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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Façanha de brasileiro que escalou maior Boca de Caverna do mundo vira filme

O escalador Felipe Camargo estrela do documentário Gigante de Pedra - Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação
O escalador Felipe Camargo estrela do documentário Gigante de Pedra Imagem: Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação

Colunista do UOL

26/10/2022 04h00

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Encarar 10 km de caminhada no meio da mata fechada e subir uma rocha vertical de 215 metros de altura em 20h de escalada não é uma aventura para qualquer um.

Tanto que o escalador Felipe Camargo entra para a história ao conquistar uma das vias mais árduas da América Latina, a Gruta da Casa de Pedra, encravada no coração do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), entre as cidades de Iporanga e Apiaí, no interior de São Paulo. O feito gerou conteúdo para o documentário Gigante de Pedra - Por Felipe Camargo, disponível gratuitamente na plataforma de streaming da Red Bull TV.

Na semana passada, 18 de outubro, Felipe convidou os amigos, entre eles o skatista da seleção brasileira Felipe Gustavo, para assistir ao lançamento do filme na Fábrica de Escalada em Santo Amaro, zona sul de São Paulo.

Com direção de Rafa Calil e roteiro de Thais Fonseca, o filme de 37 minutos mostra a aventura para se chegar a conquista do brasileiro em uma produção que demandou um mês de logística, para que a escalada que durou um dia pudesse ser realizada com sucesso.

Para se atingir o pico de 215 metros - da base ao topo -, Felipe teve de abrir uma via de 280 metros que batizou de Avenida Brasil, e ainda deixou outra via de menor dificuldade que nomeou de "Maluco Beleza", em homenagem ao pai, que gostava de Raul Seixas.

Natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Felipe iniciou na escalada aos 10 anos de idade, e desde os 13 participa de competições, sendo que em 2006 conquistou seu primeiro título brasileiro, em 2016. Foi na Pedra Riscada, uma via de mais de 600 metros em Minas Gerais.

Para escalador, Jogos Olímpicos ainda não oferecem formato ideal de competição

O UOL Esporte bateu um papo com o escalador Felipe Camargo, que esta passando atualmente por um tratamento focado em uma lesão no cotovelo e pretende retornar no inicio do próximo ano com novos projetos, e falamos sobre curiosidades sobre a conquista, a aventura, alimentação, a modalidade e Olimpíadas.

felipe camargo - Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação - Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação
O escalador Felipe Camargo estrela do documentário Gigante de Pedra
Imagem: Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação

UOL Esporte - O paredão fica encravado no meio da floresta do PETAR, como se faz para chegar até lá?

Felipe Camargo - É preciso levar todos os equipamentos por uma trilha de cerca de 5 quilômetros, cruzar rios de pedras, subidas íngremes, depois grandes descidas, isso sem falar que no trajeto encontramos cobras jararacas, e ainda vimos pegadas de onça que ainda deixavam suas pegadas e víamos suas marcas nas árvores ao nosso redor.

UOL Esporte - Quando assistimos o documentário observamos que já existem vias que foram criadas para você poder escalar com segurança, quem faz essas vias?

Felipe Camargo - É um trabalho em equipe, para fazer os furos (com furadeiras de impacto), fazer a proteção, limpar a via, coisas que eu fiz junto com o Pedrinho (Leite), o Ruddy (Proença) o Rafa (Cortes) e o Feio (Alex Mendes)

UOL Esporte - Do que era composta sua alimentação durante a escalada, afinal foram 21 horas pendurado no paredão.

Felipe Camargo - Eu focava muito em suplementação com algumas barras de cereais e a noite, pizza.

UOL Esporte - E como faz para tirar uma soneca, ou se der vontade de ir no banheiro no alto da escalada?

Felipe Camargo - Para dormir, instalamos um "portaledge" (tipo de rede reinventada no formato retangular que fica pendurada na rocha). Para fazer "número 2", levamos um "shit tube", que consiste em um tubo de PVC, que preparamos com sacos de papel com cal dentro para não ter cheiro. E fazer xixi, fazemos lá do alto mesmo.

felipe camargo - Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação - Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação
O escalador Felipe Camargo a esq., em cena do filme Gigante de Pedra
Imagem: Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool - Divulgação

UOL Esporte - O que você achou da entrada da escalada esportiva nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Felipe Camargo - Acho que como forma de popularizar a modalidade foi bem legal, mas não concordei com o formato escolhido. Acho que deve melhorar para Paris, acho que tem mais coisas positivas do que negativas que possam agregar ao esporte, embora o formato não tenha sido legal dessa primeira vez.

UOL Esporte - Você chegou a ver competições de escalada no X-Games?

Felipe Camargo - A do X-Games era um jeito bem legal, cada modalidade separada. Nas Olimpíadas pegaram as três modalidades - bolder, via e velocidade -, juntaram tudo em uma só, algo que não existe, e que ninguém treinava para as três modalidades simultâneas. Foi algo meio esquisito.

UOL Esporte - Qual a dica para quem assistiu ao filme e se interessou em começar na modalidade?

Felipe Camargo - Eu diria para quem assistir pela primeira vez, a altura intimida e dá aquele impacto, mas eu diria para ir conhecer um ginásio de escalada para curtir o esporte e descobrir que é uma modalidade completa e que agrega muito à saúde. O único investimento será uma sapatilha, pois corda, cadeirinha, mosquetão tem tudo nas escolas de escalada, e você compra apenas depois de aprender e partir sozinho.