação foi anulada. Agora, a próxima etapa é a 1ª Turma do TRF-2 decidir se Bretas era incompetente para atuar no processo, o que o anularia como um todo. A tendência é isso acontecer, e cair, entre outras, a decisão que bloqueia todos os bens de Nuzman, que passou por aperto financeiro nos últimos anos, sendo socorrido por amigos.
Com o processo anulado, o caso voltaria para o Ministério Público Federal (MPF-RJ), a quem caberia decidir apresentar uma nova denúncia, ou não. O TRF-2 também precisa decidir se essa provável nova denúncia seria distribuída aleatoriamente, ou se iria para a 10ª Vara, onde já corre um processo semelhante que não envolve Nuzman.
Se por um lado a anulação da sentença tirou um peso das costas de Nuzman, por outro adiou o momento mais aguardado por ele, da absolvição. "A defesa, por ocasião do julgamento, pediu ao Tribunal a superação da nulidade, em favor do enfrentamento do mérito e a consequente absolvição de todas as acusações, com a proclamação cabal e plena de sua inocência". explica João Francisco Neto, advogado do ex-dirigente.
Em outras palavras: Nuzman queria que o processo continuasse, porque acreditava que seria absolvido. Agora, com a tendência de tudo voltar à estaca zero, as oportunidades de sua inocência ser comprovada também voltam do início: com a não apresentação da denúncia pelo MPF, ou com a rejeição do caso pelo juiz competente, ou pelo próprio julgamento.
Vai voltar?
Aos 82 anos, e já sem grande vigor físico, de acordo com pessoas que estiveram com ele, Nuzman não quer pular etapas. Até hoje não deu entrevistas e seguirá recebendo essa orientação dos advogados enquanto sua inocência não for comprovada.
Enquanto isso, também não deve retomar a vida pública no esporte. Hoje, Nuzman não tem qualquer influência no COB e também não participa das articulações na CBV. Seu envolvimento, que nunca cessou, é social, em uma modalidade em que os "olímpicos" têm uma espécie de confraria.
"Todos nós das gerações mais antigas somos gratos e reconhecemos que essas mudanças [que profissionalizaram o vôlei] se deram com o Nuzman. E as federações, quando ele foi para o COB, decidiram o eleger presidente de honra. A gente o mantém neste cargo reconhecendo tudo que ele fez pelo voleibol", explica Radamés.
No COB, a maior parte dos atuais presidentes de confederação nunca esteve com Nuzman e não sofre nenhuma influência dele. Os únicos que foram dirigentes nos quase 25 anos em que ele presidiu o comitê estão de saída e, em tese, não podem se reeleger no ciclo de eleições de 2024/2025.
O veterano, porém, dificilmente seguirá longe dos holofotes se (ou quando, para ele) conseguir comprovar sua inocência. Ele é membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e deverá cobrar sua readmição no posto, que o permitiria inclusive ter assento no Conselho de Administração do COB e voto na assembleia da entidade.
Mas que ninguém se surpreenda, também, se Nuzman se apresentar como candidato a uma confederação, que não o vôlei, e buscar um retorno ativo ao esporte brasileiro.
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