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ReportagemEsporte

Ex-diretor da CBF transforma ginástica em máquina de patrocínios

Por anos, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) teve um único patrocinador, a Caixa Econômica Federal. Só nos últimos quatro meses, fechou com seis, e vem mais por aí.

O novo momento coincide com a chegada de um ex-diretor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para captar patrocínios. Gilberto Ratto acertou com sete marcas, seis delas já presentes no uniforme que os ginastas usaram na convocação da equipe olímpica na artística.

"Eu não conhecia a ginástica. Eu comecei a conhecer a ginástica em novembro do ano passado, quando o Cacá mandou uma passagem para mim falando: 'Vem fazer uma reunião comigo no Paraná.' Era um torneio infanto-juvenil de ginástica rítmica, e pensei: 'Pô, legal pra caralho'", conta Ratto. Cacá é o diretor-geral da CBG, filho da presidente Maria Luciene Resende.

Equipe de ginástica artística que vai para as Olimpíadas de Paris-2024
Equipe de ginástica artística que vai para as Olimpíadas de Paris-2024 Imagem: Ricardo Bufolin / CBG

Ela presidente a entidade desde 2009, com mandato até o início de 2025, mas nos últimos anos é Cacá quem administra a confederação no dia a dia. Marido da técnica Camila Ferezin, da ginástica rítmica, foi ele quem articulou a vinda do Mundial da modalidade para o Brasil, no ano que vem, no que se espera venha a ser o grande momento do esporte no país.

A expectativa é alta porque o conjunto vive ótima fase (ganhou sua primeira medalha de prata em Copas do Mundo na prova olímpica) e Maria Eduarda Alexandre vem alcançando resultados inéditos no individual.

A fase é ótima também no trampolim, em que Camilla Lopes e Alice Gomes foram finalistas do Mundial, e obviamente na artística, com Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e cia colocando o Brasil em patamar inédito e histórico.

"A seleção forte ajuda qualquer modalidade. O futebol também é assim. Quando eu estava no futebol, a seleção forte era uma coisa. A seleção não forte é outra coisa no mercado", avalia o publicitário.

Desde que começou a prospectar patrocinadores para a ginástica, ouviu muito mais "nãos" do que "sims", como é de praxe nesse meio. Mas conseguiu fechar acordos importantes com marcas como Vivo, Correios (na volta da estatal aos esportes olímpicos) e Neutrox.

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"Eu tive que me reinventar um pouco. No futebol eu falava de cerveja, bebida. Agora eu tenho que entender de cabelo feminino com dupla ponta. Porra, eu tive que estudar a dupla ponta. A nossa campanha com a Neutrox dá as ativações em cima disso, é a desconstrução do cabelo. Quando a gente vai conversar com a marca, você tem que mostrar por que a CBG vai ajudar ela. A sinergia, o público feminino, e ideias de ativações durante o ano. Você tem que facilitar a vida do departamento de marketing do cara."

A CBG não fala em valores, mas os contratos são todos sem o antigo modelo de divisão em cotas — ouro, prata e bronze, por exemplo. No uniforme da seleção, todos têm o mesmo espaço, ainda que os valores sejam diferentes. A diferenciação entre as marcas que pagam mais e as que pagam menos está em outras propriedades e ações.

Assim como acontece no futebol, quem patrocina a CBG não tem direitos sobre a imagem das atletas. Rebeca, por exemplo, é patrocinada pela Vult, concorrente da Neutrox. Ratto, entende, porém, que a CBG deve servir de ponte entre as marcas que patrocinam a confederação e as atletas da ginástica.

"Não pode usar a Rebeca, tudo bem. Mas a Jade tem um cabelo vermelho maravilhoso. A Flavinha tem um outro tipo de cabelo. São dois exemplos, mas tem mais de 50 tipos de cabelo aqui (no Troféu Brasil de Ginástica Artística). Vamos começar a cuidar delas. E essas duas, eu ponho o contrato à parte, indico as empresárias delas, e coloco para conversar".

Atletas e confederações com patrocinadores concorrentes muitas vezes já foi sinônimo de problema. O futebol olímpico mesmo: em Tóquio, os jogadores da seleção, patrocinada pela Nike, taparam a marca da Peak no uniforme de pódio, e geraram stress com o COB.

Ratto diz que na ginástica isso não tem sido problema, porque há boa vontade por parte das principais ginastas, que têm seus próprios contratos. "As atletas têm a ginástica quase como uma causa. Isso ajuda muito, muito. Eu vejo atletas felizes pelos contratos da confederação, dando parabéns. Tem esporte que o atleta chega perguntando da parte dele. Na ginástica a gente faz o que? Traz a mídia, traz o mercado, e esse movimento, conjunto, valoriza o atleta."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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