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Burocracia atrasa chegada de cachê doado por Rayssa a ONG de Testinha
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Sandro Soares, o "Testinha", um dos fundadores da ONG Social Skate, sabe muito bem o que é utilizar o skate como ferramenta de inclusão social.
O skatista ficou mundialmente conhecido há pouco tempo depois de ganhar um cachê de US$ 50 mil (cerca de R$ 280 mil), doado pela skatista medalhista Rayssa Leal e oferecido a ela pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por ter vencido o Prêmio de Espírito Olímpico.
Valores que ainda não chegaram na conta bancária da entidade por causa de, segundo ele, "uma documentação absurda exigida pelos EUA", mas que ele acredita que estejam a caminho.
Morador de Calmon Viana, distrito de Poá, extremo leste de São Paulo, Testinha em 1999 entrou como "penetra" junto com outros skatistas na extinta Febem do Tatuapé para uma demonstração de skate.
Desde então, se tornou monitor naquele mesmo local que mudou de nome posteriormente para Fundação Casa, e em 2011 se uniu com a pedagoga Leila Soares para fundar a ONG Social Skate com o objetivo de, utilizando o skate como ferramenta de inclusão social, e atendendo crianças carentes da sua região, evitar que jovens e adolescentes ingressassem no mundo do crime.
O casal teve de convencer traficantes de drogas que utilizavam um espaço —uma quadra— debaixo de uma ponte para montar a sede de treinamento, que existe até hoje e é mantido pela entidade.
Em 2014, recebeu a visita de Luciano Huck, que colaborou na reforma da casa onde ele morava e até hoje é a sede da ONG, e ainda ganhou um caminhão com vários obstáculos para sessões de skate.
Amigo pessoal do cantor Chorão, do Charlie Brown Jr., em quem ele se espelha e sempre presta homenagem, Testinha faz parte de uma geração que "coloca a mão na massa". Recentemente, Testinha transformou um lixão em horta comunitária para utilização das crianças e da comunidade local.
Testinha tem sido referência no que faz, tanto que liderou há pouco tempo um grande mapeamento de entidades sociais ligadas ao skate, junto com a CBSK (Confederação Brasileira de Skate), e chegaram a listar 104 projetos sociais em atividade.
Nesta terça-feira, ele completa 44 anos, e no sábado, Testinha convida os amigos para celebrar seu aniversário na Galeria Alma da Rua, na Vila Madalena. Em vez de presentes, já adiantou que prefere que cada um compre uma camiseta da ONG para ajudar nas atividades sociais da entidade.
UOL Esporte - Quantos skatistas/alunos são atendidos hoje em dia? E o que eles recebem?
Sandro Testinha - A ONG atende 150 crianças, sendo 10 turmas de 12 a 13 alunos, com atividades de skate, aulas de vídeo, atendimentos com assistente social e horta comunitária. As crianças são atendidas em diversas frentes. Acreditamos que para ter uma boa educação é preciso ter acesso ao básico que é a alimentação, já que os governos não oferecem o básico, como comida, saneamento básico, higiene, educação, então, vamos preenchendo as lacunas abandonadas pelos governos.
UOL Esporte - Recentemente, você transformou um lixão em horta comunitária, ela já está produzindo? Quem cuida?
Sandro Testinha - A população local descartava entulho e lixo de forma irregular neste lugar. Eu e as crianças limpamos tudo e transformamos em uma horta comunitária. Lá, os alunos recebem aulas de educação ambiental e alimentação saudável, plantam, colhem e levam para casa tudo que plantam como legumes e hortaliças orgânicas. Onde se produzia e depositava lixo e entulho, hoje dá alimento.
UOL Esporte - Você é amigo do Luquinhas da XV, como está o trabalho da ONG dele no Rio, a Ademafia?
Sandro Testinha - O Lucas é meu amigo desde que eu narrava os eventos nos campeonatos do skate. Ele tem um projeto audiovisual pioneiro, onde começou a registrar a realidade da galera que anda de skate com ele, que desce o morro, que pega o "busão", que pede para passar por baixo (da catraca). Ele não filma apenas as manobras, filma a realidade por trás das câmeras, e não apenas o glamour do skate. Há cerca de um ano, ele me disse que queria se tornar um instituto, uma entidade civil, e com nossa "expertise" ajudamos na parte burocrática. Luquinhas tem luz própria, e acho que ele produz muita coisa boa que nos inspira também. O que é bom tem de ser ensinado, compartilhado e reproduzido.
UOL Esporte - E o Chorão? Qual foi a importância dele para você e para a ONG? O que ele representou para o skate?
Sandro Testinha - Esse daí vale a pena falar. O Chorão não só me deu visibilidade, ele me ajudou muito como amigo pessoal, mas ele me ensinou muita coisa, aquele jeitão explosivo, de não aceitar as coisas como são, de dar voz a mais pessoas, de distribuir dinheiro na rua (coisa que eu também faço, não tanto quanto ele porque eu tenho bem menos). Eu vi ele fazer muito isso, o cara mais desapegado que eu conheci. Ele foi o cara que não perdeu a essência em nenhum momento da vida, viveu a milhão, meu amigo pessoal mesmo. Quando perguntam por que não estou nos documentários, peças de teatro dele é porque quem está por trás disso, os produtores, nem tem noção da amizade que eu tinha com ele.
UOL Esporte - Como você conheceu a Rayssa Leal?
Sandro Testinha - A gente tem uma gratidão muito grande por ela, mas não posso falar que sou amigo pessoal, que tenho contato, porque isso não é verdade. O prêmio que ela recebeu e doou para ONG (do COI), não chegou até hoje devido a uma documentação absurda exigida pelos EUA, mas eu sei que está a caminho. Talvez fosse de fato para uma criança levantar a bandeira da causa social para outras crianças, e nisso ela pode ser considerada a maior campeã de skate de todos os tempos.
UOL Esporte - Você tem dito que a ONG surgiu para fazer atividades que o governo deveria fazer mas não faz. Quem apoia atualmente a ONG, e como ela sobrevive?
Sandro Testinha - Nós usamos as leis de incentivo ao esporte e incentivo cultural que são difíceis para entidades menores, pois precisam de uma série de documentações, certificações, e a gente pleiteia e às vezes consegue. Quando não conseguimos, vamos atrás de marketing direto das empresas, ou fazemos campanhas. Você precisa lutar de todas as formas para ter recursos legítimos para sua entidade, seja ele público, privado, ou campanhas com seus amigos.
UOL Esporte - Neste sábado, você vai celebrar 44 anos com uma comemoração na Vila Madalena, o que isso significa para você e o que você espera de presente?
Sandro Testinha - Pois é, 44 anos de idade, 30 anos sobre skate, 20 anos de trabalhos sociais, 10 anos fazendo a ONG. Sempre fui avesso a comemorar aniversário, mas o Tito Bertolluci (dono da Galeria) abriu espaço para reunir a galera, com som e confraternização, desde que venham vacinados com duas doses pelo menos e usem álcool em gel, e aproveitem para comprar a camiseta para ajudar a missão da ONG Social Skate.
UOL Esporte - E quais os planos da ONG de agora em diante?
Sandro Testinha - Já que está tudo sendo bem feito, a gente precisa ampliar o projeto. Sabemos que as crianças precisam mais do que andar de skate, é preciso melhorar o entorno para sermos bons cidadãos de fato. Deixa a gente melhorar o mundo com nosso skate.
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