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Bob Burnquist: após criar farmacêutica, skatista quer administrar parques
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Inovação e empreendedorismo poderiam ser sobrenomes acoplados ao Dean Silva Burnquist de Bob, um dos maiores skatistas de todos os tempos. Aos 46 anos de idade, ele organiza eventos, cria cripto arte, investe em uma empresa farmacêutica de fitoterápicos, produz o próprio documentário e agora fala até em administrar parques no Brasil.
A nova empreitada começa em uma das instituições com que Bob trabalha, o Instituto Nova Era. "Ele lida com sustentabilidade, plantando mudas. É uma identidade agroflorestal. E tem também uma Organização Social chamada Nova Dimensão, para pegar a administração de parques pelo Brasil, pregando sustentabilidade, esporte, vida ao ar livre. A ideia é ensinar esse conceito e trazer algo positivo para o mundo", explica.
O fenômeno do skate falou com a coluna do Paulo Anshowinhas em outubro, durante seu novo projeto itinerante, o Festival Imagine Skate Tour. O papo aconteceu em Niterói, no Rio de Janeiro, pouco antes do início da Copa da Mundo. O evento teve quatro dias em uma extensão do mundo de Bob: rampas móveis da coleção Burnkit, mini-ramps, salão de esportes eletrônicos, tenda de customização artística, distribuição de fingerboards (skates de dedo), totens para aquisição de NFTS e show ao vivo com a banda Titãs.
E o principal, competição de street skate nas categorias feminino, amador e profissional, com troféus feitos em 3D, NFTs, madeira de skates reciclados, pagamento de premiação em cryptomoedas e arte digital em realidade aumentada.
UOL: O que é o Imagine Skate Tour?
Bob Burnquist: É tudo o que você possa imaginar. É um evento criativo que não é necessariamente apenas competição. É um evento do "Instituto Skate Cuida", em que trazemos os pilares de arte, cultura e social, com o lance de inspirar, educar e transformar. Ficamos muito focados nas Olimpíadas, nesse lado competitivo. Faltava um pouco desse movimento cultural.
UOL: Mas dentro deste projeto tem também um time de skatistas, não?
Bob: Sim, o squad (esquadrão) é do Banco do Brasil. Quem começou foi a Rayssa Leal, alta performance, nossa medalhista (de prata), nossa campeã, nossa ídolo. E eu também faço parte desse squad. Mas eu imaginei que a performance não é única coisa que inspira as pessoas, por isso eu trouxe o Fernando Granja, que é skatista, mas também artista, o Lenin Alves, do grafite, o Silvio e o Bruno, da Rio Ramps, que arquitetos de skate, o Felipe Nunes, um paraskatista de alta performance, o (criativo) Davison Fortunato, a Raicca Ventura, o Leo Rodrigues, do blockchain. E buscamos encontrar mais pessoas para compor este movimento.
UOL: Quando cheguei, vi o Bob grafitando, algo que não esperava. O que isso significa?
Bob: Hoje em dia isso tem sido muito comum. Eu estou viciado em arte e, assim como skatista fica querendo criar e aprender manobras novas, os NBDS - never being done (do inglês nunca foi feito), a arte também tem esse feeling. Quando sai um personagem novo, é aquele sentimento de manobra nova, conecta muito... O Binho Ribeiro (grafiteiro pioneiro) me ajudou bastante durante a pandemia, me deu umas latinhas... Eu sempre desenhei, mas o momento é de aflorar a criatividade.
UOL: A relação com arte em NFT tem influência nisso?
Bob: Como personagem do jogo Tony Hawk Pro Skater de 1999, eu fui inserido no mundo dos games e me amarro em jogar —tanto que estamos sentados na frente do Game Box, a ativação de eSports do Banco do Brasil. Assisti ao IEM Major do Rio a convite da Fúria (time de CS-GO). Aqui, o Instituto Skate Cuida construiu uma oportunidade de educação em tecnologia, com incentivo de ONGs parceiras para ensinar programação a entender o mundo de blockchain. E é aí que entram os NFTs, a criptoarte, e conectar com os fãs. Então, falamos de criptoarte. Eu tenho uma coleção com a Tesos. É um protocolo em que você ganha o Burnquist Gold. São 1.618 edições e custa R$ 7 a unidade. Aqui no evento demos alguns como experiência, outros para jogar um partida comigo, acesso à área vip... E tem ainda o NFT gratuito para você ter na sua carteira, que é uma maneira de se conectar nesse novo mundo de tecnologia.
UOL: É um ambiente diferente da sua iniciativa com ervas e fitoterápicos?
Bob: Eu tenho 46 anos, 47 fraturas, quase uma por ano. Essa recuperação constante que todo skatista enfrenta, de todo dia se lesionar e se recuperar para andar no dia seguinte, requer cuidado com saúde, você precisa comer bem. Sou vegano há dois anos e me trato com plantas há muito tempo. Por isso, lancei uma empresa chamada FarmaLeaf. Temos diversos produtos para usar as plantas na manutenção da saúde. Claro, quebrou um osso, você vai direto para o hospital e se trata com a medicina tradicional. Só que, passou a fase aguda, se você tratar sempre com remédios fortes não vai ter muito tempo de skate. Se puder, trate de uma forma mais amena, com as plantas... Temos produtos com CBD, com canabidiol, que é a planta da canabis, mas com várias outras ervas. Com copaíba, com arnica, com lavanda... A proposta é criar uma identidade florestal nessa cura constante. Um dos fundadores é o chefe de cozinha Alex Atalla.
UOL: E como anda a produção do documentário?
Bob: Venho trabalhando com a HBO, com o Daniel Baccaro, que também fez o Vida Sobre Rodas. Estamos há sete anos neste "doc series" na HBO. Já gravamos, está tudo pronto. No meio deste ano (2023) sai a première.
UOL: Quem você considera os melhores skatistas da atualidade?
Bob: A galera mais nova, o americano Clay Kreiner, que é um skatista overall, o Keegan Palmer, o Jagger Eaton... A Rayssa tem sido muito inspiradora, até pela postura dela, com esse momento pós-olímpico. É legal ver o skate dela crescendo e evoluindo. E anda tem o Elliot Sloan, o Filipinho Mota. Uma galera boa no mundo inteiro, bem inspiradores.
UOL: Conta um pouco sobre a questão da divergência entre a World Skate e a CBSK e o movimento No Merger
Bob: A razão de eu ter ido para a eleição da CBSK, junto com o Duda Musa, atual presidente, é que quando o skate se tornou olímpico, a CBSK teve de se ajustar a algumas burocracias ao se filiar a World Skate. Agora, tem uma pressão que é o Merger (fusão em inglês), de unir a CBSK com outras federações de patins. É obvio que isso não funciona e é obvio que não é para ser assim, mas está tendo uma pressão da World Skate, que foi a razão de a gente desplugar no evento do Rio e surgir a movimentação do No Merger para não ter a fusão. Eles (a World Skate) querem influenciar todo o mundo, o que obviamente ninguém quer. Se isso continuar, a probabilidade do afastamento do skate olímpico é grande, ao menos no Brasil, Quem sabe se pode acontecer no mundo todo? Mas a gente já teve uma Olimpíada, o skate já foi presente, fez bonito. Esse lado burocrático tem de ser resolvido e eu acho que é certa essa luta do No Merger. Tem de ficar de olho e esperto com isso.
UOL: Qual é o futuro do Bob Burnquist?
Bob: O futuro presente (risos). Continuar fazendo o que eu amo fazer, esses eventos se realizando e se ajustando. Está tudo bem fluido, a minha ideia e continuar com esse produto, levar a van do Imagine Skate Tour. Para onde a van for, e a gente estará lá ativando. Já passamos por Suzano (SP), paramos no Parque Madureira, na Marina da Gloria, e vamos prosseguir com ações sociais na Comunidade do Caramujo (RJ), na Ilha da Gigóia (RJ) e no núcleo cultural do Beco do Batman (SP), com o Binho Ribeiro. E quero continuar na Dreamland, andar de skate e continuar ativo.
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