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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Crianças cada vez mais precoces começam a dominar a cena do skate mundial

O skatista russo Misha Mihonces que começou a andar com dois anos e hoje tem 4 anos de idade - Reprodução Instagram
O skatista russo Misha Mihonces que começou a andar com dois anos e hoje tem 4 anos de idade Imagem: Reprodução Instagram

Colunista do UOL

11/10/2022 04h00

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Eles são pequenos, fofos, super poderosos e alguns andam de skate melhor do que adultos.

A idade não tem sido fator impeditivo para uma nova geração de feras infantis começarem a dominar a cena do skate, alguns deles nem sequer saíram das fraldas.

É o caso do jovem russo Misha, ou melhor Mihonces, como é conhecido no Instagram.

Com apenas 4 ano, Misha ainda pode ser considerado um bebê, e tem um técnico chamado Gena Kakusha que ensina os primeiros passos para o jovem pupilo, um skatista em miniatura, que começou a carreira precoce aos 2 anos, e de fraldas.

Perto dali, em Kobe, no Japão, dois pequenos irmãos (Ema, 8, e Hiro, 4) também chocam as audiências. A principal delas é Ema que apesar de mal ter entrado na escola já consegue realizar uma sequência de giros 540 graus e até um improvável e fantástico 900 graus em halfpipes (meio tubo) de madeira, que chegam a mais de 3 metros de altura.

Essa "baby generation" também foi tema de debate durante a entrada do skate nas Olimpíadas de Tóquio, no ano passado, quando tanto na modalidade street quanto no park, os coroados eram atletas menores de 15 anos.

Com 13 anos, a japonesa Kokona Hiraki levou a medalha de prata e a nipobritanica Sky Brown, da mesma idade, levou o bronze. A campeã foi uma "quase adulta", a japonesa Sakura Yosozumi, na época com 19 anos.

No street, a predominância infanto-juvenil bateu a porta com a medalha de ouro para a japonesa Momiji Nishiya, de 14 anos. O bronze ficou com a compatriota Funa Nakayama, de 16 anos.

A brasileira Rayssa Leal foi medalhista de prata com apenas 13 anos, e se tornou a mais jovem atleta do Brasil a realizar tal feito.

Rayssa, hoje com 14 anos, se transformou em um fenômeno midiático instantâneo. Hoje, ela tem mais de 6 milhões de seguidores e dezenas de contratos publicitários se enfileirando.

Seu exemplo de leveza, alegria e conquista serviu de inspiração para milhares de pais, que começaram a incentivar os filhos a seguir seu exemplo e lotam as pistas em busca do surgimento de novos ídolos.

Enquanto as crianças se divertem, os pais se vestem de técnicos, coachs e empresários, sonhando com o ouro olímpico e com uma conta bancária bem gorda.

E assim, o skate deixa de ser um brinquedo de criança para um sonho de futuro.

Psicóloga da CBSK avalia a precocidade no esporte e dá dicas para os pais

A reportagem do UOL Esporte ouviu a psicóloga santista Juliane Fechio, da Confederação Brasileira de Skate (CBSK), mestre em Psicologia do Esporte e Doutora em Ciências da Saúde, que acompanhou a carreira de Rayssa Leal desde sua entrada no ciclo olímpico.

Juliane já acompanhou modalidades como futebol, futsal, natação e lutas, e, a partir desta semana, irá postar em sua página no Instagram dicas para os pais sobre crianças no esporte e a importância de um acompanhamento psicológico.

UOL Esporte - Qual a idade mínima ideal para se iniciar no esporte?

Juliane Fechio - O esporte contribui para o desenvolvimento integral da criança (ou seja, cognitivo, psicológico, social, físico e motor) e, por isso, a inserção da criança no esporte é sempre benéfica e quanto antes melhor. Lembrando que iniciação esportiva não envolve processos de treinamento com foco no rendimento, na competição nem competições regulares.

UOL Esporte - Na Rússia e Japão têm crianças andando como adultos, sendo que algumas mal saíram das fraldas. É normal isso?

Juliane - Japão, Rússia, China e Cuba são países com muitos talentos esportivos, mas a gente não sabe a que preço, mas dificilmente veremos algo saudável, embora o sucesso se diz ao fato de começarem muito cedo.

misha - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
O skatista russo Misha Mihonces de 4 anos de idade mostra seu tenis furado
Imagem: Reprodução Instagram

UOL Esporte - O que é preciso e quanto tempo leva para se formar um grande talento?

Juliane - Precisa de tempo de treinamento, treinador com talento, motivação do atleta, concentração, a presença dos pais, a construção de atleta expert que vai atingir a excelência. Precisa de horas, qualidade de treino e uma equipe multiprofissional. Quando começaram os estudos em excelência no esporte, houve um teórico que falou da teoria das 10 mil horas para não se perder um expert.

UOL Esporte - Depois do sucesso olímpico, muitos pais estão apostando no skate para os filhos obterem sucesso. Tem uma fórmula mágica?

Juliane - No Mundial de Roma, a Pamela Rosa era a única maior de idade. As que tiveram melhor desempenho eram na faixa de 13 e 14 anos. A minha preocupação é que os pais achem que temos um monte de Rayssas, e que terão o mesmo sucesso e talento que ela, porque ela é uma em um milhão. Estar envolvido no esporte de competição é uma coisa, chegar à elite é outra coisa. E chegar às Olimpíadas é outra coisa. Conseguir uma medalha, então, nem se fale. Às vezes, o sonho não é da criança, é dos pais.

UOL Esporte - Qual foi o seu papel no desenvolvimento da Rayssa?

Juliane - Enquanto psicóloga, eu fui favorável a entrada dela na seleção brasileira olímpica quando ainda era muito novinha (10 ou 11 anos). Eu considerei que estando na seleção ela teria todo o respaldo da equipe multiprofissional e meu acompanhamento para poder orientar os pais. A Rayssa teve todo esse apoio oferecido pela CBSK durante todo o ciclo, para identificar se as coisas estão caminhando bem, para que ela pudesse passar por esse processo de uma forma saudável.