Fórmula 1 faz 70 anos de olho em volta ao passado para enfrentar crise
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A Fórmula 1 está fazendo 70 anos oficialmente nesta quarta-feira (13), data do primeiro GP de 1950, disputado na pista de Silverstone, na Inglaterra. Mas, ao invés de comemorar, a categoria busca soluções para garantir a sobrevivência das equipes e do campeonato em si depois da pandemia do novo coronavírus. Olhar para sua história e voltar a liberar a venda de carros entre as equipes tem se tornado uma opção interessante.
A situação financeira da F-1 não é nada confortável. Por conta da Covid-19, a temporada sequer começou e a Liberty Media, que detém os direitos comerciais, já contabilizou prejuízo de 200 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2020. A expectativa é que o campeonato se inicie dia 5 de julho mas, como não deve haver público pelo menos nas primeiras provas, isso significa ainda mais gastos.
Nos próximos dias, os times votarão novos limites para o teto de gastos, cuja adoção foi antecipada para o ano que vem como uma das muitas consequências da pandemia. A ideia é que cada equipe possa investir, no máximo US$ 145 milhões em 2021, excluindo-se daqui salários dos pilotos e dos três funcionários mais bem pagos, além da receita de marketing. O teto cairia para 140 milhões em 2022, 135 em 2023 e depois seria revisto novamente. Trata-se de um passo importante, mas que só impactaria seriamente três equipes do grid: Mercedes, Red Bull e Ferrari, que vêm gastando mais de US$ 400 milhões por ano. Ou seja, não é suficiente para garantir que as equipes menores vão resistir.
É aí que vale a pena olhar para o passado. Uma solução que vem sendo discutida há anos é a liberação de equipes-cliente. Isso não é uma novidade: foi comum nas primeiras décadas da F-1 e fundamental para o crescimento da categoria em uma Europa que se reconstruía no pós-guerra.
Nas últimas décadas, contudo, a F-1 se tornou uma categoria verdadeiramente mundial, lucrou com dinheiro de marketing e de direitos de TV, e decidiu focar em ser um campeonato cuja regra central é que cada equipe construa seu próprio carro. Mas esse modelo vem dando claros sinais de que chegou ao limite.
Depois da crise financeira de 2008, a F-1 perdeu metade das montadoras que tinha e o orçamento conjunto das equipes nunca voltou ao que se gastava quando Honda, Toyota e BMW tinham suas equipes de fábrica, além de Renault, Ferrari e da Mercedes como fornecedora de motores. Da crise para cá, só a Honda voltou, e não havia sinais, mesmo antes da pandemia, de que outras montadoras seguiriam os japoneses. Agora, há o risco, inclusive, de que Renault e Mercedes revejam o nível de investimento na categoria.
Nesse meio tempo, a única equipe que surgiu e sobreviveu foi a Haas, que usou a flexibilização das regras e comprou parte do carro pronto da Ferrari para entrar no grid em 2016. Isso é um sinal claro de que este tipo de modelo de negócio é o único sustentável. Isso, pré-pandemia. Com a economia mundial encolhendo, o mais óbvio é dar outro passo nesse caminho, e liberar a compra do carro inteiro.
É sabendo destas discussões que o próprio Ross Brawn, diretor-técnico da F-1, disse recentemente que há novas equipes interessadas em entrar no campeonato septuagenário em 2022. Uma delas seria a Panthera Team Asia, com base em Silverstone.
Em sua coluna no site da Red Bul, Christian Horner deixou claro de que lado está. "Apoio totalmente a necessidade de reduzir gastos e assegurar que as dez equipes atuais permaneçam no esporte. Mas há várias maneiras de chegar nessa meta, não apenas diminuir o teto de gastos. Especialmente com a crise atual, eu estaria completamente aberto a vender nossos carros na última corrida deste ano. Realmente acredito que as equipes-clientes ajudariam no curto prazo e devem ser levadas a sério."
A medida deve encontrar resistência de times como a McLaren e a Williams, que investem no desenvolvimento de seus carros e não têm o apoio de montadoras. Mas pode ser a única solução plausível para a F1 pós-pandemia, como foi para a categoria ser criada no pós-guerra.
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