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GP Brasil desiste de iniciar venda de ingressos e vive período de incerteza

Max Verstappen venceu o GP do Brasil de 2019 - Ricardo Moraes/Reuters
Max Verstappen venceu o GP do Brasil de 2019 Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Colunista do UOL

22/04/2020 04h00

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Os organizadores do GP do Brasil estão em compasso de espera depois que a Fórmula 1 anunciou que as datas previstas para as provas deste ano "devem ser significativamente" diferentes daquelas anunciadas antes da crise causada pela pandemia do covid-19. A Interpub, empresa que promove a corrida no circuito de Interlagos, tinha previsão inicial de começar a venda de ingressos neste mês de abril, mas o UOL Esporte apurou que os planos foram adiados e não existe previsão de início para a comercialização de entradas para o GP.

Segundo a Interpub, a Liberty Media, empresa que administra os direitos comerciais da Fórmula 1, ainda não entrou em contato sobre qualquer mudança de datas para o GP, que seguemarcado para o feriado da Proclamação da República, entre 13 e 15 de novembro. A ideia dos promotores é primeiro receber da F-1 a confirmação do calendário para depois começar a vender os ingressos.

Mas existe a possibilidade de o evento ser realizado com portões fechados, dependendo de como for a evolução da pandemia em São Paulo. No momento, o governo estadual fala em liberar parte do comércio em meados de maio, mas ainda haveria um longo caminho antes que eventos com grande aglomeração de pessoas sejam permitidos, motivo pelo qual os clubes de futebol já trabalham com a forte possibilidade de terem de jogar com portões fechados até o final do ano.

Fazer pelo menos as primeiras corridas da temporada sem público também é o cenário com que a Fórmula 1 trabalha. Nenhuma prova do calendário original foi realizada, e já estão confirmados sete adiamentos e dois cancelamentos (Austrália e Mônaco). No momento, o campeonato começaria dia 28 de junho, na França, mas também é esperado que este GP seja adiado e que a primeira prova seja apenas no final de semana seguinte, na Áustria.

A escolha não é por acaso: a Áustria começou nesta semana a reabrir seu comércio e a região e estrutura do circuito são favoráveis à realização de uma prova com o mínimo contato possível entre os profissionais da F-1 e os locais. Trata-se de uma pista localizada em uma zona isolada e a maioria dos hoteis é de propriedade do dono da Red Bull. A prova seria realizada com menos de 2000 profissionais (metade do número que normalmente viaja às provas) e sem público.

O campeonato depois iria, ainda com provas sem público, para Silverstone, na Inglaterra, circuito localizado a no máximo 1h30 das fábricas de Mercedes, Red Bull, Racing Point, Renault, Haas, McLaren e Williams. A ideia que está sendo estudada no momento é de realizar duas corridas em cada circuito, justamente pela dificuldade em se encontrar locais para os quais os profissionais da F-1 poderiam viajar em segurança e também evitar ao máximo que eles venham a espalhar o covid-19.

Dentro desse contexto, o Brasil teria vários desafios para realizar a prova. Enquanto a Europa começa a ver a curva de casos e mortes diminuir, o Brasil ainda aparenta estar em um estágio anterior, sendo difícil prever como serão os próximos meses especialmente em São Paulo, epicentro da covid-19 no país. Além disso, o circuito de Interlagos fica no meio da cidade, dificultando o isolamento dos profissionais da F-1 mesmo num cenário de GP sem público.

Há ainda questões financeiras: como outros campeonatos esportivos, a F-1 deve ver uma queda importante de receita, e o evento mais próximo geograficamente do GP Brasil é a prova do México, a 7.500m de São Paulo. Isso significa mais custos com o transporte.

O fato do Brasil, em acordo firmado em 2016 e que termina neste ano, ser uma das duas provas do calendário que não pagam a taxa para receber a F-1 também pode desencorajar a Liberty Media. A outra corrida que tem a mesma condição da etapa brasileira é o GP de Mônaco, que foi cancelado por decisão dos promotores locais. No cenário da realização de corridas sem público, é mais provável que corridas organizadas com dinheiro público custeando a taxa de realização, como Azerbaijão, Bahrein, Rússia, Vietnã e China, por exemplo, tenham prioridade, já que a chance dessas provas precisarem de injeção de dinheiro da Liberty para ocorrer é menor. Mas, é claro, tudo depende de como será o cenário para o deslocamento de pessoas para estes lugares.

De todo modo, o que conta a favor do Brasil é o tempo, já que prova segue marcada para novembro e poderia até ser realizada depois disso, uma vez que Fórmula 1 admite levar o campeonato até o início de 2021, se preciso, e teria que correr em países que não são castigados pelo inverno rigoroso neste período.