Brasil descobre que tem uma das melhores goleiras do mundo
O primeiro dia de competições nos Jogos Olímpicos de Paris teve como grande destaque, entre os brasileiros, a goleira Gabriela Moreschi. Ela fechou o gol com incríveis 45% de aproveitamento diante da Espanha, um rival que a seleção feminina de handebol não vencia desde 2014.
Eu queria dizer que a enorme atuação dela não é surpresa, mas é. A estreia nas Olimpíadas permitiu que o Brasil conhecesse uma grande atleta até então desconhecida para além da bolha de fãs de handebol.
Nos últimos anos, por muitos motivos, o handebol de alto rendimento perdeu popularidade no país. Não estou falando que ele é mais ou menos jogado nas escolas, não tenho esse dado, mas é muito difícil acompanhar a modalidade.
Os times brasileiros, especialmente no feminino, não conseguem segurar atletas de bom nível além dos 20 anos, os campeonatos europeus passam sabe-se lá onde (eu mesmo não sei) e os torneios entre seleções estão escondidos. Para ver o Mundial era necessário pagar um absurdo para assinar, por um ano, um serviço de TV por assinatura via streaming.
Tirando uma pequena bolha, ninguém vê Pinheiros x Concórdia jogarem, ninguém vê a seleção, e muito menos vê a Champions League, onde Gabi teve enorme destaque. Foi ela a responsável, em quadra, por levar o time dele, da Alemanha, à decisão, e ficar com o vice-campeonato.
Nas estatísticas, ninguém pegou mais bolas que a brasileira. E o país ainda teve Renata Arruda como MVP (melhor jogadora do torneio) da Liga Europa. Dois feitos que passaram desapercebido inclusive pelos grandes veículos, também por este colunista, que só foi escrever sobre a menos de um mês da Olimpíada.
Muito poucos sabiam quem é Gabi Moreschi, até porque sua trajetória na seleção é relativamente recente, apesar dos 30 anos. Ela surgiu bem na base, chegando logo ao time nacional júnior, mas depois teve poucas chances de jogar, ofuscada primeiro por Babi, sua ídolo de juventude, depois também por Renata.
Em Paris, a mais jovem (Renata) é banco e a veterana (Babi) está como suplente para Gabi jogar. Por enquanto, para dar espetáculo. O que eu vi na arena do handebol foi de arrepiar. Uma ovação incontestável, um p*ta que pariu a cada defesa, mais uma. Sempre mais uma. É mais ou menos assim: em uma grande atuação, uma goleira pega 35% dos chutes que vão contra ela. Ela pegou 45%.
Uma imagem vai ficar muito tempo na minha memória. Eu estava na zona mista, já esperando as brasileiras para entrevistá-las, mas o jogo não havia acabado. Gabi fez sua última defesa e o técnico Cristiano Rocha se virou para ela, do banco, e começou um aplauso lento, como quem solta um palavrão separando sílabas. Ele olhava para Gabi, mas eu estava na mesma direção e pude ver seu olhar de admiração.
Que, na verdade, não era só dele. Era de um país que descobriu ter uma das melhores goleiras do mundo. Mais uma da escola de Chana, Maysa, Babi, Renata....
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