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Snowboarders enfrentam 40 graus abaixo de zero por vaga no Mundial
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Enquanto um evento climático histórico cobre de neve boa parte dos Estados Unidos e Canadá e provoca temperaturas de até 55 graus negativos, snowboarders transformaram o cenário assustador em um 'parque de diversão' de treinamento. Eles se preparam para a Copa do Mundo de Half Pipe e para as próximas Olimpíadas de inverno.
A reportagem do UOL conversou com duas famílias de snowboarders brasileiros cada uma com dois filhos, que moram em polos opostos do planeta. Uma delas sente na pele literalmente esse frio extremo.
A família Teixeira passa a temporada de inverno em Calgary, no Canadá, também afetada pela onda de frio. Já os irmãos Bethonico moram com os pais na Praia Mole, em Florianópolis.
Elenilda Teixeira é a matriarca e incentivadora de João, 15 anos, e Augustinho, de 17 anos. Desde outubro, eles vivem na região de Alberta, ao lado do Parque Winsport, onde foram realizadas as Olimpíadas de Inverno de 1988, e a filmagem do longa Jamaica Abaixo de Zero.
Mineira de Governador Valadares, Elenilda, de 52 anos, era operadora de turismo, abriu seu próprio hotel na Argentina e teve dois filhos com o marido argentino em Ushuaia, onde praticava esqui na neve.
Os meninos têm dupla cidadania e competem pelo Brasil, sendo Augustinho é o principal nome do snowboard nacional nas categorias half pipe, slope style e big air. Ele é o atual campeão brasileiro e sul-americano da modalidade.
Augustinho participou em dezembro da primeira etapa da Copa do Mundo, em Copper Mountain (EUA), e se prepara para a próxima em Snowboard Half Pipe, em Laax, na Suíça, de 18 a 21 de janeiro. O objetivo é brigar por uma vaga olímpica.
João disputará a etapa da Copa do Mundo, de 9 a 12 de fevereiro, em Calgary, no Canadá. Ele planeja representar o Brasil nos Jogos de Inverno da Juventude de 2024, em Gangwon, na Coreia do Sul, onde também busca vaga nas Olimpíadas de Inverno da Itália, em Cortina D'Ampezzo, em 2026.
Desde 2015, a família Teixeira encara o inverno no Canadá e tem uma rotina para suportar até 30 centímetros de neve acumulada. Os recursos incluem casa aquecida 24h por calefação, carros com placas de aquecimento no motor, pneus com pregos para evitar derrapagens, botas impermeáveis que vão até as canelas, creme no rosto, gorro na cabeça e roupas de snowboard.
"A gente coloca tanta roupa que parece estar pesando 300 quilos", diverte-se Elenilda.
A dieta para o frio é composta por um café da manhã reforçado com waffles, ovos e bacon, almoço com sopa de frango e batata cozida e jantar com sopa, salada e uma proteína.
Na hora do banho, todos preferem imersão na banheira. Depois dos treinos, os meninos fazem hidromassagem e vão direto para piscinas de água aquecida em Spray Lakes.
"E nada de sair do banho com cabelo molhado senão ele quebra no frio", alerta Elenilda. Ela sempre leva um "kit de sobrevivência" com canecas térmicas com sopa com pedaços de frango e queijo ralado, e também chá verde com gengibre, canela e limão para hidratar.
As atuais baixas temperaturas não intimidam a família. "Se os teleféricos estiverem abertos haverá treino e competição", diz a mãe, animada sobre as condições climáticas extremas. "Toda essa luta no frio é para os nossos filhos terem um excelente futuro esportivo e possam competir de igual para igual com os gringos".
Irmãos trocam praias por montanhas de neve
O sol e o calor de Florianópolis contrastam com a gélida Calgary, no Canadá, morada dos irmãos Teixeira, mas mesmo com essa "tropicalização" a família Bethonico tem dois representantes considerados os melhores da categoria snowboard cross do Brasil: os irmãos Noah e Zion.
Impulsionados pelo pai, Rangel, praticante de motocross, Zion, de 16, e Noah, de 19, começaram a praticar snowboard há cerca de seis anos. Atualmente, eles são os principais nomes do Brasil nesta modalidade que chega a atingir 91 km em descidas de montanhas. Os irmãos são treinados pelo canadense Cristopher Nakonechny, da Columbia Britânica, no Canadá.
Noah já participou dos Jogos Olímpicos da Juventude em 2020 e ficou em 11º lugar, suficiente para concorrer a uma vaga olímpica. Zion se prepara para estar nos Jogos em 2024, na Coreia do Sul.
Este ano, os irmãos estiveram no Centro de Treinamento Olímpico, do Comitê Olímpico Brasileiro, no Rio de Janeiro. Foram fotografados dentro de uma câmara de oxigenação para checagem níveis de respiração.
Ambos os atletas não têm patrocínio e recebem apenas o auxílio do Bolsa Atleta. Com a entrada no novo ciclo olímpico, buscam um "upgrade" nos valores para conquistar o bolsa pódio de valor maior.
Eles não competem em modalidades que fazem manobras mais arriscadas, como half-pipes ou slopestyle para evitar acidentes, que poderiam prejudicar a performance no boarder cross, modalidade que são experts.
Sobre a semelhança com o "sandboard", esporte popular de prancha praticada na areia das dunas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, Zion é enfático: "O sandboard não tem nada a ver com o snowboard, é apenas uma brincadeira para quem está na praia".
Noah também explica que praticar snowboard sendo brasileiro (um país sem neve) é possível tanto quanto para americanos ou canadenses —que têm montanhas com neve.
"Quando é verão aqui, treinamos na terra deles, e quando é inverno vamos para o Chile, ou seja, treinamos o ano inteiro", explica.
Os irmãos têm sonhos semelhantes: fazer heliskiing —ir de helicóptero até o alto da montanha e pegar uma trilha intocável e fofa de neve (ou powder, como chamam em inglês)— e ir para as Olimpíadas.
Para o jovem Zion, "a gente viaja, treina e vive o snowboard, que é minha vida".
E para Noah, "o foco é representar o Brasil nas Olimpíadas, ganhar medalha e fazer meu nome do esporte, que é a melhor coisa que eu faço", sentencia.
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