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Rivais pressionam grandes a cortarem mais da metade do orçamento pós-covid

Largada do Grande Prêmio do Azerbaijão - Maxim Shemetov
Largada do Grande Prêmio do Azerbaijão Imagem: Maxim Shemetov

Colunista do UOL

09/04/2020 04h00

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Depois de entrarem em acordo para adiar as mudanças de regras que estavam programadas para o ano que vem para 2022 devido às perdas econômicas decorrentes da pandemia do coronavírus, as equipes da Fórmula 1 agora travam outra batalha nos bastidores: diminuir o valor do teto orçamentário, que vai ser adotado ano que vem, mesmo sem as novas regras.

As equipes médias sempre consideraram alto o teto definido anteriormente: são 175 milhões de dólares, excluindo-se gastos com pilotos, os salários mais altos do time e os custos com marketing. Ou seja, na prática, calcula-se que o teto seria de cerca de 250 milhões de dólares, o que fica abaixo do que a maioria das equipes gasta atualmente. Agora, com o coronavírus, eles veem uma ótima oportunidade de diminuir a quantia.

Em reunião no início da semana, foi acordado, em princípio, diminuir esse teto para 150 milhões. Trata-se do mínimo que Red Bull e Ferrari estão dispostas a adotar - e os italianos argumentam que seria difícil, devido às leis trabalhistas italianas, demitir tantos funcionários para abaixar ainda mais esta quantia - mas os rivais querem chegar no máximo até 125 milhões de dólares porque imaginam que, com isso, todos vão conseguir poupar dinheiro em um cenário econômico difícil pós-coronavírus e, ao mesmo tempo, ser competitivos. O orçamento atual de equipes como a Ferrari, Red Bull e Mercedes ultrapassa 400 milhões de dólares por ano.

A solução que está sendo estudada, como explicou Mattia Binotto, é estabelecer tetos diferentes dependendo que como a equipe está organizada. "Estamos totalmente cientes das dificuldades de algumas equipes e do fato de termos de diminuir os custos, o que é o mais importante para nos certificar que todas as equipes sobrevivam", disse o chefe da Ferrari.

"Estamos discutindo com a FIA a diminuição do teto de gastos mas, ao fazer isso, temos também que ter em mente que as equipes têm estruturas diferentes. Há equipes como a Ferrari que são construtores: desenvolvemos, construímos e homologamos todas as peças de nosso carro; e há outras equipes que são clientes e compram várias peças prontas ao invés de desenvolvê-las. Então temos que ver o que compreende estas diferenças e talvez isso signifique que precisaremos ter tetos diferentes."

Falando sobre a reunião do início da semana, Binotto disse que o encontro (virtual) entre as equipes, a F-1 e a FIA, foi construtivo. "Faltam algumas análises a serem feitas para podermos tomar as decisões corretas. Acho que temos de deixar a emoção de lado neste momento. É um período difícil, mas precisamos manter o DNA da F-1, que é competir. Não podemos perder a essência do esporte. A decisão tem de ser tomada com base em dados."

Por que as equipes são diferentes?

Binotto se refere ao fato do regulamento da Fórmula 1 ter flexibilizado a compra de peças prontas nos últimos anos, modelo de negócio que permitiu, por exemplo, a entrada da Haas no campeonato. O time de Gene Haas compra o chassi pronto da Dallara e várias outras peças, inclusive o motor, da Ferrari. Em colaboração semelhante (embora faça o próprio chassi), a Racing Point compra várias peças da Mercedes e a AlphaTauri tem o mesmo tipo de colaboração com a Red Bull, por exemplo.

Economizar no desenvolvimento das peças - o que quer dizer investir pesado em equipamentos e profissionais qualificados - garante a viabilidade dessas equipes, e a tendência é que, cada vez mais, a F-1 se flexibilize nesse sentido.

Então a proposta que está na mesa é criar um teto mais baixo para estas equipes clientes e outro para as efetivamente construtoras, com o risco de aumentar ainda mais o abismo entre as duas.

Não por acaso, a McLaren, equipe que está entre estes dois "mundos", está pressionando para que isso não aconteça. O time é cliente em termos de motor, mas desenvolve todas as peças de seu carro. E não tem clientes.

"Poderíamos ver, com base no que está acontecendo no momento no mundo e se não atacarmos essa questão de maneira muito agressiva, duas equipes desaparecendo? Sim", disse o CEO da McLaren, Zak Brown. "Na verdade, eu posso ver até quatro equipes desaparecendo se não lidarmos com isso da maneira correta. Acredito que a F-1 esteja em um momento muito frágil."

O chefe da Haas, Guenther Steiner, há havia avisado semana passada que "a prioridade no momento é assegurarmos que teremos 10 equipes no mundial do ano que vem", lembrando que o dono da Haas já havia dito que a continuidade da equipe estava em risco mesmo antes do início dos adiamentos das corridas devido ao coronavírus.

McLaren, Racing Point e Williams inclusive já anunciaram que entraram no programa do governo britânico para subsidiar o pagamento dos salários de seus funcionários durante a pandemia, medida que também foi adotada pela própria Liberty Media para pagar os funcionários da F-1

Enquanto as equipes discutem qual a melhor saída para o entrave do teto orçamentário, a F-1 estuda maneiras de fazer o máximo de etapas possível neste ano e evitar uma queda ainda mais brusca na receita do ano que vem. No momento, o campeonato está programado para começar na segunda metade de junho, no GP da França, mas Binotto já declarou esperar que os carros só voltem à pista no mês seguinte. O suíço salientou, contudo, que as equipes só terão um cenário mais claro no final de maio.