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Lendário skatista de street abrirá memórias em exposição em São Paulo
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Antonio dos Passos Júnior, popularmente conhecido como "Thronn", é um personagem único do skate brasileiro. Nascido em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, em 25 de junho de 1965, Thronn foi o primeiro campeão brasileiro de street skate, em competição disputada em Guaratinguetá, em 1987, depois de dropar com seu skate de uma imensa parede de 4 metros - da altura do telhado da casa ao lado, para conquistar o título.
Thronn, que atualmente mora em Venice Beach, na Califórnia, é detentor de histórias curiosas, engraçadas, perigosas, não convencionais e politicamente incorretas. E nesta quinta-feira (07) o skatista estará em São Paulo, onde irá inaugurar sua exposição fotográfica autoral chamada "Califórnia 17 anos".
Na exposição, montada no Centro Cultural São Paulo e com entrada franca, Thronn irá exibir 17 anos de fotos captadas na Califórnia. As imagens passaram por curadoria do fotógrafo profissional Ivan Shupikov, com redação de Cecília "Mãe", produção de Fábio Bolota e design de Léo Guima.
Citado como "precursor das ruas" pela revista Rolling Stone em 2014, Thronn ganhou seu apelido nos anos 80, devido a adesivos do filme Tron colados em seu skate.
Mas muitos viam relação do seu apelido com o fenômeno marginal dos "trombadinhas", que atacavam os transeuntes naquela época, e adicionou mais uma letra em seu apelido para não ser confundido. Mesmo assim, preconceito e repressão reinavam no período final da ditadura no país, e o atleta chegou até a apanhar e ter seu skate apreendido, conforme revelou em entrevista exclusiva à coluna.
A polícia parava você na rua e falava: 'Você não trabalha não? Você é vagabundo'. E eu respondia: 'eu ando de skate, cara, sou patrocinado'. 'Patrocinado nada, você é vagabundo, sai andando ou vai em cana'
Início com Ibiraboys, rock com Chorão, Sepultura e bandas finlandesas
A carreira de Thronn no skate começou com a turma dos Ibiraboys nos anos 80, conhecido grupo de skatistas pioneiros do Parque do Ibirapuera, e prosseguiu como skatista patrocinado e funcionário do fabricante de tênis de skate Mad Rats, na época do skatista Márcio Tanabe, que em seu "elenco" ainda tinha outros nomes do esporte como Salada, Bolota, Porque, Chacka, Yura, Marcia e Dani.
Tanabe, além de dono da marca e chefe da equipe, era o motorista da turma, e levava a galera a bordo de seu veículo - uma Rural verde de três marchas, sempre lotada de skatistas, para Guaratinguetá e Búzios, e normalmente eram parados pelo polícia como se fossem uma gangue.
Thronn tem boas lembranças dessa época - um período conturbado, onde haviam várias facções de skatistas espalhadas pela cidade, que se defendiam de uma forma territorial como os Moemagem, Pig City, Wave Boys, Campon e muitos outras, e Thronn sempre desafiava as ruas com seu fone de ouvidos, onde escutava músicas em fitas cassetes escritas a mão em seu "walkman", uma mania daquele tempo.
Eu comprava essas fitas na Galeria do Rock, além das próprias bandas que me mandavam da Finlândia, Inglaterra e Suiça como Wolfgangs, Onslaught, Poison Idea, Sham 69. Até Dead Kennedys era difícil de encontrar por aqui no começo
E a ligação com a música não parava por aí. "Os Ratos de Porão apadrinharam os caras do Sepultura que iam andar com a gente nos campeonatos, até que surgiu a banda do nosso amigo Chorão, o Charlie Brow Jr., um skatista Ibiraboy que sempre queria ser lembrado em vida como skatista", afirma Thronn.
Cogumelos alucinógenos, Xota da índia e dormir na rua
Além do skate, Thronn tentou seu lado empreendedor ao ser sócio, ao lado da esposa, de um bar de reggae na Vila Madalena cujo principal atrativo era uma bebida a base de ervas chamada "Xota da Índia".
"A galera alucinava com essa bebida, que era muito forte e afrodisíaca, e virou lenda, por isso eu também inventei outras como a 'Moça Corno', 'Pau Dentro', 'Veneno do Cão', 'Nas Coxas', tudo a base de ervas de 'grande porte", diverte-se Thronn.
Em outro episódio, que foi parar no documentário Vida Sobre Rodas, do cineasta Daniel Baccaro - que conta a trajetória do skatistas Bob Burnquist, Lincoln Ueda, Cristiano Mateus e Sandro Mineirinho - Thronn narra uma passagem surreal que antecedeu sua vitória como campeão brasileiro em Guaratinguetá.
"Eu tinha machucado o pé, vi uma vaquinha no pasto e achei uns cogumelos no chão do lado das fezes dela. Enchi um saco com os cogumelos e levei para o quarto de um amigo, que começou a comer sem parar e nem me respondia mais. Dai eu peguei o saco, fui para um bar, tomei um belo suco de amendoim, mas dai meu corpo começou a esquentar, fiquei 'alucinadão', fui andar de skate na Via Dutra e quase fui atropelado por um caminhão", prossegue.
"Passei a noite zoando, no dia seguinte fui correr o campeonato sem nenhum efeito e ganhei a competição", relembra.
"Eu não era o protagonista do Vida Sobre Rodas, mas eu agradeço o Baccaro (diretor do filme) pela participação neste que foi o melhor filme de skate nacional já lançado, agora imagina quem um dia está na sarjeta e outro passa de ônibus pela Hollywood Boulevard, olha para o Teatro Chinês, e se vê na tela grandona no mesmo cinema que rola o Oscar", emociona-se ao lembrar da cena.
"A vida é muito louca, quando eu decidi morar em Venice, em 2004, eu passei por altos e baixos, já dormi na rua, dentro de ônibus, de carro, de van, de motorhome, e já passei por muitas roubadas. Era estar no paraíso estando numa roubada. Mas achei melhor estar em uma roubada na gringa do que numa roubada no Brasil e fui ficando, sempre me relacionando com o skate. Nem tirava foto no começo, só escrevia, agora que estou estabilizado na gringa tenho meu carro, meu quartinho, meu dinheiro, viro cidadão americano e quero fazer negócio no Brasil", relata o ex-atleta, que é sócio de uma produtora de eventos, a MyProd Entertainment.
Aulas de ollie, shapes "gringos" e exposição de fotos
Além de primeiro campeão brasileiro de street skate, Thronn ficou conhecido por ter sido um dos pioneiros a realizar a principal manobra da atualidade, o "ollie air", nos anos 80 com perfeição, e ainda a fazer o "ollie" duplo, ou seja duas voltas com o skate no ar antes de retornar na posição inicial.
"A técnica que eu desenvolvi irei mostrar online, mas estará disponível apenas a partir de julho com o skatista Renan Spina realizando as manobras que eu explico", adianta.
"Eu fazia free style no solo e aprendi a bater o tail ao ver o Natas (Kaupas - skatista americano) andar e fazer o skate subir muito alto e fiz igual. Agora, de vez em quando eu vejoo Natas em Venice, menino sangue bom", anima-se ao contar sobre o ídolo do passado.
"O meu shape tinha uma super rabeta para dar ollie e foi também o mais vendido do Brasil pela Lifestyle, que hoje relançou o meu 'model', mesmo assim eu trouxe meia dúzia de shapes de madeira 'maple' canadense mais resistente e vou vender durante a minha exposição para serem guardados como relíquias", concluiu.
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