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Vida sobre skates: o desafio de competir de skate sem as pernas
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Se manobrar com o skate nas pistas já não é uma tarefa fácil, imagine sem as pernas, e até mesmo sem os braços?
Pois essa é a realidade de pessoas que usam o carrinho como meio de locomoção além de diversão, e que também levam ao extremo, colocando o skate adaptado, ou paraskate, como modalidade de alta performance em competições.
O paulistano Vinicios Sardi que o diga. Tetracampeão brasileiro de skate adaptado, campeão dos X Games 2019 em Minneapolis na categoria paraskate, foi também medalha de bronze no Adaptive Action Sports no mês passado em Iowa, ambos os eventos nos Estados Unidos.
"Skate me deu liberdade, me deu alegria. Eu sempre quis achar um esporte que pudesse praticar, que eu não dependesse de ninguém, aí o skate veio e fez toda a diferença", comenta Sardi, em um vídeo do Teleton da AACD postado no final de setembro. "Eu andava de calça, sempre tive vergonha de andar de bermuda. Quando eu decidi arrancar minhas pernas [prótese] para andar de skate, isso foi uma grande libertação na minha vida", complementa Sardi, que nasceu com má-formação congênita.
"A deficiência está muito mais na nossa cabeça, eu demorei muito tempo para perceber isso, e quando comecei a fazer as coisas que eu queria, minha vida realmente mudou", resume.
Sardi é polivalente. Pratica street e park, anda de bike, de moto elétrica, toca violão, tem namorada e atualmente está pronto para tirar carteira de habilitação e dirigir automóveis.
Aos 25 anos, morador de Lauzane Paulista, Zona Norte de São Paulo, Sardi é patrocinado pela TNT Energy Drink assim como vários amigos que são campeões de skate como Rony Gomes, Dora Varella, Lucas Xaparral, da surfista Chloe Calmon e do piloto Enzo Fittipaldi.
Sorridente, brincalhão e cheio de estilo, Sardi tem mais de 50 mil seguidores no Instagram e o sonho de representar o Brasil em Jogos Olímpicos, mas sabe o que tem pela frente.
"Mano, o skate não vai entrar nas Paralimpíadas de 2024 em Paris por motivos burocráticos. Tem várias exigências, como ter 32 países participantes, ao menos um atleta de cada país, e a questão do feminino, que ainda é bem pequeno, mas a certeza é que deve entrar nos Jogos de 2028. A cidade de Los Angeles irá fazer um pedido para os comitês paraolímpicos incluírem o paraskate, o que irá facilitar a entrada nas Olimpíadas", analisa.
Muito consciente da sua realidade, Sardi encerra com uma lição de vida para pessoas em situações semelhantes à dele.
"Por mais que eu não tenha perdido um membro, eu nasci com uma deficiência física. E por muitos anos, eu tive muita dificuldade em aceitar isso, pois eu não entendia porque eu tinha nascido assim", prossegue.
"Quando eu era mais novo, tinha muita dificuldade em aceitar isso, e minha vida mudou quando eu rompi essa barreira e me expus. Então o que eu tenho para falar para as pessoas que perderam um membro e se sentem deprimidas é que, na maioria das vezes, as limitações estão na nossa cabeça. Por mais que a gente perca um membro, isso não nos torna incapaz. As limitações estão na nossa cabeça, quando você conseguir aceitar isso sua vida vai melhorar", conclui.
Sem os pés, sem as mãos, mas com skate no chão
O skate como instrumento de superação pessoal fica ainda mais evidente na história de Daniel Amorim, mais conhecido como Amorinha Skate. Ele contraiu meningite aos 7 anos de idade e por isso teve suas pernas e braços amputados, mas nem mesmo uma condição tão grave abalou sua confiança em viver.
Aos 10 anos de idade, ganhou um skate de presente de sua irmã. No mesmo ano, seu irmão o levou para a pista de skate da Chácara do Jockey, onde ele conheceu a Zakalifestyle. Este grupo oferece aulas de skate e o ensinou a andar com o carrinho apesar da sua extrema limitação física, assim conseguiu o apoio da Intruder Trucks.
Amorinha é um vencedor que enfrenta uma luta a cada dia. Mora em uma casa com uma enorme escadaria em Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo.
Aprendeu a subir e descer escadas, mas por causa dos degraus, teve de deixar sua cadeira de rodas motorizada no andar inferior da casa, e a cadeira acabou sendo roubada. Sem desistir, entrou em um site de vaquinhas virtuais com a meta de arrecadar R$ 11 mil. Em apenas um dia, atingiu R$ 15 mil e comprou uma nova cadeira.
Sua história conquistou até a skatista olímpica prateada Rayssa Leal, a Fadinha, que fez uma foto com Amorinha recentemente.
"O skate, para mim, é minha segunda perna, já que me dá movimento para pular, correr e me faz sentir como seu eu estivesse com as pernas", anima-se ao comentar durante entrevista ao UOL Esporte. "Gosto mesmo é de fazer nollie big spin", diz, revelando sua manobra preferida.
"Pretendo viajar o mundo, ir para as próximas Paralimpíadas e continuar a inspirar outras pessoas", comenta sobre seus sonhos.
"Sempre há uma saída para superar as dificuldades", finaliza.
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