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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Skate invade escolas paulistanas: dos CEUs às instituições de alto padrão

Instrutores ministram aulas de skate em escolas particulares - Divulgação
Instrutores ministram aulas de skate em escolas particulares Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

10/04/2022 04h00

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Antes mesmo do sucesso dos brasileiros Rayssa Leal (prata), Kelvin Hoefler (prata), Pedro Barros (prata) na estreia do skate no programa olímpico nos Jogos de Tóquio 2020, a modalidade já estava conquistando espaço nas escolas paulistanas. Nos CEUs (Centros Educacionais Unificados) e nos principais colégios de alto padrão de São Paulo o fenômeno está em plena ascensão.

Na rede pública, já são sete centros com aulas abertas e perspectiva de ampliação na oferta. Nas escolas de elite, a expansão também é a tendência.

Uma das pioneiras nessa experiência esportiva educacional é o tradicional Colégio São Luiz, que conta com cerca de 2 mil alunos no período integral e mais 300 no período noturno, e que iniciou as atividades com o "carrinho" em 2018.

Skate na escola - Divulgação - Divulgação
Instrutores ministram aulas de skate em escolas particulares
Imagem: Divulgação

"Hoje atendemos cerca de 30 crianças em duas turmas, sendo a primeira totalmente lotada e com fila de espera. Se tivermos aulas de skate todos os dias, teremos filas para atender os alunos do segundo ano do ensino fundamental ao ensino médio", diz ao UOL, o professor Eduardo Ribeiro, coordenador de esportes e cursos extras do colégio, que atualmente está situado na Vila Mariana.

Eduardo Ribeiro - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O coordenador de cursos extras do Colégio São Luiz, Eduardo Ribeiro
Imagem: Arquivo Pessoal

Eduardo tentou andar de skate na infância, mas pela sua altura preferiu jogar basquete. Segundo ele, o skate na escola não tem caráter de formação, mas um complemento para os alunos que buscam uma experiência com um esporte radical. "É possível que possamos inserir o skate no planejamento curricular da escola, mas isso irá demandar profissionais de educação física para instrução especializada e o planejamento vai precisar estar ligado a nossa matriz curricular".

"Um dos objetivos do after school é a praticidade e a segurança, para que o pai deixe o filho na escola das 7h as 18h, e a criança possa escolher praticar natação, futsal, basquete, teatro ou skate", diz a animada pedagoga Sandra Regina Capozzi, gerente de After School das Escolas Premium SEB, que coordena as atividades da rede de escolas bilíngues Pueri Domus.

Sandra Capozzi - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A gerente de After School das escolas Pueri Domus, Sandra Capozzi
Imagem: Arquivo Pessoal

Com 3 mil alunos, a escola tem 107 crianças matriculadas em aulas de skate há um mês, com idades entre 8 a 17 anos, e, segundo a gestora, muitos pais "estão doidos para fazer aulas também", diz a gestora.

"Já estamos pensando em um horário para os pais. Inclusive muitos deles comentam que levam os filhos para andar de skate no final de semana, coisa que consideramos importante para a integração e sociabilização com a família.

"Temos até um pai, que mora perto da escola, que vem de casa com o filho andando de skate, e que leva os skates de volta, já que não podem entrar com esses equipamentos", ressalta Sandra.

A Beacon School, da Vila Leopoldina, escola bilíngue com cerca de 1.200 alunos, tem 15 deles, entre 9 a 15 anos de idade, matriculados nessas atividades extracurriculares.

tina fumis - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A coordenadora de atividades optativas da Beacon School, Tina Fumis
Imagem: Arquivo Pessoal

Para Tina Fumis, coordenadora de Atividades Optativas da instituição, "o skate traz vários aprendizados não apenas no desenvolvimento físico, mas de uma forma mais integrada pois o praticante esta superando desafios, pensa em estratégias na hora de como passar um obstáculo, aprende a própria mecânica do esporte, o equilíbrio. Como associamos isso à formação e desenvolvimento emocional do nosso aluno, se cria confiança no aprendizado de superação e trabalho de concentração".

"Embora seja uma pratica individualizada, no coletivo, eles interagem torcendo um pelo outro, vibrando quando um colega consegue realizar uma manobra e mostrando um senso coletivo muito bacana", analisa Tina.

"Eu só tive retorno positivo tanto por parte dos pais, quanto dos alunos e estamos felizes com essa aceitação, e vamos dar prosseguimento pois não vemos o skate apenas como uma moda, ou simplesmente um reflexo das Olimpíadas."

Iniciativa partiu de um técnico olímpico e um videomaker de skate

Por trás dessa invasão do skate em escolas particulares de alto nível em São Paulo, existe um nome em comum: a Escola Brasileira de Skate (EBS).

Fundada por Roberto Teixeira "TX" Oliveira, videomaker de filmes e series de skate para TV, e do campeão brasileiro de skate e técnico olímpico da seleção chilena Cristiano Mateus, a EBS faz um trabalho pioneiro nesse nicho de mercado que está em franca ascensão, conquistando a confiança das escolas.

Responsável pelas aulas, a EBS, atualmente, está em 20 escolas de luxo, entre elas Avenues, Renovação, Red, Camino School, St. Paul's, Beacon School, Santo Américo, Salesiano, Pueri Domus, Johan Gauss, Emilie Villeneuve e São Luiz e se prepara para duplicar essa quantidade no segundo semestre.

Instrutores de escola de skate - Divulgação - Divulgação
Instrutores ministram aulas de skate em escolas particulares
Imagem: Divulgação

Com cerca de 700 alunos atendidos mensalmente, a EBS tem focado no conceito de diversão com segurança e exige que os praticantes utilizem todos os equipamentos de segurança (capacetes, joelheiras, cotoveleiras e protetores de pulso).

Para Roberto TX, um dos sócios, o mínimo risco é outro diferencial. "Os pais e professores descobriram que seguindo os protocolos, o skate para iniciantes é um esporte seguro, até menos arriscado do que o futebol", comenta. "O equipamento é chato, incomoda, mas eu fico aflito que tem gente dando aula em outras escolas sem nenhum equipamento, por sua própria conta e risco", alerta.

Cristiano Mateus - Divulgação - Divulgação
O campeão brasileiro de skate e técnico da seleção olímpica chilena Cristiano Mateus instrui aluno da EBS
Imagem: Divulgação

De acordo com Roberto, o skatista Cristiano Mateus, seu sócio, criou uma metodologia que utiliza materiais de fisioterapia, como bolhas de treinamento funcional e shapes sem rodinhas até as crianças adquirirem confiança e habilidades com rodas soltas, além de um método de capacitação de professores.

Para o dirigente, que também patrocina novas revelações como a skatista Raícca Ventura e o jovem Dan Sabino, o próximo passo é levar o skate para o maior número de crianças que não tenham condições de pagar por este acesso com a mesma qualidade oferecida para as escolas de público A/B que eles atendem.

"Um passo de cada vez", finaliza.

Raicca Ventura - Divulgação - Divulgação
A skatista campeã Raícca Ventura, uma das revelações patrocinada pela EBS
Imagem: Divulgação

Prefeitura tem aulas abertas em 7 CEUS

Aulas de skate não são privilégio de escolas particulares, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, ampliou o ensino de skate nas escolas em parceria firmada com a ONG Skate Solidário.

Mais de 300 crianças e adolescentes, entre 6 e 16 anos, terão acesso a aulas de skate em Centros Educacionais Unificados (CEUs), informou o órgão em nota divulgada na última quinta-feira.

A rede municipal possui mais de 15 CEUs com pistas de skate, sete deles terão aulas abertas para a comunidade. Outras 11 pistas serão construídas em parceria com a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras - SIURB.

Os interessados devem entrar em contato com uma das unidades dos CEUS abaixo e verificar a disponibilidade de vagas:

  • Aricanduva - Av. Olga Fadel Abarca - Jardim Santa Teresinha,

  • Meninos - R. Barbinos, 111 - São João Clímaco,

  • São Matheus - R. Curumatim, 201 - Parque Boa Esperança,

  • Paraisópolis - R. Dr. José Augusto de Souza e Silva - Jardim Parque Morumbi,

  • Campo Limpo - Av. Carlos Lacerda, 678 - Campo Limpo,

  • Casa Blanca - Rua João Damasceno, 85 - Jardim São Luís,

  • Butantã - Rua Eng. Heitor Antônio Eiras Garcia, 1.700/1.870, Jardim Esmeralda,

A prática do skate também é divulgada nas escolas e está incluída no Currículo da Cidade para o Ensino Fundamental, que prevê a vivência de diferentes práticas corporais de aventuras urbanas e de natureza.

Na EMEF Profa. Helina Coutinho Lourenço Alves, localizada em Cidade Tiradentes, o skate faz parte das aulas de educação física desde 2013 sob supervisão do professor Marcos Alexandre Foglietto.