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Estudo indica que andar de skate após os 40 anos pode ajudar na depressão
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Nos Jogos Olímpicos do ano passado em Tóquio, além das crianças prodígio de 13 anos como Rayssa Leal, a britânica Sky Brown e a japonesa Momiji Nishya que brilharam nos pódios, outros personagens do skate também se destacaram por outras razões.
É o caso do dinamarquês Rune Glifberg, 47 anos, skatista veterano de maior idade nos Jogos, e do sul-africano Dallas Oberholzer, 46 anos, que, com sua barba grisalha, chamou a atenção do mundo e ainda foi chamado carinhosamente de "vovô do skate". Eram polos opostos de um mesmo esporte,
"Sabe o que é o mais legal? É que finalmente minha mãe reconheceu o valor de tudo que eu fiz em minha vida", desabafou na época o skatista sul-africano para o jornal americano New York Post, ao comentar emocionado e orgulhoso que não foi aos Jogos para vencer, mas para representar a África.
A boa notícia é que o caso de Dallas não é um fenômeno isolado, e que andar de skate na meia-idade, entre 40 e 60 anos, pode, efetivamente, colaborar no combate à depressão e a outros distúrbios psicológicos. Isso é o que indica uma pesquisa recente da Universidade de Exeter, na Inglaterra, conduzida pelo Dr. Paul O'Connor, intitulada Identity and Wellbeing in Older Skateboarders (Identidade e Bem Estar Entre Skatistas Mais Velhos, em tradução literal)
O estudo acadêmico publicado no final do ano passado como um capítulo do livro Lifestyle Sports and Identities (Estilo de Vida Esportivo e Identidades, em tradução livre) apresenta o resultado de uma pesquisa realizada com 30 pessoas de meia-idade que andavam de skate dos Estados Unidos e Canadá, além de observação da cena ao vivo em Hong Kong e Reino Unido.
Em suas conversas com esses skatistas entusiastas de cabelos grisalhos e sorriso no rosto, o Dr. O'Connor, que também anda de skate e utilizou essa característica como parte da pesquisa, descobriu que a modalidade aliviava sintomas de depressão e outros problemas psicológicos, além de ajudar a se reconectar com a família, os filhos e até reduzir ou eliminar outros vícios.
O skate para o Dr. O'Connor é considerado como um "Estilo de Vida Esportivo", termo guarda-chuva para se referir a uma série de atividades que não têm uniforme, regras ou tempo específico para praticar se comparado com modalidades tradicionais como futebol ou rugby.
"Futebol pode ser entendido tipicamente como competitivo, sendo que o objetivo é vencer o placar com gols e não conceder a vitória para o time adversário", comentou o Dr. O'Connor para o diário inglês Daily Mail.
Já no caso do skate, pessoas mais idosas que praticam o esporte dizem que isso tem um "significado espiritual" em suas vidas e as motiva em seu bem-estar e felicidade.
Para essas pessoas, os benefícios físicos são apenas um subproduto.
Outra questão relevante levantada pelo estudioso diz respeito ao preconceito de gênero, uma vez que enquanto skatistas mais idosos do sexo masculino podem ser encarados como uma "piada" para alguns, ou visto como "homens em crise da meia idade" enquanto buscam por sua juventude. Por outro lado, a visão social sobre as mulheres andarem de skate depois de mais velhas é positiva, por celebrar sua inclusão no esporte e enfrentar os seus medos.
Skate pode se tornar terapia para traumas emocionais
Para o Dr. O'Connor, "o skate fornece uma importante saída emocional para pessoas que passaram por traumas e problemas afetivos decorrentes do fim de longos relacionamentos, desafios na carreira, problemas familiares ou abuso de álcool", disse em outra entrevista para o jornal da Universidade de Exeter.
Nesse artigo, que tem sido bem explorado pela mídia inglesa, Dr. O'Connor cita alguns estudos de casos sem expor o nome completo dos entrevistados e conta algumas dessas passagens.
Em muitas delas, palavras como "alegria", "serenidade", "salvação" e "felicidade", foram frequentemente empregadas ao se falar do uso do skate como terapia.
Para o canadense Mark, de 47 anos, voltar ao skate depois de 20 anos foi uma maneira de trazer a vida dele em ordem novamente.
Depois de uma carreira bem-sucedida como advogado, Mark se mudou com a esposa e o filho para Bali onde voltou a andar de skate. E a sensação de liberdade e vento na cara o ajudou a se "plugar" com uma nova comunidade e a ter mais tempo com seu filho, coisa que antes não era possível.
Já o americano Cris, 41 anos, disse que andar de skate o ajudou a se conectar com seu filho de uma forma que ele nunca teve com seu próprio pai.
No caso de Charles, 37 anos, o skate serviu como uma válvula de escape depois da perda do trabalho, com a saúde física debilitada e a necessidade de uma saída criativa.
E o skate colaborou para evitar que ele fizesse muitas coisas estúpidas na vida, em vez de se divertir com o skate como terapia.
A canadense Debbie, 51 anos, vestia a camiseta "Skate Salvou Minha Vida", que ela mesma mandou fazer. A mensagem se referia a uma passagem de fim de um relacionamento. Em vez de partir para drogas ou álcool por causa desta situação, o relacionamento com a comunidade do skate a tornou uma pessoa mais serena e a ajudou a passar por essa fase de depressão profunda sem o uso de remédios.
No caso de Peter, um artista de 45 anos, dono de uma clínica especializada em depressão e ansiedade, o skate foi uma forte ferramenta de saúde mental, ao liberar endorfina e fornecer autoconfiança suficiente para, mesmo em dias de chuva, ter disposição para pegar o skate e ir andar para não se sentir deprimido ou letárgico.
Para finalizar, o Dr. O'Connor enfatiza: "Para aqueles com quem eu conversei, a prática do skate era mais do que saúde física. Ao menos em duas ocasiões eu perguntei sobre o que o skate significava para eles, nesse momento, eu fui confrontado com homens maduros chorando literalmente, engasgando para explicar a importância de seu passatempo".
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