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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Coletivo pede mais união e novo conselho feminino na confederação de skate

Cena do filme Skate Kitchen que narra o cotidiano de um coletivo de meninas skatistas de Nova York - Divulgação
Cena do filme Skate Kitchen que narra o cotidiano de um coletivo de meninas skatistas de Nova York Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

08/03/2022 04h00

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O skate feminino tem razões para celebrar o Dia Internacional da Mulher hoje, mas ainda tem muito a conquistar. De acordo com uma pesquisa do Datafolha de 2015, existem hoje no Brasil cerca de 8,5 milhões de skatistas no país, sendo 1,6 milhão de mulheres que dizem praticar a modalidade.

A entrada do esporte nos Jogos Olímpicos, no ano passado, trouxe medalhas, revelou talentos e abriu oportunidades para a emancipação feminina em contexto global. Explica-se: a emancipação feminina é um movimento em que se busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres e o fim de preconceitos e opressão existentes na sociedade, e se torna uma ferramenta de combate a desigualdade de gênero.

A rebeldia do skate conseguiu romper boa parte dessas barreiras, ao igualar os valores de premiação, dar vez e voz para as mulheres skatistas, e incentivar a prática da modalidade sem discriminação.

Para a líder e fundadora do coletivo de skate feminino Divas Skateras, Estefânia Lima, de 33 anos, de Cuiabá, conquistar a igualdade nas premiações já foi uma vitória para as meninas, "mas se observa que as mulheres precisam se manifestar para serem ouvidas", reflete.

Com 15 anos de existência e cerca de 15 mil seguidoras no Instagram, o Divas Skateras é um dos principais crews (coletivos) de skate feminino do país ao lado da Dende Crew (BA), Minas do Skate (MG), Batateiras (SP), Skate Girls (SP), Cafelinas (SP), Pantaneiras Skate Girls (MS) e a Britneys Crew (RJ).

Ela considera também que falta ocorrer uma descentralização no skate feminino, uma vez que a maioria das competições são realizadas apenas em São Paulo, ou no sul do país, enquanto as regiões Norte, Norte e Centro-Oeste ficam deixadas de lado.

Segundo Estefânia, "quando as mulheres se unem coisas incríveis acontecem, e a importância dessa irmandade e união é o que as motiva a evoluir ". "Mesmo assim, acho que ainda falta mais união nacional e um novo Conselho Feminino da CBSK", sugere.

"Se o skate feminino atualmente está em evidência, é porque gerações de mulheres skatistas se uniram pelo bem coletivo. O Brasil é tão grande e diverso, ainda há muito a conquistar, devemos continuar unindo forças, tendo um olhar empático por cada região, para cada vez termos um cenário mais justo e com oportunidades iguais", sentencia.

Estefania Lima - Aline Vilar/Divulgação - Aline Vilar/Divulgação
A skatista Estefânia Lima, líder do coletivo Divas Skateras
Imagem: Aline Vilar/Divulgação

Hoje a principal página de mulheres no skate no Instagram brasileiro é a Skate Feminino, que conta com mais de 50 mil seguidoras.

Para a psicóloga e skatista Camila Alves, a Metallicamila, de 36 anos, "a cena do skate feminino atual é muito focada em competição, campeonato etc, e o skate não é só isso. A Olimpíada acabou mostrando apenas uma faceta do skate que pra mim é a menos importante: a competição. Skate é arte, música, união, amizade".

A primeira skatista a gente nunca esquece

Em 14 de maio de 1965, a mais importante revista de fotojornalismo americana da época chamada Life, estampou em sua capa uma foto icônica de uma loira realizando um "handstand", de cabeça para baixo, plantando bananeira descalça sobre seu skate.

O nome da skatista é Patti McGee, que também foi a primeira mulher a ser capa de uma revista de skate no mundo, a Skateboarder Magazine, em sua quarta edição em outubro do mesmo ano de 1965.

Nascida em 23 de agosto de 1945, na Califórnia, Patti foi a primeira skatista profissional feminina americana, depois de se sagrar campeã americana da modalidade, e conquistar o patrocínio da marca Hobbie, em uma época onde skate era coisa de meninos e andar de skate na rua era proibido.

Em 2010, foi indicada para o Hall da Fama do skate. Hoje está com 76 anos de idade.

patti mcgge - Reprodução - Reprodução
A skatista Patti Mcgee na capa da revista Life de 1965
Imagem: Reprodução

A mulher maravilha do skate

A década de 70 foi dominada por quatro mulheres incríveis que brilharam no skate mundial. A americana Laura Thornhill foi a primeira skatista profissional feminina a ter um "model" próprio, enquanto Ellen O'Neal (1959 - 2020) brilhava em fotos, posters e competições, junto com outra figura conhecida, Kim Cespedes.

Já a surfista e bióloga americana Peggy Oki, hoje com 65 anos, foi a única mulher na década de 70 a fazer parte da equipe Zephyr Skateboards, famosa pelo filme Dogtown and Z-Boys, e campeã do Del Mar Nationals na categoria Free Style.

Da realidade para o cinema foi um passo. Em 1976, surge uma cena épica do seriado Charlie's Angels (As Panteras), na qual a personagem Jill Munroe (Farrah Fahcett) tenta fugir de um vilão andando de skate pelas ruas de Los Angeles —cena recriada em 1990, com a atriz Cameron Diaz.

Já em 1977, foi a vez de Linda Carter no papel de Wonder Woman (Mulher Maravilha), assumir o skate em alta velocidade na perseguição de bandidos no episódio Skateboard Wiz (O Mago do Skate).

No Brasil, a pioneira a encarar um esporte majoritariamente masculino na época, foi a paulista Monica Polistchuk, de São Bernardo do Campo, na década de 80. Atualmente, ela mora no Reino Unido com seus três filhos, e se tornou chef de cozinha internacional.

Quem quiser maratona pode assistir aos filmes sobre skate feminino:

Skater Girl - Em Skatista Radical (2021), uma adolescente indiana se apaixona pelo skate, mas enfrenta obstáculos e preconceitos para andar e participar de uma competição. (Netflix)

Learning to skate in a Warzone if you are a girl (2019) - (Aprendendo a andar de skate em uma zona de guerra, se você for uma garota - em tradução livre), foi vencedor do Oscar de melhor documentário. Conta a história de meninas afegãs que aprenderam a ler, escrever e andar de skate em um país machista, e com leis rígidas contra as mulheres.

Skate Kitchen (2017) - Uma skatista solitária de Nova York, se une a uma turma de skatistas femininas, e descobre a amizade e o sentimento de pertencimento.

Betty (2020) - Foi um seriado que durou duas temporadas na HBO, baseado no spinoff de Skate Kitchen, sobre grupo de amigas skatistas independentes que se uma vez unidas se empoderam e criam novas amizades e inimigos.

Meu Nome É Bagdá (2019) - Único longa metragem nacional na lista de filmes de skate femininos, sobre a jovem Bagdá, de 17 anos, moradora da periferia e que encara andar de skate entre os meninos até descobrir novas praticantes e se unir a elas onde pode dividir suas alegrias e perrengues como mulher skatista.

Underexposed (2013) - Documentário pioneiro sobre o papel das mulheres no skate e como aumentar sua relevância o esporte.

Gizmo (2020) - Primeiro filme da marca Nike sobre skate feminino, filmado em quatro países baseado na história da skatista Elisa Steammer, com a participação de Rayssa Leal e Letícia Bufoni.

Credits (2020) - Primeiro filme da marca Vans de skate feminino, celebrando a diversidade global do skate sobre a vida de três skatistas: Una Farrar, Breana Geering e Fabiana Delfino.

Pushing Forward - Skateboard Like a Girl (2019) - Curta metragem onde a skatista Vanessa Torres fala como praticar um esporte dominado pelos homens, baseado na experiência de três skatistas, uma iniciante, uma profissional e uma veterana.

We Can Do It! (2015) - Curta metragem produzido pelas Divas Skateras com sete skatistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.