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Brasileira vive luto após ter vaga olímpica e ser barrada sem ter culpa

Lívia Avancini não dá um passo em falso desde fevereiro. Diz todo dia ao sistema de controle de dopagem onde vai dormir, onde vai acordar, onde e que horas vai treinar. E aguarda o oficial de controle de dopagem que nunca foi ao seu encontro em Londrina, no Paraná.

Agora, está impedida de ir aos Jogos Olímpicos de Paris, porque a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) nunca bateu à sua porta, mesmo ela estando sempre lá, aguardando.

"É uma sensação de revolta, parece que alguém muito próximo morreu, que um ente querido morreu. Eu estou vivendo um luto", disse ela ao Olhar Olímpico, nesta quarta-feira.

No domingo, ela foi incluída pela World Athetics (WA) na lista de classificadas no arremesso de peso. Festejou enfim, aos 32 anos, ter alcançado o sonho de uma vida dedicada ao esporte. Na segunda, já não aparecia na relação. Horas depois, soube pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) que sua inscrição havia sido rejeitada.

Lívia não atende um critério de elegibilidade imposto em fevereiro pela WA a três países, um deles o Brasil: cada atleta precisa ter sido submetido a três exames antidoping surpresa nos 10 meses que antecedem os Jogos, até 4 de julho. Logo, desde setembro. É uma punição pelo que a WA entende que vinha sendo uma cobertura falha sobre os atletas brasileiros nos últimos anos.

A arremessadora de peso é um exemplo. Faz parte da elite nacional, foi ao último Mundial, mas não fazia parte do grupo de controle da ABCD. Sem precisar preencher o chamado Where About, um sistema internacional, não tinha como ser testada em casa ou em seu local de treinamento — oficialmente, a ABCD não sabia onde encontrá-la.

Isso só mudou quando veio a punição da WA A ABCD montou uma espécie de força-tarefa, que fez 470 testes surpresa em quatro meses em atletas do atletismo, um número expressivo em um país que faz 2,5 mil no total por ano. Mas só testou Lívia em duas oportunidades: uma em abril, outra em maio.

"Eu ficava sempre achando que eles iriam vir aqui na minha cidade. Como eu tava na listagem de possíveis testes, achei que ser barrada era uma questão que não ia acontece. Achei que todo mundo faria, que seria uma questão sanada. Fiz também dois testes em competição, mas eles não eram critério. E um terceiro teste surpresa em agosto do ano passado, antes do prazo", conta.

A classificação de Lívia já era bastante provável desde o final abril. O arremesso de peso tem 32 vagas e a brasileira pulou para o 34º lugar em 1º maio. Depois, subiu para a 35º posição, que manteve depois de um desempenho ruim no Troféu Brasil. Mas era de conhecimento dela, da CBAt e a ABCD que a lista poderia "rodar", com outras classificadas ou desistindo ou não sendo convocadas por seus países.

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Foi o que aconteceu na atualização de domingo da lista, que mostrou Lívia classificada. Depois disso a CBAt fez sua inscrição, que foi rejeitada. A confederação alega que apelou junto à WA, mas teve o pleito rejeitado. Agora, diz que vai contestar na Corte Arbitral do Esporte (CAS), o que tende a só ser decidido dias antes das Olimpíadas, ou até durante os Jogos.

Lívia busca forças para continuar treinando para o caso de uma vitória judicial. Difícil é encontrá-las.

"Fiquei extremamente feliz no domingo, mas na segunda desabei e ainda não estou na minha saúde mental plena. Tenho que continuar treinado, como se a decisão fosse favorável. Vou me preparar, vou treinar, mas voo ficar com o coração triste, angustiada, agoniada, com ansiedade, vai intereferir no treino. Treinar vai ajudar, porque é uma forma de escape físico e mental. Para mim, o treino é um ambiente acolhedor, agradável."

Nem sempre foi assim. Grande promessa na base, campeã sul-americana junior, Lívia teve um burnout treinando em Uberlândia (MG) no final do ciclo para Londres e se afastou do esporte. Passou anos com resultados intermediários, aquele vai não vai, e quando melhorou um pouco, quase foi a Tóquio.

Decidiu que faria de tudo para estar nos Jogos de Paris, apesar das dificuldades. Treina em dois períodos, dá de cinco a seis aulas de personal trainer por dia, divide os cuidados da casa com a esposa e faz uma segunda graduação em Nutrição. Só recentemente se tornou atleta da Aeronáutica, o que deu um desafogo financeiro a ela e uma maior oportunidade de focar só no esporte.

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"Já vi diferenças, mudanças em relação ao treinamento. Até hoje nunca me dediquei exclusivamente ao esporte, nunca fui só atleta. Mas botei na cabeça que vou para uma Olimpíada antes de me aposentar. Se não for nessa, vai ser na próxima."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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