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Vettel queria igualar Schumacher. Mas sai da Ferrari com imagem arranhada

Vettel é o terceiro maior vencedor da história da Ferrari, com 14 vitórias - Andy Wong/AP
Vettel é o terceiro maior vencedor da história da Ferrari, com 14 vitórias Imagem: Andy Wong/AP

Colunista do UOL

13/05/2020 04h00

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Sebastian Vettel chegou à Ferrari em 2015 como o tetracampeão que sonhava em fazer a "Scuderia" voltar a conquistar títulos, assim como seu ídolo e compatriota Michael Schumacher. E sairá ao final desta temporada muito provavelmente com os mesmos quatro títulos, e com a imagem arranhada depois de uma série de erros.

O alemão foi contratado em 2014 em um movimento surpreendente que envolveu a quebra do contrato da então estrela ferrarista Fernando Alonso. Cinco anos depois, Vettel e a escuderia não chegaram a um acordo sobre a renovação e o piloto deixará o time no final do ano depois de ter perdido espaço para Charles Leclerc internamente.

Mas o que deu errado no casamento Vettel e Ferrari?

Contratação de Vettel surpreendeu em 2014

Quando assinou com a equipe, Vettel era o campeão vigente, mas já vinha em um ano difícil na Red Bull, sendo batido pelo companheiro Daniel Ricciardo. O regulamento tinha passado por grandes mudanças entre 2013 e 2014 e o alemão teve dificuldades para se adaptar. Além disso, tinha visto a Mercedes aparecer como grande força especialmente pela vantagem que conseguiu com o motor. Mesmo assim, a ida de Vettel para a Ferrari naquele momento surpreendeu, já que era o pior ano da escuderia desde antes da era Schumacher: o time não passou do quarto lugar no mundial de construtores em 2014.

Ferrari parecia renascer nas mãos de Vettel em 2015

Ao assinar com Vettel, a chefia da Ferrari deu a entender que a pressão exercida por Fernando Alonso era negativa para o time. O espanhol chegou perto do título em duas oportunidades, mesmo não tendo carro no nível do próprio Vettel, mas sua atuação fora das pistas pesava negativamente na avaliação da equipe. Quando Vettel ganhou logo sua segunda corrida pela Ferrari, na Malásia, e em outras duas oportunidades em 2015, ajudando o time a pular de quarto para segundo no campeonato, a impressão era de que a mudança de ares começava a funcionar.

Desenvolvimento ferrarista 'emperra' em 2016

No segundo ano de Vettel na Ferrari, os resultados começaram positivos no início do ano - o time fez seis pódios nas cinco primeiras provas - mas o desenvolvimento do carro não foi tão forte ao longo do ano, algo que já vinha acontecendo nos anos de Alonso na escuderia. Embora continuasse demonstrando sua confiança na melhora do rendimento, na pista, Vettel começou a dar os primeiros sinais de perda de controle. Um episódio que marcou o ano foi quando ele xingou o diretor de provas Charlie Whiting por não ter punido Max Verstappen após toque entre os dois no GP do México.

A Ferrari deu salto em 2017. Mas o time e Vettel erraram

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Houve duas mudanças fundamentais no regulamento para 2017 que ajudaram a Ferrari a tirar a desvantagem que tinha em relação à Mercedes: o desenvolvimento dos motores passou a ser ilimitado e carros mais largos e velozes foram implementados. Vettel começou o ano com vitória na Austrália e a Ferrari, de fato, se aproximou. Mas tanto ele, quanto o time, cometeram erros: em mais um episódio em que perdeu a cabeça, Vettel jogou o carro em cima de Hamilton no Azerbaijão, e depois sofreu com problemas técnicos na Malásia e no Japão.

Erros do tetracampeão aumentaram em 2018

Vettel erro - Jens Meyer/AP - Jens Meyer/AP
Imagem: Jens Meyer/AP

O carro e o motor da Ferrari continuaram a evoluir em 2018, a ponto do time italiano ter o conjunto a ser batido na primeira parte do ano. Mas Vettel parecia não ter tanta confiança andando no meio do pelotão quanto demonstrava quando conseguia dominar o ritmo liderando na época de Red Bull, e cometeu vários erros: chocou-se com Bottas na França, com Hamilton na Itália, com Verstappen no Japão. E escapou sozinho na liderança do GP da Alemanha nas voltas finais, entregando a corrida de bandeja para Hamilton. A Ferrari não fez um campeonato perfeito, mas os erros sucessivos começaram a gerar grande pressão da imprensa italiana. Acreditando que a equipe precisava de sangue novo, o presidente Sergio Marchionne fechou contrato com o jovem Charles Leclerc, da Academia da Ferrari. Marchionne acabou falecendo no meio do ano, mas o time honrou o contrato e demitiu Kimi Raikkonen.

Vettel perde espaço na Ferrari para Leclerc em 2019

A segunda corrida da temporada 2019 foi emblemática: Leclerc fez a pole, ignorou uma ordem de equipe para não brigar com Vettel, o ultrapassou e ganharia a prova não fosse um problema no motor. A vitória poderia ter caído no colo do alemão, mas ele rodou numa disputa com Lewis Hamilton. Ao contrário de 2018, a Ferrari tinha um carro cujo rendimento variava muito dependendo da pista, e por isso ficou longe de disputar o título com a Mercedes.

Mas as dificuldades com o comportamento do carro e as boas performances de Leclerc não ajudavam a situação de Vettel, constantemente questionado pela mídia italiana especialmente quando o monegasco venceu em Monza, na casa da Ferrari, em outra tarde desastrada de Vettel. O rendimento do alemão melhorou no final do ano, mas uma colisão com Leclerc no GP do Brasil, que tirou os dois da corrida, não ajudou a apagar os problemas da temporada.

Ao final do ano, Leclerc renovou seu contrato até o fim de 2024, deixando claro que a situação interna de Vettel tinha mudado.

Nem o coronavírus adia fim das negociações de renovação

O chefe da Ferrari, Mattia Binotto, começou o ano dizendo que renovar com Vettel era a prioridade, mas as condições oferecidas eram bem diferentes da última renovação. Ao invés de 120 milhões de dólares por três anos, a oferta era de renovar por apenas uma temporada e com uma redução salarial, o que só deixava claro o quanto Leclerc havia ganho politicamente dentro da equipe em apenas um ano. A expectativa antes do coronavírus adiar o início da temporada era que uma decisão seria tomada até o GP de Mônaco, no final de maio, mas acabou vindo antes disso.

Não demorou para as especulações sobre o futuro de Vettel e de sua vaga na Ferrari começarem, especialmente porque 14 pilotos estão sem contrato para a próxima temporada. O movimento de Vettel pode fazer com que a temporada da F1, que está marcada para começar dia 5 de julho, se inicie mais movimentada fora do que dentro das pistas.