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Árbitra brasileira participa de debate sobre igualdade de gênero no skate
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Na próxima terça, dia 25, a World Skate, órgão máximo do skate mundial irá realizar uma conferência online promovida pela Comissão de Igualdade de Gênero da entidade para debater quatro tópicos principais: liderança, participação, marketing e igualdade em pagamentos.
Presidente da Associação Feminina de Skate (AFSK) e jurada na modalidade park nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a paulista Renata Paschini é uma das cinco palestrantes convidadas. "Um kickflip é um kickflip, não importa se quem está realizando é um homem ou uma mulher", afirma.
Skatista profissional de vertical, cirurgiã dentista e gestora de esportes pela FGV, FIFA e CIES, Renatinha, como é conhecida, é respeitada em todo o mundo e antes de sua participação como juíza da etapa de park do STU National, Circuito Brasileiro de Skate —que começou nesta quinta-feira e será realizado até domingo na cidade de Criciúma, em Santa Catarina— falou com exclusividade ao UOL Esporte sobre o sucesso feminino do skate, os desafios a serem enfrentados, a participação nos Jogos Olímpicos, equiparação salarial, igualdade de gênero e, claro, o futuro da modalidade.
Renata é skatista "old school". Começou a fazer street na década de 80 com Monica Polistchuk, Leni Cobra e Miriam (Mad Rats) na pista de São Bernardo do Campo (SP) e nunca parou de andar desde então. "Foi paixão a primeira vista, skate na veia".
UOL Esporte - O que se espera dessa conferência de terça-feira?
Renata Paschini - O objetivo da conferência é mostrar para o mundo o trabalho realizado por cada membro da comissão de igualdade de gênero, apresentar histórias de sucesso e falar de mulheres na liderança no esporte skateboard. Vamos discutir como agregar mais mulheres para ter maior representatividade e ter os mesmos direitos em quantidade de atletas, premiação e que não somos apenas coadjuvantes. No passado, as marcas não investiam [no feminino] porque achavam que não dava retorno. Hoje a cena mudou, as mulheres têm grande representatividade e a conferência irá servir para fomentar o skate feminino em todos os países.
UOL Esporte - Você anda de skate desde os anos 80, como era a cena feminina naquela época?
Renata Paschini - Teve vários altos e baixos. Eu entrei numa fase que o skate estava no alto. A gente tinha a Monica Polistchuck, a Leni Cobra [falecida], a Miriam, da Mad Rats. Uma época que o skate estava bombando. Veio a crise (1990) e o skate morreu. Mas eu nunca parei de andar em São Bernardo (do Campo) porque foi skate na veia, paixão à primeira vista. O skate voltou e surgiu a geração da Miele Cassoni, a Alessandra da Narina, as meninas da Anarquia, e depois surgiu a geração da Lisa Araújo, de Tati Marques que fizeram um trabalho mais consistente para promover o skate feminino.
UOL Esporte - A partir de quando considera que as coisas realmente começaram a mudar?
Renata Paschini - Depende onde. Nos EUA, as meninas estão ao menos 10 anos na nossa frente. Em 2005, começaram boicotando os X Games, porque a premiação era desigual e o horário de competição também. Eles reclamavam que não tinham audiência e colocavam as meninas para correr as 9h da manhã. Lideradas pela Carabeth Burnside, que criou a The Alliance, conseguiram igualar a premiação, e depois a inclusão do skate feminino nos Jogos Olímpicos.
"Um kickflip é um kickflip, não importa se quem está realizando é um homem ou uma mulher"
UOL Esporte - Como foi sua experiência como representante do Brasil como juíza dos Jogos Olímpicos de Tóquio?
Renata Paschini - Foi uma experiência pessoal inesquecível, até tatuei os arcos olímpicos na pele, porque eu realmente cheguei no ápice da minha carreira profissional como juíza. Por isso, se o mundo acabar hoje, eu morro feliz [risos]. É um reconhecimento mundial pelo meu trabalho não apenas como atleta mas como profissional do esporte. Cansei de competir com os homens ou porque não tinha categoria feminina, ou era em horário ruim, ou sem premiação. Então como skatista, promotora de eventos femininos e profissional de arbitragem foi um grande reconhecimento.
UOL Esporte - Você considera que o nível técnico das meninas pode se equiparar ao dos meninos tanto no street quanto no vertical?
Renata Paschini - Eu considero que sim porque existe a condição física que faz essa diferenciação. O homem é mais forte que a mulher? Sim. Então ao colocar a igualdade de gênero em cheque e termos a mesma premiação, pontuação, tudo isso aumentou o nível da mulherada. Elas também querem tirar um 9 Club, como os homens, uma pontuação 80, 90. Mostrou que temos capacidade técnica de realizar manobras de nível de dificuldade igual aos homens, com todos os critérios técnicos exigidos em uma competição. Um homem e uma mulher fazendo um kickflip só deve ter notas diferentes no que depender de altura, velocidade, qualidade e local da execução, porque um kickflip é um kickflip, não importa se quem está realizando é homem ou uma mulher.
UOL Esporte - O que machuca mais, o park ou o street e onde residem os maiores riscos?
Renata Paschini - O street. Eu falo de experiência própria, porque a minha vida no skate começou no street, sempre fui streeteira, e quando eu entrei na faculdade uma torção no tornozelo, um dedinho torcido influenciava na minha condição de trabalho. Já nas modalidades verticais você usa equipamento de proteção, aprende técnicas de queda, e o fato de estar usando equipamento minimiza absurdamente as lesões, por isso eu migrei pro vertical, para minimizar as lesões.
UOL Esporte - Rayssa Leal, Sky Brown, Momiji Nishya são estrelas do skate que ainda não têm 15 anos de idade, você vê algum movimento no sentido de limitar a idade mínima para entrada em competições da faixa etária infantil em esporte de alto rendimento?
Renata Paschini - Todos sabem que o esporte transforma vidas, imprime valores na vida do cidadão, toda essa parte bonita de integração social, e isso cria valores para criança e ela aprende a ganhar, perder, criar perseverança. O esporte para a criança é muito importante na formação do caráter e do cidadão, e a competição faz parte disso. Mas eu, particularmente, sou contra crianças participarem de esportes de alto rendimento, porque implica no Código da Criança e Adolescente. Existe um condicionamento físico diferenciado necessário. Nos Jogos Olímpicos, não houve limitação de idade porque, infelizmente, em alguns países, o melhor atleta tinha 12 anos. Hoje as crianças têm uma coordenação motora totalmente diferente de quando éramos criança e, realmente, essa turma tem um talento nato, é só saber trabalhar esse talento que teremos prodígios como a Rayssa ou como a Sky Brown, que faz sucesso em tudo que ela se atreve como surfe, dança, skate.
"Seja feliz andando de skate. Respeito e skate é para todos e para as mulheres também."
UOL Esporte - Quais os planos de Renatinha Paschini para o futuro?
Renata Paschini - É crescer ainda mais, porque o conhecimento empodera, por isso precisa ter a base teórica para não falar besteira, tanto que meu próximo curso será de comentarista esportivo. Meu objetivo é promover para as meninas terem o que eu não tive no início de carreira, campeonatos dignos, e mostrar que o universo do skate não é apenas ser atleta. Ela pode ser fotógrafa, jornalista, coach, artista, videomaker, fotógrafo. As portas do universo do skate são amplas. O presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional) Thomas Bach quer 50% de mulheres nas próximas Olimpíadas e tem espaço para todo mundo.
UOL Esporte - E sua mensagem final?
Ande de skate, se divirta e descubra a história do skate, que é linda, é rua, é rebelde. O nosso maior objetivo é ser feliz andando de skate. Respeito e skate é para todos e para as mulheres também.
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