Corredor de baixa visão é surpresa no revezamento 4x100m olímpico do Brasil
Um nome completamente fora do radar vai compor o 4x100m do Brasil no atletismo dos Jogos Olímpicos de Paris. Hygor Gabriel surpreendeu com a prata no Troféu Brasil, deixando Erik Cardoso para trás, e ganhou o direito de ser convocado.
Ele só descobriu isso ao conversar com este colunista, na zona mista. Perguntei se ele estava feliz com a vaga, e Hygor se surpreendeu. "Como assim? Sério mesmo?". Ainda checou outras três vezes a informação. Mas é sério.
Hygor, que nasceu em Natal e corre por uma equipe de Recife, foi a grande surpresa do primeiro dia do Troféu Brasil. Correu bem as eliminatórias, deixando para trás Erik e Rodrigo Naascimento, e fez 10s13 na final, chegando só atrás de Felipe Bardi, com 10s05. Erik (10s19) e Rodrigo (10s23) vieram depois.
O potiguar é o tipo de herói improvável. Treina em pista esburacada em Natal e monta os próprios treinos, para ele e para o irmão mais novo. "Vejo no YouTube e faço", contou.
Ele tem vaga no time olímpico porque a composição do revezamento prioriza quem tem índice nos 100m (Bardi e Erik Cardoso), depois quem tem índice nos 200m ou é o melhor do ranking mundial na distância (Renan Gallina) e na sequência quem se classificar aos 100m pelo ranking (Paulo André). Depois, a quinta vaga é do campeão do Troféu Brasil, ou do vice. E Hygor se encaixa aí.
Mas ele também entraria na vaga seguinte, da lista do ranking nacional, com seu 10s13.
O torneio ocorre no Centro Paralímpico, que pode ser a próxima casa dele. Hygor usa óculos para os 14 graus de miopia no olho esquerdo, mas já não enxerga do direito. "Só vejo umas manchas, e os óculos não fazem diferença. Uso por estar acostumado", explica.
Hygor seria elegível para competir na classe T13 do atletismo paralímpico, mas também não estava no radar do CPB, que já marcou para ele fazer a classificação funcional depois da Olimpíada. Se elegível, o brasileiro se tornaria o atleta paralímpico mais rápido de todos os tempos.
Ele tem tatuado no pescoço a frase "1% de chance, 99% de fé". Aos 21 anos, já tem boa parte do corpo pintado. Antes do Troféu Brasil, fez um anjo guerreiro enorme no peito. "Esse anjo sou eu, porque eu sou guerreiro ", disse.
"Eu vim preparado para não correr os 100m. Meus colegas de revezamento que falaram: 'Corre lá'. Eu não entrei nem pensando em final e agora estou nas Olimpíadas", admitiu o atleta, que veio do salto em distância, onde foi quatro vezes campeão brasileiro na base, e atualmente se dedica mais aos 200m.
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