Topo

Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Snowboard: Tiozões se divertem na neve e mais jovens buscam vaga olímpica

O snowboarder Rogério Lalau, durante Campeonato Brasileiro em Corralco, no Chile - CS Team/Divulgacão
O snowboarder Rogério Lalau, durante Campeonato Brasileiro em Corralco, no Chile Imagem: CS Team/Divulgacão

Colunista do UOL

26/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Centro de Esqui de Corralco, no Chile, foi invadido por dezenas de brasileiros na primeira semana de setembro para a 26ª edição do Campeonato Brasileiro Open de Snowboard, e também definiu - em outra competição - os novos campeões sul-americanos da modalidade.

Mesmo sem neve por aqui, os brasileiros criaram tradição no snowboard desde sua primeira competição em Vale Nevado, também no Chile, em 1995, com a equipe CS Team.

Este ano as novas gerações vieram para desafiar as estatísticas e buscar vaga para os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude, em Gangwon, na Coreia do Sul em 2024. O evento valerá para a obtenção de índice para as Olimpíadas de Inverno na Itália, em 2026.

Para o professor Flávio Ascânio, 58, vice-campeão brasileiro máster na modalidade Air Contest deste ano, e comentarista de snowboard dos canais ESPN, Globo e Sportv, "foi um campeonato de tiozões na neve, que poderia se chamar Brasileiro Old School". O motivo da brincadeira é porque havia mais competidores acima dos 50 anos do que participantes de outras idades nas demais categorias.

brasileiro de snowboard - CS Team/ Divulgação - CS Team/ Divulgação
Competidores do Campeonato Brasileiro de Snowboard, em Corralco, no Chile
Imagem: CS Team/ Divulgação

Ascânio, que também é surfista e skatista, conta que o evento em si é bem amador, com pessoas que praticam a modalidade por lazer.

Flavio Ascanio - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O skatista e comentarista de snowboard Flávio Ascânio durante o Brasileiro de Snowboard no Chile
Imagem: Arquivo Pessoal

Alguns deles, como Zion Bethônico (15) e João Teixeira (16), no entanto, se aquecem para os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude, em 2024. Outros se preparam para as Olimpíadas de Inverno de Milão em 2026.

Esquiadores como Dominic (20) e Sebastian Bowler (18) têm mãe brasileira e pai americano, além de treinamento com técnicos estrangeiros, condições financeiras para lutar por vaga olímpica, e moram no Oregon (Estados Unidos).

Augustinho e João Teixeira também têm dupla cidadania, sendo a mãe brasileira e o pai argentino.

Já a dupla da família Bethônico —Noah e Zion— reside em Santa Catarina. Há uma semana, eles conquistaram o inédito título da Copa Sul-americana de Snowboard Cross, em La Parva, (Chile).

brasileiro de snowboard - CS Team/ Divulgação - CS Team/ Divulgação
Os snowboarders Noah e Zion Bethonico e Thiago Rodrigues no Brasileiro de snowboard 2022
Imagem: CS Team/ Divulgação

Noah ficou no topo do pódio e seu irmão Zion, com o vice-campeonato. Com isso, conquistaram duas vagas para o Brasil em Snowboard Cross da temporada com o melhor desempenho da história do país em esportes de neve.

Para deslizar na neve é preciso desembolsar ao menos R$ 15 mil

O mais assíduo participante do Campeonato Brasileiro de Snowboard é o contador paulistano Rogério Rodrigues, o "Lalau", presidente da Contábil Sumaré, que mantém uma equipe de praticantes de esportes radicais, a CS Team

Com 57 anos, Lalau participa desde a primeira edição do Brasileiro em Vale Nevado, no Chile em 1995. A competição passou por Las Leñas, El Colorado e, desde 2014, tem sido realizada em Corralco ou em Chapelco (Argentina).

Para ele, que está atento as manobras tanto quanto aos números, o investimento básico para uma viagem ao Chile está em torno de R$ 15 mil, o que inclui passagem, hospedagem no hotel no topo da montanha, "lift" (teleférico), e principais refeições (café da manhã e jantar).

"Mas isso não inclui os equipamentos como a prancha, a bota, casaco, luvas", explica.

"Uma prancha varia entre US$ 300 a US$ 1.000 (cerca de R$ 1.500 a R$ 5.400), mas podem ser alugadas em média por US$ 30 (cerca de R$ 150), além dos outros equipamentos que também podem ser alugados."

Rogerio Lalau e filhos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O snowboarder Rogerio Lalau (ao centro) com os filhos Felipe (dir) e Thiago, no Chile
Imagem: Arquivo Pessoal

"Tem gente que prefere alugar cabanas no pé da montanha, que sai mais barato, mas precisa pagar o 'lift' de US$ 50 (cerca de R$ 280) cada vez que subir e também as refeições."

As pranchas —todas importadas— são de marcas como Burton, Neversummer, Oxess, Kessler, Ride ou Jones, e são feitas de madeiras canadenses.

Para o Free Style são usadas pranchas menores, mais arredondadas e flexíveis para facilitar o pouso, e para Boardercross elas são de fibra de carbono, mais resistentes.

Aos iniciantes, Lalau adverte que "o primeiro dia é sofrível para todos, mas depois a pessoa dorme pensa no que está fazendo lá, para que veio e, no segundo dia, começa a melhorar. Em uma semana você volta pronto, e nunca mais esquece, assim como andar de bicicleta", compara.

Apesar do investimento alto exigido, a competição rende apenas medalhas e o título, mas nada de premiação.

"Eu venho com a família para me divertir, o futuro do snowboard está nos pés dos meus filhos, Tiago e Felipe, e nos de meninos como Augustinho, Noah e Zion, que treinam muito e podem chegar às Olimpíadas", resume