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Paulo Anshowinhas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Skate se transforma em língua universal com 10 idiomas no STU Open

O skatista portoriquenho Manny Santiago em foto do seu perfil no Instagram - Reprodução Instagram
O skatista portoriquenho Manny Santiago em foto do seu perfil no Instagram Imagem: Reprodução Instagram

Colunista do UOL

15/10/2022 04h00

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O skate se transformou em linguagem universal do STU Open, que terá a final neste domingo (16), na Praça Duó, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio de Janeiro), tanto com seus códigos visuais e sonoros, como com suas gírias de rua e amplo vocabulário de manobras.

Inglês, francês, espanhol, japonês, chinês, alemão, hebraico, holandês, eslovaco, letão e claro, português, são mais de dez idiomas falados simultaneamente dentro e fora das pistas durante a competição.

Apesar de ter perdido oficialmente o nome de "Campeonato Mundial", ou o status de pontuação válida para a corrida olímpica pela World Skate, o STU Open, com 94 participantes de 19 países, poderia ser classificado como um Pré-Olímpico não oficial de skate.

Competidores de todas as partes do mundo compareceram em peso para o evento, vindos da Europa, Ásia, Oceania, África, Oriente Médio, América do Sul, do Norte e Central e trouxeram representantes de países como: Alemanha, Argentina, Áustria, Austrália, Bélgica, Canadá, China, Colômbia, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, França, Israel, Japão, Letônia, México, Nova Zelândia, Peru, Porto Rico, República Tcheca e Venezuela.

Alguns deles chegam a parecer exóticos para os brasileiros, como a Eslováquia do skatista Richard Tury, ou mesmo a Letônia de Arturs Bogdanovichs, ou a curiosidade em se pronunciar o nome da sul-africana Boipelo Awuah.

A "invasão estrangeira", de "gringos" de várias nacionalidades sobre rodinhas era algo inevitável e bem-vindo no Brasil em momentos de tensão política tão acirrada que o país atravessa.

O sorrisão maroto e brincalhão e sem um dos dentes frontais do skatista olímpico porto-riquenho Manny Santiago, não tem preço, e sempre anima quem o encontra em qualquer país que ele visita, pelo seu carisma e bom humor.

Ou como ele próprio se intitula em seu idioma natal "un mellon com un sueño", ou um melão com um sonho, em tradução literal.

Yes, oui, si, shi de, já, hen, ano, hai em qualquer língua, o skate tem sua própria maneira de falar sim, onde se grita Yeah!

Ou mesmo sem abrir a boca, as palmas são trocadas por batidas dos shapes na pista que criam um grito "amadeirado" a ecoar pela pista, de uma forma urbana tribal e característica.

O que poderia ser uma torre de babel dos tempos modernos, se transforma em uma aldeia global de referências e estilos, sendo o skate o elemento condutor dessas novas tendências, ao som do rugido das derrapadas das rodas de uretano.

Linguagem das ruas troca o asfalto pelo concreto e tem seu charme

Mesmo para quem fala português, ouvir os comentários da skatista baiana Pipa Souza nos comentários da transmissão pelo Tiktok te convida a repensar o seu diálogo das ruas, e quão atualizado está o seu linguajar juvenil, ou adolescente, de uma menina que representa e simboliza bem essa "vibe".

"Rolezão do Wilton, faltou encaixar a ultima trick, logo menos vão ver como ele vai desenrolar na best trick, pegou logo ali e seguiu o baile", comenta radiante e sem cerimônia a carismática Pipa, com seu sotaque soteropolitano muito peculiar ao controle do microfone com sua calça cargo preta, e camisão com estampas de abacaxi para ostentar seus belos cachos de cabeleira com mecha dourada.

"Pega a visão, que o rolê dela é só pedrada", continua a conversa. "Não conseguiu bater o pop da manobra, e a chance de ficar na bota do outro é muito grande também, mas se liga que a mina é ref, vai ter que lançar a braba", prossegue.

O dialeto urbano tem ritmo e poesia, assim como rap, o trap e funk que se mesclavam com o rock clássico dos anos 80, em uma festa de ritmos e cores, e com uma linguagem técnica, que precisaria vir com um manual.

"Nollie backside, half cab ollie, varial heel to fakie, front side ollie na base da 45, kick to fakie, backside bigspin, switch shove it, ollie late pop shove it, hard flip reverse", termos que talvez nem o Google explique direito, mas cujos palavras em inglês são compreendidas por todos os skatistas, que é o que importa.

Dos grafismos multicoloridos espalhados pela pista, aos penteados, bonés, tocas, bucket hats, óculos e tênis exclusivos, a moda acompanha a realidade das ruas, onde pelas vestimentas a moda feminina deu lugar a uma evolução do unissex, que poderia ser chamada de "multissex" ou simplesmente moda urbana internacional.

Um conceito para se refletir, lembrando que antes de ser um esporte olímpico, padronizado, homogêneo e global, o skate já desfilava o seu lifestyle como identidade visual, sonora e underground próprias.

E agora que entrou para o mainstream pode se dar ao luxo de contagiar novas multidões com sua linguagem independente, e o essencial - diversão.