Fórmula 1 busca estratégias para não 'quebrar' após pandemia do covid-19
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A Fórmula 1 ainda não sabe quando vai poder começar seu campeonato, e o CEO da categoria, Chase Carey, fala em uma temporada "com 15 a 18 corridas" depois da confirmação do cancelamento dos GPs da Austrália e de Mônaco, e do adiamento de outras seis provas (Bahrein, Vietnã, China, Espanha, Holanda e Azerbaijão). Essa meta, contudo, é vista como otimista para muitos, e ainda assim não apaga os danos econômicos que o coronavírus terá no já frágil equilíbrio econômico da categoria.
Mesmo sendo um negócio bilionário, a Fórmula 1 é conhecida por ser um investimento em que a possibilidade maior é perder dinheiro, vide uma frase que se tornou quase um mandamento na categoria: "a melhor maneira de se tornar um milionário na F-1 é começar como um bilionário". Isso porque, para lutar por títulos, é preciso um investimento incessante e, sem a exposição que se consegue com as vitórias, é difícil encontrar patrocínio e, ainda assim, seus gastos serão consideráveis.
É por essa lógica que, no fechamento das contas do ano passado, até mesmo os campeões da Mercedes precisaram do socorro da montadora de 20 milhões de euros para fecharem com o orçamento neutro: em um mundo tão competitivo e tecnológico, terminar o ano com dinheiro no caixa quer dizer que era possível ter investido mais e sido alguns décimos de segundo mais rápido.
Se os times grandes já operam perto do vermelho, a situação é mais crítica do meio para o fim do pelotão. Times como a McLaren e principalmente a Williams costumam ter suas contas equilibradas pelas divisões de engenharia que possuem, sem conexão direta com o time de F-1. Mas essas empresas não estão funcionando normalmente, com o Reino Unido cada vez aumentando mais o cerco e se aproximando de um fechamento total para combater o vírus. Já times como a Haas já procuravam investidores antes da temporada começar, e agora o cenário é pouco favorável para tal.
Coronavírus e a queda de receita da F-1
O primeiro resultado é a diminuição do dinheiro que cada equipe vai levar para casa, já que ele depende diretamente do total arrecadado pela Liberty Media, que detém os direitos comerciais do esporte. As fontes de renda são principalmente três: contratos de TV, comercialização do paddock club (setor mais VIP das pistas) e, principalmente, as taxas de realização das provas. É justamente por isso que a Liberty vem forçando o aumento do calendário desde que assumiu o controle da Fórmula 1, em 2017, e tinha fechado uma temporada recorde de 22 corridas em 2020.
O GP de Mônaco, já cancelado, não paga essa taxa, que depende do contrato de cada GP. O Azerbaijão, atualmente sem data, é um dos que mais paga - mais de 60 milhões de dólares por ano - enquanto a média é de 25 a 30 milhões por GP. Mesmo que a F-1 consiga obrigar por contrato o pagamento mesmo sem a realização da prova, seria um dinheiro muito difícil de ser recuperado pelos organizadores, colocando a continuidade dos contratos em dúvida. E, obviamente, sem as provas, não há comercialização dos ingressos de paddock club, pelos quais a F-1 costuma cobrar 6.000 dólares por unidade, obtendo até 30 milhões de dólares por GP.
A terceira grande fonte de renda - os direitos de TV - também pode sofrer queda devido ao coronavírus, já que as emissoras muito provavelmente pedirão algum tipo de compensação caso o campeonato tenha menos etapas.
Para completar, acompanhando a tendência negativa dos mercados financeiros de todo o mundo, as ações da F-1 perderam quase 50% do valor máximo do ano. E as ações da categoria não estavam sozinhas: a Renault perdeu 53%, a Daimler, que contra a Mercedes, 45% na bolsa de Frankfurt e a Honda, que equipa a Red Bull e a AlphaTauri, 30%.
Há quem possa imaginar que, viajando menos, as equipes de Fórmula 1 terão menos gastos, porém a maioria dos envios de equipamentos é paga pela categoria, algo previsto em contrato.
O que o esporte está fazendo para sobreviver?
Sabendo que terá menos dinheiro para distribuir para as equipes e tentando convencê-las a assinar a renovação para permanecerem na categoria em 2021, a Liberty Media vem tomando uma série de medidas: a primeira foi adiar a introdução de novas regras, que vão gerar a necessidade de muito investimento, de 2021 para 2022, ao mesmo tempo em que mantém para o início do ano que vem a introdução de regras que limitam os gastos das equipes - com algumas exceções, os orçamentos não podem passar de 175 milhões de dólares por ano. Ou seja: ano que vem, até as equipes grandes não vão poder gastar o mesmo que hoje (o orçamento de Mercedes, Ferrari e Red Bull ultrapassa os 400 milhões de dólares atualmente) para desenvolver um carro totalmente novo.
A F-1 também trabalha com a possibilidade de congelar o desenvolvimento de alguns itens para diminuir os gastos, da caixa de câmbio até partes da suspensão e radiadores, numa mudança de postura em relação aos últimos meses. Times a a F-1 chegaram, inclusive, a um acordo com para banir o uso de túneis de vento para o desenvolvimento dos carros de 2022 até fevereiro do ano que vem.
A maioria das fábricas está parada no momento, devido a outra decisão tomada como consequência do coronavírus: as duas semanas da pausa do verão europeu, geralmente em agosto, tornaram-se três e estão sendo respeitadas nestes meses de março e abril. "Depois disso, ninguém sabe o que fazer", reconheceu o chefe da Haas, Gunther Steiner, à publicação alemã Auto Motor und Sport. "Sabemos que vamos receber menos dinheiro porque vamos fazer menos provas neste ano, e temos de nos certificar que todos os times estarão no grid ano que vem. Temos que entrar em acordo em fazer cortes que tornem o esporte mais interessante no futuro. E acho que nossa primeira meta é começar o campeonato do ano que vem com 10 times." Enquanto os países da Europa, cujos GPs ocorrem de junho a setembro, ainda precisam manter a população em casa para tentar diminuir os números de uma epidemia que só cresce no momento, mais do que uma meta, ter 20 carros no campeonato do ano que vem soa mais como um desafio.
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