Newsletter: Reajuste do Bolsa Atleta é melhor que nada, pior que necessário
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O governo Lula (PT) anunciou na semana passada um reajuste de 10,86% nos valores pagos pelo Bolsa Atleta. É muito melhor do que fizeram seus antecessores (zero), mas ainda assim é pouco.
Bato nessa tecla há anos, e insisto nela por entender que o Bolsa Atleta revolucionou o esporte brasileiro de alto rendimento e tem uma fatia grande dos méritos por o Brasil ter chegado à disputa do top10 do quadro de medalhas das Olimpíadas e ao top5 das Paralimpíadas.
Mas o Bolsa Atleta só era ótimo quando ele dava poder de compra aos atletas. Escrevi sobre isso na primeira newsletter deste ano. Repito o texto:
Na época do último reajuste, em 2010, o salário mínimo era de R$ 510. Hoje, é de R$ 1.410. Uma conta de padaria: um atleta medalhista sul-americano ganhava, em 2010, três salários mínimos e meio (R$ 1.850). Hoje, ganha pouco mais de um salário mínimo.
Se antes dava para se desenvolver como atleta com o Bolsa Atleta nacional (R$ 925), que equivalia a quase dois salários mínimos, hoje não há como sobreviver só com ele, que não chega a dois terços de um salário.
Voltamos a julho/2024: um reajuste de menos de 11% não muda o diagnóstico. A bolsa nacional vai para R$ 1.025. A internacional, para R$ 2.050. Um medalhista sul-americano, com esse auxílio, não paga aluguel perto do local de treinamento + supermercado em uma cidade grande.
É claro que o cenário de 2004, quando o Bolsa Atleta foi criado, ou o de 2010, data do agora penúltimo reajuste, é diferente do de 2024. O programa federal deu origem a programas semelhantes em diversos estados e municípios. O rendimento de um atleta pode ser composto por duas, três, quatro bolsas.
Mas, vejam bem: PODE. Porque não há um estudo de quantos atletas recebem quantas bolsas, qual o rendimento médio deles, o que eles precisam fazer para subir de patamar financeiro. Temer (MDB) e Bolsonaro (PL) não fizeram e Lula, que ao menos deu o aumento, também não. É uma política pública não baseada em dados.
Até porque os programas municipais e estaduais variam muito. Os atletas do "Time Rio" ganham R$ 8 mil por mês. Os da Bolsa Atleta Cidade de São Paulo, R$ 1,3 mil. Isso ficando só na comparação entre as duas maiores cidades do país.
Vinte anos depois da criação do programa, já passou da hora não só de os valores serem reajustados, mas de suas regras também. O esporte precisa discutir isso a sério, a convite do Ministério do Esporte.
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