Newsletter: Doping de Danielzinho e o prejuízo para o esporte no Brasil
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Não que a suspensão por doping de Daniel Nascimento seja uma surpresa para quem acompanha a carreira dele de perto. Mas o baque da notícia tende a ser terrível para o esporte no Brasil, muito além dos Jogos Olímpicos de Paris.
Danielzinho, como é conhecido, testou positivo para três anabolizantes, em exame surpresa realizado no Brasil em 4 de julho. Doze dias atrás, pouco depois de a esposa dele, Grazi Zarri, ser suspensa por doping. No caso dela, o exame aconteceu em janeiro, de acordo com a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).
Claro que há sempre a possibilidade de se comprovar a famosa "contaminação de suplementos alimentares", mas convenhamos que é muita coincidência isso acontecer com marido e mulher com a diferença de poucos meses, e para tantas substâncias anabolizantes, com ambos vivendo e treinando em um país com centenas de casos recentes de doping entre fundistas.
A suspensão, por enquanto provisória, põe naturalmente em xeque tudo que Daniel conquistou nos últimos anos. Logo, põe em xeque praticamente tudo que os maratonistas brasileiros conquistaram nesse mesmo período, já que ele era o único nome do país competindo em altíssimo rendimento.
Pense que quem joga bola tem em Neymar (ou Vini Jr, ou no ídolo do seu clube, etc) um ídolo. Quem joga vôlei se inspira em Gabi, Thaisa, Bruninho, Darlan. E o batalhão de gente que corre na rua por esse país afora quer ser igual a quem?
Por anos o país não teve uma grande referência correndo na rua. Paulo Paula, Solonei, Adriana, todos esses conquistaram coisas relevantes na carreira, mas não se aproximaram dos feitos de Daniel, que liderou Nova York, foi cotado para vencer Londres e chegou a ser o maratonista não nascido na África mais rápido da história.
Nas vésperas de Tóquio, o Brasil perdeu por doping Fernando Reis Saraiva, outro atleta que colocou o país em evidência mundial em uma modalidade de muitos praticantes por aqui, o levantamento de peso.O positivo para hormônio do crescimento não surpreendeu ninguém, mas o consumo de substâncias proibidas pela Wada no LPO é tido como coisa "do jogo" entre halterofilistas amadores.
Com o atletismo é diferente. Quem se dopa está trapaceando, tentando driblar as regras do jogo. Em um país carente de bons resultados nas ruas, a dúvida que fica é se só somos capazes de produzir campeões a partir de fraude. Todo o sistema é posto à prova.
Além disso, há a questão de mercado. Um dos argumentos para o Brasil ter poucos maratonistas de alto nível é que as marcas não estão dispostas a arcar com os custos de se formar um maratonista, e os clubes muito menos. São anos de treinamento até deslanchar, é diferente de outras modalidades em que um bom atleta brilha já na base e vai "crescendo".
A Adidas primeiro, e a Nike depois, apostaram em Daniel e agora o veem acusados de doping. Quem mais vai ter coragem de colocar dinheiro e reputação em maratonistas brasileiros?
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